O Real Madrid, clube recordista de troféus da Liga dos Campeões, com nada mais, nada menos do que 9 troféus, atingiu finalmente, doze anos depois, uma final europeia: doze anos que deixaram para trás aquela equipa de Zidane, Figo, Roberto Carlos e Raúl, que na arena de Hampdon Park fez história.
Decorridos esses doze anos, o clube espanhol vive quase uma obcessão na conquista do décimo troféu. Sob as ordens de Mourinho, que acabou por sair praticamente em litígio com o clube e sobretudo com os adeptos, o Real “morreu na praia” durante de três anos consecutivos, caindo nas meias-finais frente a Barcelona, Bayern de Munique e Borussia de Dortmund. Ancelotti chegou assim ao clube, vindo de duas épocas no PSG, onde construiu uma equipa e a conseguiu levar à conquista do campeonato francês.
Depois de um Verão quente em contratações e rumores, chegaram ao clube os jovens Jesé e Casemiro (provenientes da equipa B), além de Isco, Illarramendi, Carvajal e o galês Gareth Bale, que custou uma quantidade de dinheiro astronómica. Em sentido inverso, Özil, Kaká, Higuain e Callejón sairam. As contratações foram mais cirúrgicas, é certo, e Bale vem dar à equipa uma série de argumentos que esta não tinha; contudo é em Dí Maria que reside, na minha opinião, a maior diferença do Real de Ancelotti para o Real de Mourinho, permitindo-lhe uma variedade na componente táctica em campo que confunde e destrói os adversários.
O Real de Mourinho era assente na coesão defensiva, com linhas de pressão não muito altas, procurando a transição ofensiva rápida e vertiginosa, sobretudo através de Ronaldo. No entanto o esquema táctico de Mourinho era bastante estanque, saindo as acelerações quase sempre através de Ronaldo, bem como a organização em transição ofensiva quase sempre feita pela lateral esquerda com Marcelo e Ronaldo. Arbeloa fechava mais como terceiro central, o que obrigava Dí Maria a fazer muitas vezes o corredor inteiro e Modric a cair na direita, perdendo amplitudo no centro. Assim, Mourinho jogava claramente num 4-3-3, transformando-se algumas vezes em transição defensiva num 4-4-2.
Com Ancelotti, a posição cirúrgica de Dí Maria no centro do terreno vem possibilitar um alargar de possibilidades tácticas num mesmo jogo que, com a qualidade individual destes jogadores, deixa qualquer equipa à mercê dos merengues. Modric assume um papel mais central e cerebral. Junto com Xabi Alonso, reparte a saída e posse de bola, não deixando esse cargo só para o espanhol. Por outro lado, com a chegada de Carvajal, também a transição defesa-ataque é repartida pelas duas laterais, sendo que é até o espanhol aquele que mais quantidade e qualidade de jogo ofensivo tem dado à equipa. Bale veio potenciar Ronaldo – permite transições muito rápidas, dá maior liberdade ao português e claramente potencia a veia goleadora do Bola de Ouro, já que leva 20 assistência na Liga.
Contudo, é em Dí Maria que me parece residir a “chave” táctica desta equipa. O argentino, colocado como médio mais avançado, permite a Ancelotti variar entre um 4-3-3 e um 4-4-2 com um dos extremos a fechar uma ala e permite transições em 4-2-4 com Ronaldo a aparecer no centro e Dí Maria e Bale nas alas. Aproveita na plenitude as qualidades de Dí Maria: rapidez, qualidade de passe, mobilidade táctica e capacidade de recuperação de bola.
Um Real diferente para melhor: mais adulto, mantendo a capacidade goleadora do Real de Mourinho e potenciando a capacidade e coesão defensiva da equipa, especialmente na transição, o onde é capaz de ser cirúrgico; um Real mais rápido, com mais capacidade de posse de bola e maior diversidade táctica no terreno de jogo. Este é o Real de Ancelotti.