Carlos Forbs está a viver nos belgas do Club Brugge aquilo que o futebol tantas vezes lhe “roubou”: confiança, minutos e propósito.
Depois de não vingar no Manchester City, de uma passagem muito discreta pelo Wolverhampton e de ser descartado pelo Ajax… por WhatsApp (!), o extremo português encontrou na Bélgica o contexto ideal para renascer.
A equipa belga deu-lhe aquilo que faltava: espaço, liberdade e um treinador (Nicky Hayen) que acredita no seu potencial e lhe devolveu a necessária confiança que qualquer futebolista necessita para se poder exibir ao seu melhor nível. A redenção não é sorte — é finalmente estar no sítio certo.
Há carreiras que nascem alinhadas com o destino e há outras que precisam de ser arrancadas à força, reconstruídas, re-imaginadas. A história de Carlos Forbs pertence a esse segundo capítulo, o dos resilientes, daqueles a quem lhes fecham as portas, de mensagens impessoais e promessas adiadas, transformando tudo isso em combustível.
Hoje, no Club Brugge, Carlos Forbs é a personificação da redenção no futebol europeu. E não é exagero: basta recordar a sua atuação soberba com dois golos e uma assistência contra todo um colosso europeu como é o Barcelona, um recital onde se deu a conhecer ao mundo do futebol, e que foi igualmente crucial para que as portas da selecção se abrissem finalmente. Um corolário merecido para um jogador que está a ter uma época fantástica.
Mas para perceber a explosão no clube belga, é preciso recuar no tempo. Para aquilo que o jogador teve de engolir antes de voltar a respirar.
Carlos Forbs cresceu no Manchester City, onde chegou com apenas 11 anos, vindo do Sporting, clube que irá defrontar neste próximo jogo da fase de grupos da Champions League. A sua passagem pelo Sporting foi curta, onde esteve apenas dois anos nos escalões leoninos de formação, de onde saíram grandes jogadores, como Luís Figo, Ricardo Quaresma, João Moutinho, Nani, Cristiano Ronaldo, entre outros.
O extremo de origem guineense cedo se destacou dos seus colegas, onde inclusive chegou a partilhar balneário com Francisco Conceição durante esse período no Sporting. Apesar da sua tenra idade, o Manchester City percebeu que tinha ali um diamante por lapidar. Já apresentava uma grande explosividade, drible curto, técnica apurada e capacidade de finalização.
Foram oito épocas na formação do Manchester City, onde nunca teve realmente a continuidade que o seu talento necessitava, Forbs estagnou não por incapacidade, mas porque era impossível crescer numa equipa onde a concorrência é quase desumana. O salto nunca veio e ele acabou por deixar Manchester sem pena nem glória, sem que antes não tivesse deixado registos excelentes e o título de melhor jogador da Premier League 2 em 2023.
Não foi por isso de estranhar que os holandeses do Ajax se tivessem fixado no jovem português. Foram 14 milhões de euros os que tiveram de despender para assegurar os serviços de Carlos Forbs.
Na sua época de estreia 2023/2024, não se pode dizer que tenha sido uma época desastrosa. Outrora uma das melhores escolas de formação do mundo (já há muito tempo que não saem craques mundiais das fileiras do Ajax), o clube holandês vive uma crise profunda de identidade, e apesar de inicialmente ter parecido a escolha certa para que Carlos Forbs pudesse evoluir.
O Ajax parecia o “match perfeito”: futebol ofensivo, aposta em jovens, identidade formadora. Mas Forbs chegou ao clube… no pior período possível. Danças de treinadores, caos diretivo, adeptos impacientes, e uma profunda crise estrutural.
Foram 32 jogos no total, mas com apenas três golos e quatro assistências. Apesar de não terem sido números extraordinários, o Ajax confiou no seu talento e Forbs começou a época 2024/2025 no plantel do clube comandado pelo italiano Francesco Fariolio, atual treinador do FC Porto.
Mas mais uma vez, não conseguiu ter a continuidade necessária, tendo sido emprestado no último dia do mercado de transferências do verão de 2024 aos ingleses do Wolverhampton, que já de há uns anos a esta parte, tem um forte contingente nacional.
A passagem pelo Wolverhampton parecia lógica: um clube habituado a potenciar portugueses, com necessidade de talento ofensivo. Foi certamente um capítulo curto e frustrante, e outro travão numa carreira que pedia continuidade.
Mas a Premier League é um ambiente onde a adaptação tem de ser praticamente instantânea. Forbs não encontrou minutos, não encontrou confiança, não encontrou espaço.
O seu regresso ao futebol inglês não foi o esperado, tendo apenas realizado onze jogos onde não apontou qualquer golo e apenas deu uma assistência. Números bastantes pobres, sendo natural que o clube inglês não tenha avançado para a sua contratação.
Devemos agregar a essa experiência frustrante no Wolverhampton, o que havia mencionado anteriormente: a Carlos Forbs foi um dos sete (!) jogadores a que foi comunicado por parte do Ajax que não contavam mais com os seus serviços, através de uma fria mensagem por Whatsapp. Essas não são as formas de um clube histórico, como o clube de Amesterdão. É desrespeito puro. Forbs poderia ter quebrado ali. Mas não quebrou.
O Club Brugge não é apenas um clube, foi a tábua de salvação para a carreira de Carlos Forbs, que ainda tem muito para crescer e evoluir, mas onde tem tido participações decisivas em vários jogos da equipa belga, conseguindo finalmente a continuidade necessária para que o seu futebol explodisse em todo o seu esplendor.
No Club Brugge, Carlos Forbs beneficia de um sistema que usa muito a capacidade de desequilíbrio dos seus extremos, de uma massa adepta que valoriza a irreverência dos seus jovens.
No clube belga, deixou de viver de promessas vazias e dispõe dos minutos necessários, para se poder exibir ao seu melhor nível, onde também tem a liberdade para errar e arriscar, pois o seu treinador aprecia bastante o “descaramento” do futebol do extremo português. E quando a confiança chegou… o seu talento emergiu
A exibição de Carlos Forbs frente ao Barcelona será recordada como o momento em que o futebol europeu acordou para aquilo que já era evidente a quem segue o jogador desde muito jovem.
Foi um jogo que não se explica apenas estatisticamente, explica-se igualmente pela sensação visual de que tudo o que Forbs tocava se transformava em ouro para a equipa belga.
Nessa noite, Forbs jogou como alguém que se lembra de todas as portas que lhe fecharam… e decidiu não bater mais. Resolveu arrombá-las ferozmente.
Desde o início da época, Carlos Forbs já tinha demonstrado qualidade suficiente para ter tido a sua primeira oportunidade na seleção A, mas faltava-lhe apenas aquilo que a Bélgica lhe devolveu: luminosidade, momentos, uma vitrine que o deixasse ser visto. E se há campeonato que o nosso seleccionador Roberto Martínez conhece muito bem, é o campeonato belga, pois comandou a seleção belga durante muitos anos.
E agora que o país olha para Carlos Forbs, vemos tudo aquilo que muitos já sabiam: que o futebol português tem aqui um extremo moderno, vertical, corajoso, que joga sem medo de quem está à frente.
Manchester City não lhe deu espaço. Wolverhampton não lhe deu continuidade. Ajax não lhe deu respeito. o Club Brugge deu-lhe tudo o que faltava.
Carlos Forbs não renasceu por magia. Renasceu porque encontrou o sítio certo, o treinador certo, o ambiente certo, e porque nunca deixou de acreditar, mesmo quando o mundo parecia desistir. Hoje, ele não é a promessa perdida. É a prova viva de que o talento não desaparece.
E em Brugge, finalmente, Carlos Forbs recebeu a tão desejada oportunidade e agarrou-a com as duas mãos. De descartado a decisivo. Assim está a ser o ressurgimento de Carlos Forbs no Club Brugge.

