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O RESCALDO
Portugal só se pode queixar de si próprio. O maior medo de muitos de nós – um empate “combinado” entre Alemanha e EUA – não se verificou, o que fez com que a selecção nacional dependesse apenas de si própria para alcançar os oitavos-de-final. A vitória alemã foi magra, é certo, mas Portugal deitou-se na cama que fez. A Alemanha alcançou o resultado que lhe competia. Mais do que a goleada sofrida no primeiro jogo, foi o empate contra os EUA que deitou praticamente tudo a perder.
Disputado à mesma hora do Portugal-Gana, o jogo entre alemães e norte-americanos teve poucos momentos bem jogados, pouca intensidade e pouca emoção. Na Alemanha, Joachim Löw substituiu Khedira e Götze por Podolski e Schweinsteiger em relação ao jogo com o Gana, continuando a apostar em dois centrais de raiz (Boateng e Höwedes) para fazer as laterais. Já Jürgen Klinsmann, seu ex-colega na selecção alemã e agora no comando dos EUA, optou por tirar Geoff Cameron e Alejandro Bedoya, titulares contra Portugal, e alinhar de início com Omar González e Brad Davis.
A Alemanha entrou forte e tentou instalar-se no meio-campo contrário, procurando resolver o jogo cedo, mas os EUA reagiram bem e reponderam aos primeiros 15 minutos de maior ascendente germânico com um remate perigosíssimo de Zusi. Este foi, de resto, o momento de maior interesse numa primeira parte monótona e disputada a um ritmo baixo. Por esta altura, os receios dos portugueses até apreciam ter alguma razão de ser: para além de não conseguirem, à excepção dos primeiros 15 minutos, encontrar os caminhos da baliza contrária, os alemães também pareciam não ter grande interesse em acelerar o jogo.
Ao intervalo, Löw quis munir a equipa com um ponta-de-lança de raiz que conferisse maior capacidade de finalização, fazendo entrar Klose para o lugar de Podolski. O avançado da Lazio igualou recentemente o brasileiro Ronaldo no topo dos melhores marcadores de sempre em Mundiais (15 golos) e procurava isolar-se na lista, garantindo um lugar ainda mais destacado na História do futebol. Klose esteve perto de o conseguir, ficando a milímetros de emendar de cabeça um cruzamento da esquerda, mas foi Müller quem adiantou a Alemanha no marcador: centro de Özil da direita, Mertesacker a cabecear e a permitir uma grande defesa a Howard; a bola, contudo, foi ter com Thomas Müller, que finalizou de primeira à entrada da área.
Depois disso, cedo se percebeu que o jogo voltava à mesma toada lenta e desinteressante, agora com os alemães já mais confortáveis na liderança do grupo. No outro jogo, quase ao mesmo tempo do golo de Müller, a selecção portuguesa permitia o empate ao Gana e praticamente dizia adeus ao Mundial (os ganeses ainda assustaram os EUA porque, caso fizessem o 2-1, passavam para segundo no grupo). Até final pouco mais há a registar, à excepção de uma das melhores oportunidades dos EUA. Já no período de descontos, após um rápido contra-ataque, Jones (mais uma boa exibição do homem que marcou um dos golos a Portugal) serviu Dempsey mas este permitiu um corte enorme de Phillip Lahm. Na sequência desse lance, o mesmo Dempsey esteve de novo perto do golo.
O resultado, contudo, não se alterou: vitória alemã por 1-0 que, conjugada com o 2-1 com que Portugal bateu o Gana, apurou as duas equipas que actuaram em Recife e eliminou as que se defrontaram na capital Brasília. Mesmo jogando a meio-gás contra os EUA e cedendo um empate contra o Gana, a Alemanha tem poderio de sobra para se assumir como uma das principais candidatas ao título mundial. Já os EUA mostraram que o seu futebol prossegue em rápida e contínua ascensão e, depois da vitória improvável em 2002, levaram mais uma vez melhor sobre Portugal. Mesmo perdendo o último jogo, festejaram o apuramento. Não serão favoritos contra a Bélgica, mas terão certamente uma palavra a dizer.
A Figura:
Thomas Müller – num jogo sem grandes motivos de interesse a não ser a curiosidade acerca do resultado, o avançado alemão desferiu um grande remate de primeira e apontou o seu quarto golo na prova, igualando Messi e Neymar. Só por isso já merecia a distinção. Aos 24 anos, Müller já contabiliza nove golos em Mundiais. Notável!
O Fora-de-Jogo:
Qualidade de jogo – A Alemanha cumpriu os serviços mínimos e não pareceu muito interessada em aumentar a vantagem. O mesmo se pode dizer dos EUA que, mesmo a perder, sabiam que tinham uma margem confortável face a Portugal na diferença de golos. O resultado foi uma partida pouco interessante de seguir. Fica a sensação de que Portugal podia ter seguido em frente sem grandes problemas mas, quando não se consegue ganhar a uns EUA abnegados mas algo limitados, pouco mais há a dizer a não ser aceitar o fracasso.