«É preciso revolucionar o Atletismo, apostar em jovens» – Entrevista BnR com Mariana Machado

Em terras minhotas – especificamente, em Braga, no Estádio 1.º de Maio – encontrámos a atleta que está a dar a reviravolta na História do Atletismo Nacional. De apenas 19 anos, Mariana Machado dá-nos a conhecer um pouco da sua história, do seu percurso no desporto, da sua vida académica e da importância que o Atletismo tem tido em Portugal.

– O início da viagem ao mundo do Atletismo e a «herança» na Modalidade –

«Fui apurada ao [corta-mato] nacional, e, como adorei a experiência, comecei a treinar mais. A partir daí, fiquei encantada por este mundo».

BnR: Em primeiro lugar, gostaríamos de começar por uma curta viagem ao passado. Como é que descobriste a modalidade?

Mariana Machado: Na verdade, a modalidade de Atletismo sempre esteve muito presente na minha vida, porque a minha mãe foi atleta olímpica e sempre me incutiu o hábito pelo desporto. É óbvio que, o facto de a minha mãe ter praticado Atletismo, sempre me foi incutido, tanto pela minha família, mas também pelas pessoas que conheciam a minha mãe, que diziam «também vais correr como a tua mãe», e, assim, as pessoas «de fora» acrescentavam sempre uma pequena pressão. Por isso, penso que foi por aí que o Atletismo surgiu.

BnR: Quando é que começaste a praticar?

Mariana Machado: Comecei a praticar Atletismo um pouco tarde, com 14 anos, se não me engano. Porque, inicialmente, no meu quinto ano, eu queria praticar, mas a minha mãe achava que era uma vida de muitos sacrifícios, e muito treino, e achava que eu ainda era muito nova. Só no nono ano, é que muitas pessoas me tentaram trazer para o Atletismo, inclusive a minha treinadora, Sameiro Araújo, que na altura era treinadora da Bárbara, e também houve um professor meu de educação física que me convenceu a entrar num corta-mato escolar. Fui apurada ao [corta-mato] nacional, e, como adorei a experiência, comecei a treinar mais. A partir daí, fiquei encantada por este mundo, basicamente.

Mariana Machado, ao lado da sua treinadora, Sameiro Araújo, no campeonato da Europa de Cross-Country, em 2018
Fonte: SC Braga Atletismo

BnR: Consegues definir um pequeno momento em que te apercebeste que o Atletismo era realmente a modalidade certa para ti (por exemplo, uma prova, um treino, entre outros)?

Mariana Machado: Essa prova, que foi a minha primeira competição a nível nacional, que o meu professor me convenceu a ir – o [corta-mato] regional, e depois do regional passar ao nacional, que se realizou na Guarda – acho que foi onde me apercebi que poderia chegar mais longe. Pode ter sido um décimo lugar completamente insignificante, mas, para mim, teve bastante valor, e fez-me consciencializar da decisão de entrar mesmo a sério no mundo do Atletismo. Foi um décimo lugar que conquistei sem sequer treinar para o Atletismo, e aí percebi que isto é um bocado de talento e genética que tenho em mim. Essa prova marcou-me muito, porque, para mim, foi descobrir um mundo novo, algo que foi como «amor à primeira vista». Nesse ano, ganhei a minha primeira medalha a nível nacional, fui vice-campeã aqui [Estádio 1.º de Maio], e, a partir daí, consegui alcançar coisas cada vez maiores, a ambicionar cada vez mais, e, quando é assim, uma pessoa já não quer parar e quer conquistar ainda mais, e ganhar.

BnR: Poderias ter considerado qualquer uma das outras disciplinas do Atletismo, mas optaste pela corrida. Queres-nos explicar um pouco mais sobre esta escolha?

Mariana Machado: A verdade é que eu não tenho jeito para mais nada, sinceramente (risos). No primeiro ano que comecei a praticar Atletismo com a Sameiro, ainda fiz provas combinadas – uma competição que engloba lançamentos, salto em comprimento e em altura, velocidade, barreiras – e ainda fui terceira a nível regional, mas desde cedo me apercebi que só me conseguia destacar nas provas de corridas, e mais longas, principalmente do meio fundo e o fundo. Gostava de fazer um bocadinho de tudo, mas tinha um pequeno «ódio» a fazer barreiras. Mas desde cedo que a minha genética me levou a corrida contínua, e meio fundo/fundo.

BnR: Falando de Atletismo propriamente dito, tens feito competições por 800m, 1500m, 3000m e corta-mato. Das quatro, qual é a disciplina em que te sentes mais à vontade?

Mariana Machado: A que eu me sinto mais à vontade… É difícil. 800m não é de certeza (risos), porque os 800m é uma prova muito dura, e para o qual eu não tenho caraterísticas muito boas. É uma prova incrível de ver, das minhas favoritas no Atletismo, mas não tenho o perfil indicado para a fazer [800m], mas faço – ainda este ano bati o meu recorde pessoal – mas mais numa forma de me preparar para os 1500m, que penso que é a minha melhor prova, e é das que gosto mais, porque não é uma prova muito rápida como os 800m, nem tão demorada como os 3000m. O corta-mato também tem um gostinho muito especial. São duas provas [1500m e corta-mato] muito diferentes – uma é em cross, outra é em pista – e, o corta-mato, é sempre diferente. Nunca encontrámos um corta-mato igual ao outro, e gosto imenso dessa diversidade. E acho que é no cross [corta-mato] que se vê a garra do atleta. Quem tiver mais garra, é o candidato a vencer. No início do ano, fiz corta-matos, fui ao Europeu de Cross-Country, e agora vou voltar a focar-me nos 1500m. Mas são as minhas duas disciplinas de eleição.

BnR: És filha da antiga atleta olímpica de Atletismo, Albertina Machado, e um verdadeiro exemplo de que “filho de peixe sabe nadar”. Essa influência familiar também foi uma das razões que te levou à escolha da modalidade?

Mariana Machado: Sim, claro. O facto de a minha mãe ter sido atleta, é óbvio que me incutiu o hábito pelo desporto. Mas nunca me forçou a nada, muito pelo contrário, no início até era ela que nem queria muito. Mas, desde que eu me decidi, e comecei a mostrar resultados na modalidade [corta-mato], ela também ficou contente por eu me estar a sobressair num desporto que ela tanto adora. E é sempre muito curioso esse provérbio [filho de peixe sabe nadar], e as pessoas, muitas vezes, associam, e eu também acredito que haja uma componente genética. Mas acho que foi sobretudo uma decisão minha, e o facto de eu ser muito ambiciosa, e muito persistente, que me levou a continuar na modalidade. Ter a minha mãe como suporte ajuda bastante, e é sempre bom ter em casa alguém que possa aconselhar neste aspeto.

Mariana Machado com a sua mãe e ex-atleta olímpica, Albertina Machado
Fonte: Câmara Municipal de Braga

BnR: Para além da tua mãe, Albertina Machado, quem é que também consideras que é uma influência e uma “inspiração” para fazeres o que fazes?

Mariana Machado: Várias pessoas me perguntam se eu tenho ídolos ou inspirações. Eu inspiro-me nas pequenas pessoas, nos atletas com os quais eu trabalho diariamente. Claro que vejo resultados de atletas internacionais, e fico abismada: «Como é que é possível correrem assim?». Mas eu não sei qual é o trabalho que está por detrás disso. Por exemplo, no meu grupo de treino, eu vejo o quanto eles trabalham e se esforçam diariamente, e acho que é nessas pessoas que eu me inspiro. As pessoas que eu consigo ver realmente o seu esforço, trabalho e dedicação. No Atletismo, tenho como inspiração a minha mãe, claro, porque é uma pessoa com quem eu lido diariamente, e acompanho o seu esforço diário.

BnR: Alguma vez sentiste uma pressão acrescida por todo este histórico familiar que carregas, na modalidade?

Mariana Machado: Claro, há sempre uma pequena pressão. Mas, para ser sincera, nunca fui uma rapariga de ceder à pressão. Sempre lidei bem com ela [pressão], e nunca fiquei nervosa pelo facto de ser filha da Albertina, e das pessoas ficarem de olhos postos em mim por isso. Quando vou para uma competição internacional, sei do trabalho que tenho feito. Tenho consciência de que, se estou lá, é porque estou bem preparada, e só tenho que estar confiante do trabalho que realizei, e, só penso que o trabalho que tenho tido seja recompensado nas próximas provas. Acho que, quando trabalhamos bem, só tem tudo para os resultados correrem o melhor possível, e o melhor ainda está para vir.

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Natural de Monção, a Angelina é Licenciada em Relações Internacionais e, Mestre em Economia Social pela Universidade do Minho. Vê o desporto como um dos bons lados da vida, que forma uma boa parceria com a escrita e o jornalismo. O seu interesse pelo desporto surgiu cedo, tendo como principal área de interesse o Futebol, o Ténis e a Fórmula 1.

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