Hamburgo | O gigante alemão adormecido

Fundado em junho de 1919 sob o desígnio actual, Hamburger Sport-Verein e.V., as suas origens remontam a 1887, ano de fundação de um dos seus predecessores, o SC Germania. Representando a segunda maior cidade germânica e uma das maiores áreas metropolitanas da Europa, o histórico de sucesso do Hamburgo tornou a equipa um dos maiores símbolos da região, com elevadíssimo reconhecimento internacional.

Em maio de 2018, o Hamburgo caiu para a segunda divisão alemã, e o relógio que contava 54 anos de permanência do clube na Bundesliga acabou por ser tirado das bancadas do Volksparkstadion, no verão de 2019. Segundo a direção, a remoção do ousado e simbólico cronómetro teve como objetivo quebrar uma ligação com o passado brilhante do clube e virar as agulhas para a preparação do futuro.

As épocas seguintes foram verdadeiras montanhas-russas de esperança e desilusão, com o “gigante do Norte” a ficar constantemente próximo da subida, mas sem nunca o lograr. Três quartos lugares consecutivos levaram os mais fanáticos ao desespero e mostraram que o regresso ao topo poderia ser demorado.

Em 2021/22, o Hamburgo conseguiu terminar a liga na terceira posição, com vantagem na diferença de golos face ao Darmstadt, garantindo assim a presença no play-off de acesso à Bundesliga. Depois de derrotar o Hertha pela margem mínima no Estádio Olímpico de Berlim, uma derrota em casa por 0-2 destruiu as aspirações do Hamburgo.

Na época seguinte, e apesar de ter passado 19 jornadas no top-2, a história repetiu-se, desta vez com derrota no play-off frente ao Estugarda, com um agregado de 6-2. Um episódio caricato aconteceu na última jornada do campeonato, quando chegou a haver invasão de campo por parte dos adeptos do Hamburgo, celebrando a subida, enquanto dois golos tardios do Heidenheim os relegavam para o terceiro lugar.

Na corrente época, com um estilo de jogo que dá primazia à posse de bola e à construção paciente, o Hamburgo tem utilizado maioritariamente o passe curto no processo ofensivo. Claramente tem resultado, já que a equipa tem o segundo ataque com mais rendimento da Bundesliga 2, com 34 golos apontados. Os tentos são bem distribuídos pelos protagonistas, com Davie Selke a somar oito à sua conta e Ransford-Yeboah Königsdörffer e Robert Glazer a registarem sete cada um.

O problema do histórico clube alemão reside na incapacidade de limitar as oportunidades criadas pelos adversários: a estatística de xGA (golos esperados do adversário) é a segunda pior do campeonato. Nos 18 encontros oficiais disputados na corrente época, o Hamburgo manteve a sua baliza inviolada por apenas duas ocasiões.

Campeões da Europa em 1983 e detentores de seis títulos da Bundesliga, três taças da Alemanha, duas Taças da Liga e uma Taça das Taças, o Hamburgo é quase unanimemente considerado o terceiro maior clube da história do futebol alemão, apenas superado por Borussia Dortmund e o inevitável Bayern. Os 20 anos sem qualquer troféu abalam ligeiramente esse estatuto, mas o evidente domínio do clube de Munique também não permite (para já) que outro emblema primodivisionário se apodere do “lugar no pódio”.

No fim de novembro, a rescisão com o técnico Steffen Baumgart (após cinco partidas consecutivas sem vencer) ditou o fim de mais um capítulo pouco conseguido na missão de devolver o clube ao principal escalão. Atualmente na oitava posição da Bundesliga 2, começa a adivinhar-se o sétimo falhanço consecutivo na luta pela promoção.

A lista de grandes jogadores com passagem pelo Volksparkstadion é extensa e inclui estrelas como Rafael Van der Vaart, Hakan Çalhanoglu, Son Heung-min e mesmo o “Kaiser” Franz Beckenbauer. Foi necessária uma eternidade para a equipa ser despromovida da Bundesliga pela primeira vez, mas, para os adeptos rothosen, as últimas sete épocas estarão a parecer uma eternidade ainda maior.

As médias de mais de 50000 espetadores por encontro, mesmo não estando na primeira divisão, demonstram a grandeza de um clube que vê agora os seus rivais Werder Bremen e St. Pauli no “andar de cima” da pirâmide do futebol germânico. Já vem tardio o regresso do Hamburgo à Bundesliga, algo que viria reacender rivalidades e aprimorar o espetáculo de uma das ligas mais competitivas do mundo.

João Pedro Santos
João Pedro Santos
Licenciado e mestre em Biotecnologia pela Universidade de Aveiro, é atualmente estudante do Programa Doutoral em Engenharia Química e Biológica da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto. Tendo a música e o desporto como grandes interesses, dedicou-se recentemente à escrita de artigos de opinião para o projeto Bola na Rede.

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