La Liga 2024/25: um campeonato com várias frentes- Parte 1

    A nova temporada da La Liga já teve o seu pontapé de saída, com a segunda jornada quase fechada. Durante o último fim de semana assistimos aos 10 primeiros desafios, marcados pela emoção e qualidade, naquele que é um dos melhores campeonatos do mundo. Na lista de equipas há de tudo: candidatos ao título, projetos que se tentam estabilizar, turmas que se querem reabilitar e outros clubes que apenas procuram sobreviver, para que no próximo ano possam levar aficionados ao Santiago Bernabéu ou ao Camp Nou. Numa era em que cada vez mais a Premier League é vista como a melhor liga do mundo, com milhões de aficionados pelo globo terrestre, a La Liga quer ocupar esse posto. Ao nível de futebol de seleções, a Espanha está um passo à frente dos demais. Em termos de clubes procura o mesmo, ainda que com um grande rival à altura.

    Missão: vencer o título

    Existem três claros candidatos ao título, com um deles como favorito número um. O Real Madrid, vigente campeão, procura renovar o título, apresentando o melhor plantel e o treinador mais conceituado. Perdeu Toni Kroos, mas ganhou Kylian Mbappé. No fundo, estamos a falar da estrutura mais estável do futebol mundial, que entra para ganhar em todas as competições.

    Os merengues até empataram na primeira ronda, o que mostra que a La Liga conta com emblemas de qualidade, mas nem por isso perderam alguma percentagem no seu favoritismo. Não há um calcanhar de Aquiles explicito, mas podemos considerar que a falta de centrais pode ser problemática. Éder Militão e David Alaba têm um histórico recente de lesões. Jesús Vallejo não tem a capacidade de ser titular. Antonio Rudiger é o que traz mais estabilidade. Como alternativas, Joan Martínez rompeu o ligamento cruzado e Jacobo Ramón deverá ser convocado diversas vezes.

    No ataque, a tripla Mbappé – Vinícius Júnior- Rodrygo promete aterrorizar os adversários, quando o entrosamento for superior, já que no duelo contra o Mallorca todos pisaram semelhantes terrenos, o que dificultou a criação de várias nuances de perigo. Será interessante verificar o comportamento de Jude Bellingham que terá que pisar terrenos mais atrasados, devido à chegada do astro francês, devendo o inglês suportar a linha avançada.

    É complicado pensar num vencedor diferente da La Liga sem ser o Real Madrid. A Opta Analyst afirma que os blancos têm uma probabilidade de 86% de levantar o troféu no final. Ainda assim, a concorrência promete combater todo este favoritismo.

    O Barcelona é por excelência o grande rival do Real Madrid. Mas, ao contrário que sucede na capital, na Cidade Condal os tempos que se vivem não são áureos. A época terminou em alta tensão, com Joan Laporta a decidir-se por demitir Xavi Hernández, trazendo Hansi Flick para o seu lugar. É um começo de ciclo, com um estilo distinto. A aposta na formação será central e possivelmente o ponto mais interessante de se acompanhar, num clube que vive dificuldades financeiras que podem ser vistas a olho nu. Chama à atenção as dificuldades dos catalães em conseguirem inscrever os reforços. Dani Olmo foi o único que aterrou na Cidade Condal, num ano que promete ser de fogo igualmente para Deco, que não tem feito um bom trabalho como diretor desportivo. Mostra debilidades em conseguir colocar jogadores e em convencer atletas a rumarem ao Camp Nou, outrora algo inimaginável.

    O que é certo é que o Barcelona não está no mesmo nível do Real Madrid, mas ambiciona estar. Este ano pode ser fundamental para esse passo, com o desenvolvimento de jogadores. Hansi Flick poderá deixar a La Liga ‘de lado’ e concentrar-se nas competições a eliminar, nomeadamente a Champions League. Os blaugrana sabem que o oponente tem o domínio na competição e poderá começar por tentar travá-lo a partir daí. É indiscutível que o plantel do Barcelona é curto, não havendo sequer um número 6, sem ser Marc Bernal, que conta com apenas 17 anos. Não será de estranhar a presença de elementos da equipa B nos A, com esse elevador a funcionar constantemente. Afinal, é a única solução que Hansi Flick e restante equipa técnica tem de suprimir certas ausências que decerto vão ocorrer. A formação do Barcelona é uma das melhores do mundo, senão a melhor, e o clube poderá tirar algum benefício de 2024/25, mesmo com o Museu a não receber nenhuma taça nova.

    O Atlético de Madrid foi um dos protagonistas do mercado de transferências, elevando o patamar do seu plantel. Está mais perto da dupla Real Madrid – Barcelona em comparação com o passado mês de maio. Os colchoneros estiveram os últimos anos a ‘poupar’ para fazer este ataque. Alexander Sorloth, Conor Gallagher, Robin Le Normand e Julián Álvarez elevam o nível da turma de Diego Simeone, que beneficiou da saída de pesos pesados do orçamento salarial, como Álvaro Morata, João Félix e Saúl, para se darem ao luxo de trazer estrelas, que possivelmente serão titulares indiscutíveis ao longo do campeonato.

    Depois de terem falhado o pódio em 2023/24, perdendo o terceiro posto para o surpreendente Girona, o Atlético de Madrid definiu como objetivo mínimo atingir o pódio, se bem que não é irrealista pensar em algo mais, principalmente se chegar mais um elemento para o centro da sua defesa. Há um entusiasmo no seio dos adeptos. Sorloth brilhou no Villarreal (possivelmente melhor opção de Artem Dovbyk) e Julián Álvarez tem um palmarés com todos os títulos e teria lugar em todas as equipas do mundo, mas preferiu rumar ao Metropolitano. Diego Simeone vive uma época chave, já que conseguiu ter o plantel que queria e estarão todos a remar para o esmo lado. Depois do quarto posto, é necessário mostrar algo mais e este é ano para isso. É vital estar mais perto do primeiro lugar do que do quarto, já que o Atlético de Madrid quer provar que não está em ´tierra de nadie’.

    Alcançar as competições europeias

    A La Liga possui mais alguns lugares de acesso às competições europeias e não apenas os do pódio. O quarto posto garante ainda uma vaga na Champions League. O quinto lugar e o sexto dão acesso à Liga Europa e o sétimo à Conference League. Há várias equipas com capacidade de atingir a Europa para 2025/26. Obviamente que ficar em quarto ou em sétimo não significa o mesmo, bem longe disso, quer a nível de status, quer a nível financeiro. No entanto, para alguns emblemas é absolutamente impensável ficar abaixo destas posições, já que seria uma La Liga falhada.

    O Athletic, atual campeão da Copa del Rey, entra neste campeonato com o os objetivos em alta. A manutenção de Nico Williams (pelo menos para já), faz com que haja alguma legitimidade por Bilbao para se sonhar com o quarto posto. Mesmo com o mercado reduzido, com todas as caraterísticas inerentes ao estilo escolhido pelo clube, o plantel da equipa tem qualidade de sobra, além de um treinador experiente, como Ernesto Valverde.

    Mesmo perdendo Iker Muniain, falamos de uma época de continuidade, já que as referências continuam por lá e o objetivo é absolutamente claro. Para o posto do antigo capitão, há Oihan Sancet, que já provou que pode fazer a diferença. O quinto lugar de 2023/24 pode ser melhorado, caso os irmãos Williams estejam na sua máxima força e Guruzeta ative o modo goleador. Atenção à possibilidade de Álvaro Djaló pisar os terrenos de ponta de lança, algo testado pela equipa técnica e que pareceu agradar aos adeptos e analistas. Não será igualmente de estranhar a ascensão de jovens como Adama Boiro (lateral esquerdo) ou Mikel Jauregizar (médio). Sem este tipo de ‘promoções’, o projeto do Athletic não era viável e Lezama tem qualidade que sobra.

    Momento semelhante vive a Real Sociedad, que possui os mesmos objetivos do rival regional. Tudo o que não seja um apuramento para as competições europeias (principalmente Champions League ou Liga Europa) será uma desilusão. Imanol Alguacil continua na liderança do projeto, acompanhado por Roberto Olabe, que voltaram a perder peças chave, tal como acontece todas as épocas. Mikel Merino rumará ao Arsenal. Robin Le Normand é o novo central do Atlético de Madrid. Esta é a ‘vida’ da turma de San Sebastián. Perder peças e voltar a reconstruir. Poucos são como Martín Zubimendi ou Mikel Oyarzabal, que querem ficar pelo Anoeta toda a sua carreira.

    O grande problema da Real Sociedad manteve-se de uma época para a outra: a falta de um ponta de lança. Umar Sadiq não funcionou e Carlos Fernández está sempre lesionado. Nem Sheraldo Becker, nem Mikel Oyarzabal são pontas de lança de origem, mas têm sido os artilheiros. Ainda faltam algumas semanas para o mercado encerrar e é urgente a chegada de um 9. Tal como o Athletic, a Real Sociedad consegue formar em quantidade e qualidade. A política 60/40 é cada vez mais uma realidade, mas neste posto não tem dado frutos. Jon Karrikaburu não despontou e deixou essa vaga órfã. A falta de golo pode ser algo determinante para a classificação final.

    Na disputa por um lugar que dê acesso a provas europeias certamente estará o Villarreal, clube que realizou uma temporada 2023/24 em crescendo. Marcelino García Toral regressou ao La Cerámica e colocou o seu futebol rápido a funcionar, no clássico 4-4-2. O clube da Comunitat Valenciana falhou o apuramento para a Europa devido ao péssimo arranque de época, algo que foi o timoneiro que conseguiu reverter.

    Ainda assim, é evidente que o Villarreal perdeu algumas peças importantes, principalmente Alexander Sorloth e Filip Jorgensen. Contudo não se poupou e atacou o mercado de uma maneira interessante. Luiz Júnior chega para ocupar a baliza e provar que tem lugar numa Big 5. Logan Costa, defesa central, vem de uma ótima temporada no Toulouse. Situação semelhante à de Barny, avançado, que chega do Basel. Nestes três nomes estão investidos 44 milhões de euros. O submarino amarelo aproveitou igualmente boas oportunidades de mercado, como Sergi Cardona, Nicolás Pépé, Pape Gueye ou Ayoze Pérez, que decerto terão a sua relevância. Marcelino García Toral não se poderá queixar que não tem um plantel completo. As peças que perdeu foram substituídas e lutar pela Europa tem que ser algo imposto, não sendo descabido apostar no clube de Fernando Roig para atingir a quarta posição.

    O Real Bétis também está nesta disputa, mas possivelmente numa situação distinta à dos rivais. Enquanto que vemos o Villarreal num recomeço de ciclo, os andaluzes estão mais perto do final. Isco Alarcón continua a ser a grande estrela, mas há jogadores que estão já ultrapassaram o seu pico, como Nabil Fekir, Juani ou William Carvalho. Contudo, existem jogadores de grande qualidade e que podem dar o passo em frente, algo que não o fizeram até ao momento nas suas carreiras: Abde, Natan ou Assane Diao (apenas 18 anos). Somados a Johnny Cardoso, Ricardo Rodríguez, Marc Roca e Pablo Fornals fazem com que o clube de Benito Villamarín seja um legítimo candidato a algo importante.

    Faltará a Manuel Pellegrini um pouco de jogo exterior. Perdeu Juan Miranda, mas ganhou Romain Perraud. É um plantel em que os protagonistas atuam todos pelo centro do terreno, levando a que ou Isco, ou Fekir, atuem pela banda. Se Assane Diao e Abde conseguirem estabelecer-se como indiscutíveis (algo que Rodri não fará), problema resolvido. A somar a isto, o Real Bétiz faz-nos recordar a Real Sociedad, já que a posição de ponta de lança não tem um titular claro. Borja Iglesias saiu e ficaram Cedric Bakambu e Chimy Ávila, acompanhados de Iker Losada, que é mais visto como segundo atacante. Nenhum dos dois mostrou uma veia atacante em 2023/24, embora tenham chegado em janeiro. Há mais fé no argentino, dado o que demonstrou no Osasuna.

    A indefinição na baliza também pode ser prejudicial. Rui Silva foi apontado á saída, já que a instituição necessita com alguma urgência de concretizar uma venda importante e Álvaro Valles continua a ser o desejo. No entanto, o espanhol continua ao serviço do Las Palmas.

    Manuel Pellgrini está com 70 anos e esta poderá ser uma das últimas temporadas no Real Bétis. O seu número de vitórias por época tem baixado ano após ano pelo clube, o que indica ainda mais o final de ciclo que teima em chegar, embora o chileno seja adorado por todos.  

    Para finalizar a lista de candidatos, tem que se falar do Girona. Alguém esperava que o conjunto de Míchel ficasse em terceiro lugar em 2023/24? Possivelmente nem o próprio Míchel. Os catalães conseguiram o apuramento para a Champions League, mas ‘ganharam’ uma debandada e mais oito jogos para 2024/25, com um plantel enfraquecido. Ninugém pode pedir o pódio à equipa. Acredito igualmente que poucos ficariam incrédulos caso o Girona terminasse a La Liga 2024/25 fora da zona de acesso à competição europeia, suponhamos numa décima primeira posição. É mais pelo respeito e pela confiança na equipa técnica que esta turma está neste estrato.

    O Girona perdeu peças fulcrais como Savinho, Yan Couto, Aleix García ou Artem Dovbyk. Não há uma estrutura ‘palpável’, mas sim previsões de uma mesma. Bryan Gil ou Oriol Romeu conta com experiência de La Liga, mas não são os seus antecessores. Abel Ruiz e Bojan Miovski não tem nem perto do estatuto de Dovbyk. Alejandro Francés é ainda uma promessa de central, embora as belas indicações que traz (nomeadamente a liderança). Donny van de Beek é uma incógnita.

    O futuro do projeto passa mesmo pelas mãos de Míchel. Se o técnico voltar a montar uma máquina que dava gosto de ver, além de merecer uma estátua, o Girona conseguirá lutar pelo top 7. No entanto não nos podemos esquecer que 2023/24 foi a exceção e não a regra, num clube que pertence ao City Group e que procura voltar a surpreender. Se falhar, é certo que o Montilivi não vai assobiar.

    Para leres a segunda parte, clica aqui.

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