Revista do Mundial’2014 – Costa Rica

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16 jogos, 8 vitórias, 4 empates, 4 derrotas, 27 golos marcados e 12 sofridos. Foi este o registo da Costa Rica na fase de qualificação da CONCACAF, suficiente para a selecção se consagrar como a defesa menos batida da quarta fase de qualificação (os melhores emblemas daquela região do globo participam apenas nas duas últimas). Aproveitando o facto de terem encontrado uma débil selecção do México, os “Ticos” – uma das alcunhas da equipa costa-riquenha – carimbaram o apuramento directo a duas jornadas do fim.

Tendo participado pela primeira vez num Campeonato do Mundo em 1990 (oitavos-de-final, a sua melhor classificação), a Costa Rica fará a terceira aparição nos últimos 4 mundiais (2002, 2006 e este ano). Concluiu o apuramento no segundo posto com 18 pontos, a quatro dos EUA e com um de vantagem sobre as Honduras. Ao longo da caminhada para o Brasil, os resultados mais sonantes foram as vitórias caseiras contra os EUA e contra o México (3-1 e 2-1, respectivamente). Actualmente, a “tricolor” ocupa o 34º posto no ranking da FIFA.

O país

A Costa Rica é uma das nações mais estáveis e desenvolvidas da América Latina. O país fica localizado entre a Nicarágua e o Panamá, numa zona particularmente montanhosa e florestada. Tem cerca de 4,5 milhões de habitantes e a sua capital é San José. Independente face a Espanha desde 1821, a Costa Rica possui uma democracia parlamentar consolidada desde há largas décadas, realidade apenas importunada pela curta ditadura de Federico Tinoco (1917-19) e pela guerra civil de 1948. Findo esse raro conflito, a Constituição determinou o fim das Forças Armadas nacionais, fazendo da Costa Rica um dos poucos países sem exército a nível mundial. Até Maio passado, a presidência estava a cargo de uma mulher.

Pontos de contacto com Portugal

Há três: são eles Randolph Galloway, Guilherme Farinha e os Jogos Olímpicos de 2004. O treinador inglês foi seleccionador da Costa Rica por breves momentos em 1946, passando mais tarde pelo Sporting (onde conquistou o tri-campeonato entre 1951 e 1953) e pelo V. Guimarães; Farinha é um treinador português radicado na Costa Rica, onde treina o Carmelita, tendo também conquistado o bi-campeonato com o Alajuelense; por último, nas Olimpíadas de Atenas, as selecções sub-23 portuguesa e costa-riquenha defrontaram-se na fase de grupos, jogo que resultou num incrível 4-2 favorável aos americanos. Umaña, Junior Díaz (do lado costa-riquenho), Bruno Alves, Ricardo Costa, Raul Meireles, Hugo Almeida e Cristiano Ronaldo (por Portugal) são os atletas comuns às selecções de 2004 e de agora.

Expectativa para o Mundial

Sejamos sinceros: de entre as 32 finalistas, a Costa Rica é, muito provavelmente, a selecção com menos hipóteses de passar a fase de grupos. Não só devido ao leque limitado de opções à disposição do seleccionador, mas também pelo facto de ter tido o azar de calhar no chamado “grupo da morte”. Os “Ticos” irão defrontar, por esta ordem, o Uruguai, a Itália e a Inglaterra – três selecções campeãs do Mundo que se mantêm muito fortes e que têm legítimas aspirações de chegar longe na prova. Ainda assim, se tivesse de apostar, diria que os dois adversários contra quem a Costa Rica pode conseguir pontos (mas nunca a vitória…) são a Itália e a Inglaterra, embora seja muito complicado. E o facto de Álvaro Saborío, o melhor marcador na fase de qualificação (8 golos), ter contraído uma lesão que o afastará do Brasil também não ajuda.

Mas a ausência do defesa-esquerdo do Everton Bryan Oviedo, igualmente por lesão, é a que mais preocupa. O dinâmico lateral poderia emprestar à equipa a qualidade e a experiência de futebol europeu – características que, desta forma, são da responsabilidade de jogadores como o guarda-redes Keylor Navas (Levante), o lateral-esquerdo Junior Díaz (Mainz), o médio Christian Bolaños (Copenhaga), o avançado Joel Campbell (Olympiakos) ou o craque Bryan Ruiz (PSV). No futebol não costuma haver certezas, mas neste grupo D há duas verdades (quase) absolutas: uma delas, incontornável, é que pelo menos uma das três selecções mais fortes irá soçobrar logo nos grupos; a outra, praticamente certa, é que a Costa Rica não conseguirá o apuramento para a fase seguinte. Contudo, os jogadores estarão conscientes das dificuldades e, mais do que ninguém, decerto também desejosos de que os jogos comecem, porque a oportunidade de disputar a competição mais importante do planeta não surge mais de um par de vezes na vida de um futebolista.

OS CONVOCADOS

Guarda-redes: Keylor Navas (Levante/ESP), Patrick Pemberton (Alajuelense/CRC) e Daniel Cambronero (Herediano/CRC)

Defesas: Johnny Acosta (Alajuelense/CRC), Giancarlo Gonzalez (Columbus Crew/EUA), Michael Umaña (Saprissa/CRC), Oscar Duarte (Club Brugge/BEL), Waylon Francis (Columbus Crew/EUA), Heiner Mora (Saprissa/CRC), Junior Diaz (Mainz 05/ALE), Cristian Gamboa (Rosenborg/NOR) e Roy Miller (New York Red Bulls/EUA)

Médios: Celso Borges (AIK/SUE), Christian Bolanõs (Copenhaga/DIN), Esteban Granados (Herediano/CRC), Michael Barrantes (Aalesund/NOR), Yeltsin Tejeda (Saprissa/CRC), Diego Calvo (Valerenga/NOR) e Jose Miguel Cubero (Herediano/CRC)

Avançados: Bryan Ruiz (PSV/HOL), Joel Campbell (Olympiakos/GRE), Randall Brenes (Cartaginés/CRC) e Marco Ureña (Kuban Krasnodar/RUS)

A ESTRELA

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Bryan Ruiz, estrela e capitão dos “Ticos”
Fonte: bryanruizcr.com

Poucos jogadores com 1,88m e um físico imponente tratam a bola como Bryan Ruiz. Em tempos associado ao Benfica e presente na lista de craques que Paulo Futre apresentou no célebre discurso da candidatura de Dias Ferreira à presidência do Sporting, o médio-atacante agora no PSV é, sem qualquer dúvida, o jogador em que os costa-riquenhos depositam mais esperanças. O seu futebol técnico, perfumado e esclarecido foi sendo aprimorado ao longo dos tempos, garantindo-lhe a presença no primeiro Mundial aos 28 anos. Na era pós-Paulo Wanchope (tido como o melhor futebolista que a Costa Rica alguma vez produziu), é Bryan Ruiz quem assume a batuta e dá substância às palavras partilhadas por um país inteiro, que estarão inscritas no autocarro da equipa: “A minha paixão é o futebol, a minha força é o meu povo, o meu orgulho é a Costa Rica”.

O TREINADOR

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Jorge Luis Pinto
Fonte: Zerozero

No comando da equipa desde 2011, Jorge Luis Pinto foi capaz, ao contrário do que tinha acontecido na sua primeira experiência enquanto seleccionador da Costa Rica (em 2004/2005, sem sucesso), de montar um grupo sólido e que conseguisse unir o país à sua volta. Aos 61 anos, o treinador colombiano, que falhou a qualificação para o Mundial 2010 com o seu país, tem em mãos aquela que será provavelmente a melhor geração de sempre de jogadores costa-riquenhos e também a que tem maior experiência europeia. Ainda assim, era difícil ter tido mais azar no sorteio do grupo. Para tentar contrariar a superioridade evidente dos adversários, Pinto precisará, antes de mais, de fazer duas coisas: corrigir a defesa de bolas paradas e tornar a equipa mais compacta, intensa e solidária, nomeadamente procedendo a uma aproximação dos sectores entre si quando não tem a posse da bola.

O ESQUEMA TÁTICO

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O seleccionador deve apostar num 3-4-2-1 que, na prática, se transformará num 5-2-2-1: os alas não deverão subir muito, ainda para mais tendo em conta a ausência de Oviedo (Junior Díaz, jogador de cariz mais defensivo, deverá ocupar o seu lugar). No entanto, se se apresentar sem um pivot defensivo declarado, a equipa pode perder algum equilíbrio no sector recuado e expor em demasia os frágeis centrais. É exactamente por isso que o jovem trinco Yeltsin Tejeda tem vindo a ganhar importância na “tricolor”, uma vez que tanto Christian Bolaños (também fez vários jogos no meio) como Celso Borges não costumam ajudar muito a defender. Aliás, a equipa mantém por norma uma distância considerável entre sectores, o que não facilita as coisas na hora de proteger a baliza. Por outro lado, um meio-campo com apenas dois homens na zona central permitirá à Costa Rica colocar mais opções no ataque – no fim de contas, sem golos marcados não há vitórias. Lá na frente, a irreverência de Joel Campbell (veloz e difícil de marcar, gosta de cair nas alas e de abrir espaço para os companheiros) poderá permitir as entradas de Bryan Ruiz e de Bolaños, ou até mesmo de Borges. A Costa Rica privilegiará certamente um modelo de contra-ataque.

O PONTO FORTE: FIABILIDADE ENTRE OS POSTES

Keylor Navas, o melhor guarda-redes da Liga Espanhola em 2013/2014 Fonte: Liga BBVA
Keylor Navas, o melhor guarda-redes da Liga Espanhola em 2013/2014
Fonte: Liga BBVA

Após duas temporadas em que praticamente não jogou, o guarda-redes do Levante Keylor Navas agarrou a oportunidade no início da época e foi escolhido pela Liga BBVA como o melhor guardião do campeonato espanhol, à frente de nomes como Victor Valdés, Thibaut Courtois ou Diego López. Um dos principais responsáveis pela época tranquila que a equipa valenciana realizou (10º lugar), Navas é possuidor de uma elasticidade e de uma bravura notáveis que o podem projectar para voos mais altos já no próximo período de transferências. Com a cotação em alta, o dono das redes costa-riquenhas também foi importante em vários jogos da fase de qualificação.

Nota também para Christian Bolaños (tecnicista e um dos jogadores mais esclarecidos), Bryan Ruiz (inteligência e virtuosismo de nível internacional) e Joel Campbell (esteve no Olympiakos por empréstimo do Arsenal e é a maior promessa da Costa Rica), que serão os homens mais adiantados e devem ser igualmente tidos em conta. É curioso constatar que os dois últimos teriam, muito provavelmente, lugar na frente de ataque da selecção portuguesa…

O PONTO FRACO: SOLIDEZ DO EIXO DEFENSIVO

Não obstante a qualidade na baliza, o sector mais recuado dos “Ticos” é a prova de como o futebol não é só estatística: apesar de ter sido o conjunto menos batido da última ronda da fase de qualificação (7 golos sofridos, menos um do que os EUA), a Costa Rica sempre denotou bastantes dificuldades em manter uma defesa sólida e organizada, nomeadamente nas bolas paradas. A falta de tarimba europeia dos defensores é uma realidade (jogam quase todos no campeonato local ou nos EUA), pelo que não é difícil adivinhar que o esquema com três centrais que Pinto montou tem como objectivo tentar disfarçar as debilidades no sector mais recuado. Resta saber se, mesmo a jogar em superioridade numérica face aos ataques, a defesa costa-riquenha vai conseguir manter a concentração exigida. Qualquer surpresa que esta selecção queira fazer no Brasil terá de sustentar-se numa retaguarda consistente, algo que parece não existir. E dificilmente Keylor Navas conseguirá defender tudo…

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João V. Sousa
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O João Sousa anseia pelo dia em que os sportinguistas materializem o orgulho que têm no ecletismo do clube numa afluência massiva às modalidades. Porque, segundo ele, elas são uma parte importantíssima da identidade do clube. Deseja ardentemente a construção de um pavilhão e defende a aposta nos futebolistas da casa, enquadrados por 2 ou 3 jogadores de nível internacional que permitam lutar por títulos. Bate-se por um Sporting sério, organizado e vencedor.                                                                                                                                                 O João não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.

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