Todos nós que somos amantes do desporto-rei em algum momento da nossa vida passamos os nossos sonhos desportivos para a realidade virtual através do Football Manager, mas poucos terão pensado em todo o processo que está por detrás da deteção do talento e da seleção de atributos dadas aos jogadores neste jogo. O Bola na Rede falou com um dos principais responsáveis por esse processo, Bruno Gens Luís, que se confessa um apaixonado pelo futebol.
Bola na Rede [BNR]: Qual o teu percurso a nível académico? Já tencionavas trabalhar na área do desporto?
Bruno Gens Luís [BGL]: Sempre foi um sonho meu trabalhar na área do desporto. Quem me conhece sabe perfeitamente que a minha maior paixão é o futebol, mas infelizmente, devido a limitações físicas e consequente recomendação médica, fui-me afastando dele e embarquei noutra área, economia, na qual sou licenciado. Mas um dos meus objectivos futuros é o de fazer uma pós-graduação em gestão desportiva.
BnR: Como é que chegas a Chief Scout de Portugal para o Football Manager?
BGL: Para ser sincero, foi um processo rápido mas trabalhoso. Comecei como um simples crítico da base de dados, que compilava erros e falhas da base de dados portuguesa no fórum da SI. Devido à minha insistência, fui convidado para integrar a equipa portuguesa, onde assumi a coordenação do antigo CNS. Posteriormente assumi a coordenação da pesquisa dos PALOP e pouco depois fui convidado pelo antigo coordenador, José Chieira, para o substituir na coordenação da pesquisa portuguesa, conjuntamente com o Carlos Bessa. Parece uma subida vertiginosa, mas o meu dia-a-dia era acordar, trabalhar e dormir.
BnR: Consegues explicar, resumidamente, para que as pessoas tenham uma noção de todo este processo, a seleção dos atributos de cada jogador e como conseguem obter um nível de fiabilidade elevado mesmo que sejam de equipas pouco conhecidas?
BGL: Cada jogador é avaliado em dezenas de atributos, desde mentais a técnicos e físicos, com uma influência distinta para as diferentes posições no terreno. Tentamos fazer uma avaliação valorativa do jogador tendo em consideração o seu comportamento nos diferentes momentos do jogo. É algo complexo mas a fiabilidade consegue-se através da especialização de uma pessoa numa determinada equipa. A quantos mais jogos assiste dessa equipa, mais precisa será a avaliação dos seus jogadores.
BnR: Consideras a base de dados portuguesa uma das melhores do Football Manager? Achas que estamos a trabalhar bem nesse sentido em comparação com outros países?
BGL: Modéstia à parte, sim, acho que é uma das melhores e mais fiáveis base de dados do Football Manager, mas obviamente erramos e temos falhas como todos; a observação não é uma ciência exacta. Ajuda ter uma grande legião de fãs e a divulgação do jogo em Portugal: devido a isto há mais pessoas a querer colaborar comparativamente com outros países, onde o jogo é pouco conhecido (como por exemplo a Argentina).
BnR: A equipa de observação para o Football Manager é composta por quantas pessoas? São todos voluntários?
BGL: Todos voluntários, logo há sempre pessoas a entrar e sair. Por norma, a equipa portuguesa é composta por cerca de 50 pessoas, mas ao longo do ano chegam a ser por volta de 80 pessoas.
BmR: Já te aconteceu seres contactado por clubes para aconselhamento na contratação de jogadores?
BGL: Sim, cada vez mais, especialmente de divisões inferiores, mas já fui contactado por clubes profissionais, incluindo os “grandes”. Chegou a um ponto em que eram tantas equipas/agentes/treinadores/directores que tive de dizer basta. Tempo e conhecimento são dinheiro e o scouting continua a ser desvalorizado por muita gente ligada ao futebol, por isso continuam a aparecer em Portugal aqueles jogadores sem qualidade alguma, colocados pelos agentes, impedindo assim a progressão de jovens talentos de divisões inferiores.
BnR: Ficas “orgulhoso” quando um jogador que foi sinalizado pela equipa de observação do Football Manager singra no futebol real?
BGL: Obviamente, tal como qualquer observador fica contente quando um jogador recomendado por si singra na sua equipa e proporciona troféus e/ou uma avultada transferência que enche os cofres da sua equipa.
BnR: Consegues dar um exemplo específico de um jogador cujo talento tenha sido detectado primeiramente no Football Manager e mais tarde se tenha tornado num jogador de qualidade consensual?
BGL: Podia dar centenas de exemplos, mas os que mais me marcaram talvez sejam o Saviola, o Iniesta e o Rooney, que com 16 anos (ou menos?) eram craques no jogo. Com certeza que há outros exemplos, como o Kompany ou o Verratti, mas estes marcaram-me porque os contratava sempre para as minhas equipas.
BnR: Como é que reages às críticas muitas vezes feitas pelos fãs do jogo em relação a existir um favorecimento a determinada equipa nos atributos após todo o trabalho feito na construção da base de dados?
BGL: As avaliações são subjectivas; logo, é normal que cada pessoa tenha a sua própria opinião sobre determinado jogador. É possível ver-se bem quem são as pessoas com “clubite aguda” e quem realmente quer ajudar a melhorar a base de dados. Todas as críticas são bem vindas e analisadas por nós.