Andrés Iniesta | E depois do adeus, o jogo continua

    «Nunca pensei que este dia chegasse. Nunca o imaginei. Mas todas estas lágrimas que derramei nos últimos dias, são lágrimas de emoção e orgulho, não são lágrimas de tristeza». – Andrés Iniesta

    Foi de voz embargada e lágrimas nos olhos que Andrés Iniesta começou o seu ato de despedida dos relvados.

    O fim de uma carreira inigualável, onde ganhou tudo o que havia para ganhar ao nível de clube e seleção, que nos deixa um legado impressionante e que perdurará no tempo.

    Nesta cerimónia de despedida, Iniesta foi fiel a si mesmo. Não a individualizou, não deu um destaque exagerado às suas conquistas (pois para ele o colectivo sempre foi mais importante que o individual) e os títulos sempre foram uma consequência do seu trabalho e não uma obsessão.

    Decidiu prescindir de apresentador, foi agradecendo de forma cronológica aos clubes, família e treinadores que mais o impactaram (terminando com um agradecimento aos jornalistas), decidiu fazê-lo num auditório com apenas 500 pessoas presentes e não aquelas despedidas multitudinárias que já vimos noutros atletas.

    Todos os que foram dando o seu testemunho, reconheceram as suas qualidades futebolísticas, mas acima de tudo enalteceram a sua dimensão humana.

    Desde o seu primeiro treinador, o seu mentor de La Masia Serra Ferrer, ao seu pai, passando por Van Gaal, Luis Enrique (seu antigo colega de equipa e que também o treinou), Guardiola, Del Bosque, etc…

    Destaco algo que disse Luis Enrique e que define bem o que é Andrés Iniesta e o que o futebol sempre representou para si «Iniesta era como aquele miúdo que joga à bola na rua até ficar de noite e a mãe o chama constantemente para ir para casa. Ele queria sempre mais um bocadinho, mas nós já não o víamos no escuro».

    Iniesta sempre marcou pela diferença, sempre se quis afastar do rótulo de estrela e nunca quis os holofotes para ele. Só se importava em jogar bem e são raros os jogos em que isso não aconteceu.

    Talvez por isso e também por não ser uma personagem mediática ou extravagante, é na minha opinião um dos jogadores mais subvalorizados da história. Nunca foi uma máquina de marketing (não que Messi o fosse naquele momento), pois nunca o quis ser.

    Se o tivesse sido, dificilmente não teria ganho a Bola de Ouro no ano de 2010. 

    O avançado argentino representava o produto final daquela máquina de futebol do Barcelona. Iniesta apenas era visto como mais um elemento e nunca lhe foi dado o devido valor.

    Quando questionado se sentia que lhe faltava uma Bola de Ouro, ele disse o seguinte «A imagem de Xavi, Leo e eu no pódio da Bola de Ouro é a coisa mais importante. Três miúdos da casa no topo do mundo. Esse é para mim o grande prémio daquele dia, não quem a tivesse ganho».

    Considero que essa frase sintetiza a simplicidade e humildade que sempre caracterizaram o fabuloso médio espanhol, dentro e fora dos relvados.

    Neste ato de despedida, Iniesta chegou a afirmar que por ter feito apenas um jogo como profissional, já se sentiria feliz, pois já teria concretizado esse sonho. E eu acredito plenamente que ele o sente quando o diz.

    Uma carreira de mais de uma década de altíssimo nível ao serviço do seu Barcelona (onde chegou com 12 anos), aquele que é considerado “mais do que um clube” e onde Iniesta passou a ser uma lenda viva do clube catalão.

    Sendo parte daquele Barcelona de Pep Guardiola, que era um regalo para os olhos e deliciava todos os adeptos do futebol, e onde Iniesta era o expoente máximo e o executante perfeito das ideias do técnico espanhol.

    Inclusive os adeptos do arquirrival Real Madrid, se rendiam ao talento de Don Andrés e dos seus companheiros.

    Não foi o que mais golos marcou, não foi o que mais assistências deu, não foi o que mais recordes bateu, mas era provavelmente o jogador que eu mais gostava de ver jogar naquela equipa recheada de estrelas.

    Iniesta sempre foi aquele líder silencioso que falava em campo, um pouco à imagem do seu parceiro Messi, com quem formou uma dupla que me proporcionou os melhores momentos de futebol de que me recordo ao nível de equipas. 

    Destaco também a afirmação de Iniesta quando questionado sobre o golo que consagrou campeã do Mundo a Espanha, em 2010. ‘«Eu sinto que muitas coisas se juntaram para marcar aquele golo. Fomos nós que marcamos aquele golo, eu apenas marquei em nosso nome».

    Para sempre ficará o célebre “Iniesta de mi vida” na voz de José Antonio Camacho e a celebração desse golo histórico com a dedicatória de Iniesta ao seu amigo Dani Jarque (que tinha falecido pouco tempo antes), capitão de equipa do Espanhol, maior rival do Barcelona.

    Gesto maravilhoso e só ao alcance de um ser-humano incomparável.

    Pela seleção espanhola (o seu outro grande amor) venceu o Europeu 2008, foi figura máxima da seleção que venceu o Mundial 2010 e ganhou o Europeu 2012.

    Uma dinastia provavelmente irrepetível. E diria que ao nível da qualidade de jogo e da superioridade exibidas, dificilmente haverá alguma seleção que consiga alcançar essa excelência.

    Jogando no centro do campo distribuindo jogo, recuperando bolas, antecipando-se aos adversários, fazendo passes de ruptura e descobrindo linhas de passe inimagináveis, e só ao alcance dos fora de série que pensam e executam antes dos demais.

    Pegado ao flanco esquerdo, driblando jogadores em autênticas cabines telefónicas, com movimentos desconcertantes e muitas vezes sem ter a necessidade de tocar na bola.

    Deslizando pelo relvado, com uma técnica sublime e desesperando os adversários por não lhe conseguirem tirar a bola. A bola sempre foi dele.

    Iniesta sempre falou com a bola nos pés e com a bola nos pés, foi dos poetas mais brilhantes, tendo escrito dos versos mais bonitos da história do futebol, e por isso estar-lhe-ei eternamente agradecido.

    Disse ele que queria continuar a jogar até aos 90 anos se isso fosse possível, emociona-se sempre que lhe perguntam o que é para si o futebol e é com grande satisfação que o ouvi dizer que continuará ligado ao futebol e que já começou a tirar o curso de treinador.

    Não lhe podemos exigir que seja um novo Pep Guardiola (Xavi já sofreu com isso), teremos que lhe dar o correspondente e necessário tempo de adaptação, mas se as suas equipas se exibirem ao nível daquilo que Iniesta se exibiu como jogador, estaremos perante um futuro treinador que será certamente bem-sucedido, tendo manifestado o desejo de um dia voltar ao seu Barcelona.

    É sempre difícil despedirmo-nos dos melhores de sempre, mas este já era um luto anunciado e até poderemos dizer que esse já tinha sido feito. Apesar de ter tido uma passagem com êxito pelo clube japonês Vissel Kobe, Iniesta já tinha saído dos radares dos adeptos do futebol desde que deixou o Barcelona, em 2018.

    Costuma-se dizer que “as pessoas só morrem quando morrer a última pessoa que as ame e as recorde”. 

    As diabruras e a magia de Iniesta serão eternas.

    É esse o impacto dos predestinados como Don Andrés Iniesta, nascido numa pequena localidade próxima de Albacete chamada Fuentealbilla, onde o sonho de se tornar jogador de futebol profissional é quase impossível.

    Nunca foi o mais rápido, nunca foi o mais ágil, nunca foi o mais forte fisicamente. Iniesta desafiou as probabilidades e conquistou o mundo.

    Quem gosta de futebol, aplaudirá para sempre Andrés Iniesta.

    O jogo continua, mas fica infinitamente mais pobre.  

    OBRIGADO POR TANTO!

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