«Jorge Jesus abriu a porta para muitos profissionais de Portugal no Brasil» – Entrevista BnR com Sandro Orlandelli

– O regresso a casa –

«Na época, o Athletico veio de uma descida, e tínhamos ali, sem certezas, uns 74 jogadores»

BnR: Depois voltou ao Brasil, e trabalhou como diretor de futebol do Athletico Paranaense e do Santos, como viu essa mudança de funções?

Sandro Orlandelli: Foi uma experiência muito rica, traz-me muita segurança ao que faço hoje. Talvez nem existisse essa função de diretor, eu é que a estou a fazer agora, é muito mais um gestor, um administrador, do que um profissional técnico no mercado. Dentro de um cenário e de uma cultura, existe muita ansiedade na procura, já quiseram que decidisse se queria um jogador em cinco minutos. Na época, o Athletico veio de uma descida, e tínhamos ali, sem certezas, uns 74 jogadores. Impensável, eles vieram todos de clubes emprestados, então quando cheguei tínhamos essa quantidade de jogadores, o treinador era uruguaio e não tinha muita experiência no mercado, então ajudei-o a adaptar-se e ao mesmo tempo a reduzir o plantel. Eu devia ter julgado melhor a oportunidade, acabei muito mal interpretado, porque quando se quer iniciar processos, é preciso tempo, e o clube não estava preparado para isso. Hoje, é completamente diferente, o clube está mudado. Mas foi uma aprendizagem tremenda para mim, as pessoas que encontrei lá, o presidente é muito inteligente. No Santos foi diferente, eu procurei não nomear um cargo para mim, e fazer o meu trabalho por fora, e consegui organizar um departamento de scouting lá e desenvolvemos talentos também. O clube não estava bem financeiramente, como não esta até hoje, então tínhamos oportunidade de desenvolver os jogadores que vinham das categorias de base, e conseguimos, tivemos resultados com o Rodrygo, que está no Real Madrid, Thiago Maia…

BnR:No Santos, viu um Gabigol com 17 anos. Cumpriu todo o potencial que mostrava na altura?

Sandro Orlandelli: O Gabriel já estava no momento de transição a ir para a equipa profissional, bem jovem, mas com duas coisas marcantes: personalidade, em termos de confiança, com 16 anos extremamente confiante, a maturidade em termos de confiança que sempre teve, e o segundo, que é fundamental para um avançado, tinha instinto de golo. O apelido Gabigol, que parecia ser um gozo, faz realmente sentido, porque às vezes entrava na segunda parte, não contribuía nada para a equipa, mas se tinha duas oportunidades de golo, a primeira podia falhar, mas a segunda convertia.

BnR: Porque acha que ele não se adaptou na Europa, nomeadamente no Benfica e em Portugal, onde vemos muitos brasileiros a singrar?

Sandro Orlandelli: É uma questão da forma como se joga, é um nível diferente. O jogo pede um número de ações maior e, em média, para fazeres um golo, precisas de 16 a 30 ataques, 7 a 10 finalizações. O último Mundial já reduziu as finalizações, está a mostrar que os jogadores estão mais eficazes. E o segundo ponto é o número as ações com bola nas principais ligas europeias, falamos de 1000 ações com bola por equipa, em que 350 são com um toque na bola, 165 com dois toques, e o resto com mais. Ou seja, 55 por cento é um, dois toques na bola, “pum-pum”, e como há esta velocidade, o jogador tem de ser ambidestro. O Gabriel, no seu processo de formação, não foi ambidestro, ele é canhoto e se a bola for para o lado direito dele, ele recebe, ajeita e executa, o ritmo é esse: “recebe…ajeita…executa”, e na Europa é “pum-pum”. Ele tem de se adaptar a esse perfil, isso não é o Gabriel, ele é um jogador sul-americano. Um jogador tem de estar aberto a perceber isso. Se não percebe, não dá. Eu também quando cheguei à Europa, demorei um pouco a entender esse processo, e eu estava fora do campo, mas depois acabei por perceber que é o que realmente faz sentido, só que precisei de tempo. Então o Gabriel vai para Portugal, para um clube que joga Champions League, é óbvio que o treinador vai exigir isso dos jogadores, e se o jogador não se adapta a esse ritmo, não vai jogar, e acho que isso esteve no cerne de ele não jogar no Benfica, mas para o Brasil ele vai super bem.

Fonte: Instagram Sandro Orlandelli

BnR: Trabalhou também com a seleção brasileira. Qual era o seu papel?

Sandro Orlandelli: Foi outro processo. Viemos do Mundial com aquela derrota de 7-1 diante da Alemanha, então houve uma vontade de renovação e mudança. Não havia departamento de scouting na seleção brasileira, e o de análise e desempenho tinha uma visão conturbada, então eles decidiram investir muito nessa área e eu fui convidado para introduzir esse processo. Eu considero a minha passagem como uma ajuda na implementação de processos, eu sabia que não era a hora ainda de singrar naquela instituição.

Pedro Pinto Diniz
Pedro Pinto Dinizhttp://www.bolanarede.pt
O Pedro é um apaixonado por desporto. Em cada linha, procura transmitir toda a sua paixão pelo desporto-rei, o futebol, e por todos os aspetos que o envolvem. O Pedro tem o objetivo de se tornar jornalista desportivo e tem no Bola na Rede o seu primeiro passo para o sucesso.                                                                                                                                                 O Pedro escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.

Subscreve!

Artigos Populares

Francisco Conceição abdica de 6,4 milhões de euros para trocar FC Porto pela Juventus

Francisco Conceição vai abdicar de 20% do negócio para trocar o FC Porto pela Juventus. A transferência está perto de ser oficializada.

Panathinaikos de Rui Vitória acaba pré-época com vitória: «Terminámos com um belíssimo jogo»

O Panathinaikos de Rui Vitória terminou a pré-temporada com uma vitória. A equipa grega bateu o Westerlo por 3-1.

João Mendes perto de definir futuro: médio português a caminho da Turquia

João Mendes está em vias de definir o futuro. O médio português de 30 anos vai assinar pelo Kayserispor.

AS Roma faz nova oferta por Richard Ríos: eis o valor da proposta apresentada ao Palmeiras

A AS Roma fez nova oferta por Richard Ríos. O clube italiano ofereceu 27 milhões de euros, mais três milhões em bónus, ao Palmeiras.

PUB

Mais Artigos Populares

Já é conhecido o primeiro semifinalista do Euro 2025 Feminino: Houve drama

A Itália é a primeira seleção semifinalista do Euro 2025 Feminino. Venceram a Noruega por 2-1 com golo aos 90 minutos.

Há mais 2 equipas apuradas para a 2º pré-eliminatória da Champions League

A Champions League 2025/26 já arrancou. Primeiras fases preliminares estão em andamento e há novidades.

Adeptos do Sporting dirigem-se a Viktor Gyokeres? «Não choro por quem vai, fico feliz por quem está»

Adeptos do Sporting revelam tarja no jogo com o Celtic. Viktor Gyokeres está na porta de saída para rumar ao Arsenal.