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O RESCALDO
Se há coisa que nos tem chegado a nós, europeus, durante este Mundial, é um futebol diferente. Mais destemido, dizem os defensores do meio copo cheio. Mais desorganizado, dirão os que preferem ver que o meio copo também está metade vazio. O resultado tem sido quase sempre futebol mais apelativo, imprevisível e com os conjuntos a equilibrarem-se entre si. Estamos todos felizes, ou quase todos… Todos menos os treinadores. Por isso, Low e Deschamps preparam-nos duas equipas pragmáticas, equilibradas e competitivas para o primeiro embate destes quartos de final. Cá está o nosso bem conhecido futebol europeu!
O jogo iniciou-se inclusive com algumas semelhanças na estrutura das equipas: 4x3x3 clássico de parte a parte, procura pela saída de jogo a partir de trás, trio forte no meio e muita dinâmica na linha mais adiantada. A diferença acabou por recair na estratégia sem bola visto que a Alemanha optou por uma entrada mais agressiva a evitar que os franceses conseguissem iniciar o jogo sem dificuldades. Por outro lado, a equipa de Benzema e companhia mostrou-se muito passiva e demasiado preocupada com as coberturas defensivas sempre que a posse estava do lado alemão e isso acabou por levar quase a um esquecimento da bola que deveria ser sempre uma referência a nível defensivo. O golo acabou por chegar no minuto 13 através de uma bola parada irrepreensivelmente executada por Kroos à qual Hummels respondeu muito bem batendo Varane nas alturas.
O jogo não mudou muito com o golo e manteve-se bastante equilibrado. A Alemanha e sobretudo Low souberam aprender com as dificuldades vividas com a Algéria e melhoraram nalguns aspectos em que tinham apresentado carências. A profundidade dos laterais foi melhorada com a passagem de Lahm para o corredor direito (saindo Mertesacker da equipa e passando Boateng para o meio) e o meio-campo também saiu reforçado com a entrada de Khedira que proporcionou a Kroos maior liberdade ofensiva que o craque alemão aproveitou da melhor forma. Já Didier Deschamps só conseguiu corrigir a apatia no momento sem bola da sua equipa ao intervalo, de onde os gauleses regressaram com uma outra atitude que proporcionou à Alemanha mais dificuldades. Matuidi soltou-se no meio e esse foi um pormenor importante no desenrolar do jogo. Valbuena, Griezmann e Benzema foram incomodando os defesas alemães mas, contra a corrente do jogo, até acabou por ser Schurlle (que entrou para o lugar de Klose) a ter a melhor oportunidade da segunda parte, mas desperdiçou-a com um remate frouxo. Do outro lado, ora Hummels – o melhor em campo, ora Neuer a negar o golo que forçaria o prolongamento.
No geral, uma vitória justa mas que também poderia ter sido perfeitamente um empate, face à reacção francesa no segundo tempo. A França sai da prova sem se poder queixar muito da sua prestação que acabou frente a uma das mais fortes candidatas ao título e a Alemanha segue para as meias mas sem deslumbrar. Brasil ou Colômbia estarão no seu caminho e, seja qual for, será um adversário bastante distinto do que foi a França.
A Figura
Hummels – Autor do golo alemão mas nem precisaria disso para ser apontado como o melhor em campo: autoritário desde o início ao fim, foi um autêntico pesadelo para Benzema nas várias vezes em que o francês parecia já ter conseguido desequilibrar. Até ao momento, candidato a melhor central do Mundial.
O Fora-de-Jogo
Pouco espectáculo – Não é justo exigir aos treinadores que sejam autores de um jogo desorganizado que favoreça os ataques em detrimento das defesas e, ainda mais, que satisfaça adeptos e não os próprios interesses. Mas não faltam na Europa exemplos de que é possível conjugar bom futebol com eficácia e, hoje, o encontro foi marcado por duas equipas com pragmatismo a mais… pelo menos para o que tem sido esta competição fantástica.