França | Kanté e mais 10

    Para fechar as contas da primeira jornada do Grupo D, Áustria e França encontraram-se em Düsseldorf com a passagem em mira. Franceses tiveram sucesso recente no Campeonato do Mundo, mas a Europa tem fugido desde 2000, enquanto austríacos renasceram com Ralf Rangnick ao comando e querem ser a grande sensação do torneio.

    Num grupo com Países Baixos e Polónia, os pontos vão sair caros e todos os jogos contam, mas havendo terceiros classificados a apurarem-se para a próxima fase, nada fica resolvido nesta altura.

    Nenhuma equipa apresentou grandes surpresas nos onzes iniciais. A França viu o regresso (e que regresso) de N’Golo Kanté e logo para a titularidade, muito por causa dos problemas físicos a que Tchouaméni tem sido sujeito, Koundé foi escolhido no “duelo” com Pavard e Clauss, e Saliba foi finalmente escolhido à frente de Konaté.

    A grande temporada de Marcus Thuram em Milão valeu a confiança de Deschamps que deixou o crónico Giroud no banco, o que significa uma mudança muito interessante no movimento defensivo de Kylian Mbappé. Ao contrário do que acontecia com o novo avançado do LAFC, Mbappé não fecha à esquerda, deixando essa função para Thuram, “escondendo-se” na frente, onde não tem tanta responsabilidade de acompanhar o lateral contrário, mantendo-se próximo da baliza oposta.

    Já a Aústria jogou no seu habitual 1-4-4-2 (1-4-5-1 mais tarde no jogo) sem a sua grande figura, David Alaba, mas com foco na pressão e na disponibilidade física dos quatro médios (Grillitsch, Seiwald, Laimer e Sabitzer). A ausência de Alexander Schlager por lesão, obrigou Rangnick a apostar em Patrick Pentz (apenas sete internacionalizações pela Áustria) e Arnautovic também não começou de início, vendo Gregoritsch a linhar na sua posição.

    Falando daquilo que foi o jogo, confirmou-se que a Áustria é para ser levada a sério, tendo uma identidade clara e funções definidas para todas as posições. Embora não haja uma estrela declarada, há jogadores de elevada qualidade em todos os setores que, para além de aparentarem bons indicadores técnicos e táticos, demonstram compromisso com a ideia e o treinador.

    A França teve algumas boas oportunidades, inclusive uma clamorosamente falhada por Mbappé, não tendo sido muitas, mas a Áustria também. Mais do que oportunidades de golo, os austríacos valeram pela eficácia da pressão e do jogo entrelinhas de Laimer, Sabitzer e, especialmente, Baumgartner, que foi o principal agitador da equipa vermelha.

    Do ponto de vista individual francês, realçam-se Kanté, que voltou em grande à seleção gaulesa com uma exibição digna de melhor em campo, Rabiot e Theo Hernández. Kanté provou que não foi ter passado a época na Arábia Saudita que o fez deixar de ser um jogador de classe mundial, sobretudo na recuperação à perda da bola e nos aspetos técnicos de marcação, desarme e condução. O médio da Juventus sente-se muito confortável na meia esquerda e é um “faz tudo”, fortíssimo no transporte de bola. Já Theo tem a ala esquerda toda para ele, com as inclinações de Mbappé e Thuram para o centro.

    Coletivamente, a França não varia muito daquilo que tem sido nos 12 anos da era Deschamps. Uma equipa defensivamente coesa, que privilegia o equilíbrio e o controlo do jogo (mesmo que seja sem bola). Não tem tabus e não é por ter jogadores com o estatuto de Griezmann, Dembélé ou Mbappé que não se importa de baixar no terreno, nem que seja para aproveitar o espaço nas costas da defesa – foi assim que surgiu o grande lance do jogo. Deixou algo a desejar neste primeiro encontro, talvez pelas altas expetativas, mas a Áustria é um adversário digno de vencer a qualquer equipa desta competição.

    Boa primeira amostra daquele que vai ser um dos grupos mais interessantes do Euro 2024.

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