
O FC Arouca juntou-se ao Vitória SC no grupo de equipas portuguesas eliminadas e o pesadelo parece mesmo não ter fim. À terceira edição, Portugal volta a não ter uma equipa na fase de grupos da Liga Conferência.
O Arouca ainda sonhou – após uma vitória em casa, pela margem mínima, por 2-1 -, contudo, 45 minutos bastaram para a esperança ir por água abaixo, tendo culminado numa derrota por 3-1 (4-3 no agregado).
Começando pelo jogo da primeira mão, esse, deu-me imenso gozo de assistir. Foi um jogo entre duas equipas bastante organizadas, com princípios de jogo bem assimilados e estudados, o que se traduziu num bom jogo de futebol e que, ainda por cima, culminou numa vitória categórica da formação arouquense por 2-1.
O Brann chegava a Portugal com maior ritmo competitivo, fruto de a sua temporada já ter começado há pouco mais de cinco meses, ainda que o clube fosse algo desconhecido em terras lusas. Chegaram à prova depois de vencer a Taça da Noruega enquanto militavam na segunda divisão do país. Um feito com uma equipa montada para voltar ao grande palco nacional.
Assim, relativamente ao jogo em si, viu-se um FC Arouca muito personalizado, apesar das várias saídas importantíssimas no belo trajeto realizado na temporada passada. São exemplos disso Armando Evangelista (treinador), João Basso (capitão e líder da defesa), Antony (extremo com um papel crucial nas dinâmicas ofensivas) e Alan Ruiz (o principal criativo), por exemplo.
Em relação à época passada, Daniel Ramos mudou o sistema para um 4-4-2 e houve mesmo momentos em que a equipa entusiasmou, principalmente através das suas bem alinhadas dinâmicas ofensivas. Os reforços Jason Remeseiro e Cristo González, juntamente com Rafa Mújica, foram “dores de cabeça” constantes para a defesa do Brann, tendo criado várias oportunidades de golo, só que faltou uma percentagem maior de eficácia para que o resultado pudesse ter sido mais avolumado, apesar dos dois golos marcados. Logo, o resultado acabou por ser curto para tudo aquilo que o ataque da equipa de Daniel Ramos produziu. ⠀
Foi assim que, até aos 60/65 minutos, o Arouca foi melhor. A partir daí, foi notória a diferença na fase da época das respetivas equipas. O Brann, que está praticamente a meio da sua temporada, superiorizou-se em termos físicos. A falta de frescura no meio-campo (David Simão teve uma queda de rendimento abrupta) levou o Arouca a perder o controlo do jogo. A última meia hora da partida transpareceu desconcentração em quase todos os setores. Vários passes algo fáceis foram perdidos e a pressão na construção ofensiva do Brann quase não existiu – prova disso foi o golo concedido.
Assim sendo, Ignacio De Arruabarrena (o guarda-redes uruguaio continua a grande nível) ainda conseguiu adiar por algumas ocasiões o golo do Brann, mas os noruegueses conseguiram reduzir a desvantagem aos 80 minutos num lance em que a defesa do Arouca é batida na profundidade… Havia, portanto, um otimismo crescente para a segunda mão na Noruega.
Contudo, os primeiros 45 minutos em terras nórdicas foram para esquecer. O emblema arouquense até assustou no arranque – Jerome Opoku esteve perto do golo logo ao minuto dois -, no entanto a equipa norueguesa subiu os níveis de intensidade e inaugurou o marcador na primeira grande oportunidade: Magnus, livre de marcação, cabeceou em cheio no poste e o ressalto acabou por cair nos pés de Felix Myhre que não deu hipóteses a De Arruabarrena.
Empatada a eliminatória e com os adeptos a seu lado, a turma nórdica foi para cima do Arouca, que se encolheu demasiado e pagou caro por isso. Assim, ao minuto 42, o Brann voltou a introduzir a bola na baliza do guardião arouquense.
Knutsen, de forma impressionante, subiu ao terceiro andar – alguma descoordenação da defensiva da equipa lusa – e faturou de cabeça, novamente sem hipóteses para o guardião uruguaio. Depois do golo, o Arouca mostrou-se abalado, desorientado e voltou a sofrer, desta feita numa transição. Bard Finne – no seio da pequena área – apareceu de rompante e, de cabeça, praticamente sentenciou as contas da partida (e da eliminatória).
No segundo tempo, o FC Arouca entrou mais agressivo e renasceu a esperança num lance algo fortuito, mas fruto de uma boa jogada coletiva: David Simão desbloqueou a jogada ao assistir Cristo que rapidamente colocou a bola em Sylla: a partir daqui, o médio-ofensivo, com espaço, disparou forte e contou com um desvio para colocar a bola na baliza de Dyngeland.

A partir daqui, Daniel Ramos mexeu – Puche e Pedro Santos entraram muito bem – e Cristo González esteve muito perto de fazer saltar as algumas dezenas de adeptos lusos nas bancadas de Brann. Depois de um cruzamento de Pedro Santos, Cristo ganhou a segunda bola e, na cara de Dyngeland, disparou em cheio na barra.
Até final, Rafa Mujica – algo desinspirado – foi dos que mais tentou, mas a melhor oportunidade esteve nos pés de Lawal que, apesar do esforço, não aproveitou uma falha clamorosa do guardião norueguês.
Porém, há que sublinhar o critério disciplinar algo largo (e injustificado) na primeira parte, num período onde a agressividade dos homens de Brann estava nos píncaros. O FC Arouca também tem razões de queixa dentro da área do Brann: Cristo cruzou e Svenn Crone desviou, de forma clara, a trajetória da bola com a mão, tendo ficado uma grande penalidade por assinalar.
Por fim, queria apenas salientar o infeliz facto de o jogo da segunda mão desta eliminatória não ter tido transmissão em Portugal, algo inconcebível, nomeadamente para um país que respira futebol e que precisa urgentemente de subir no ranking. Isto é algo que envergonha muito mais o Futebol Português do que esta eliminação do Arouca! É inaceitável que a Sport TV não tenha transmitido um jogo tão importante para o futebol português! Quando até o maior canal desportivo português mostra este desprezo para com o futebol português e para com um clube que nos está a representar nas competições europeias, não podemos ficar surpreendidos ao vermos que a nossa Primeira Liga vai deixar de ser transmitida em países com tantos emigrantes portugueses como a França, a Inglaterra e o Brasil.
Enfim, temos potencial para ser bem melhores do que um mero 7.º lugar. Contudo, neste momento, é essa nossa realidade. E, face a situações como a de hoje, não podemos dizer que seja injusta… O 6.° classificado da I liga portuguesa não consegue vencer o 2° da liga eslovena. O 5° classificado da I liga portuguesa não consegue vencer o 5.° da liga norueguesa. Por isso, pelo terceiro ano seguido, em três edições, não teremos um único clube português na fase de grupos da Conference League. O FC Arouca cai de pé, mas desamparado, com um agregado de 4-3!