“Este é pior Barça em muitos, muitos anos”. Foi assim que José Mourinho descreveu a atual equipa catalã comanda por Tata Martino, na véspera do jogo da Liga dos Campeões entre o Manchester City e o Barcelona. Apesar de Mourinho ser um expert em mind-games e, como todos sabemos, raramente dizer algo em vão, acredito que o treinador português tenha sido honesto nas palavras que proferiu.
Ok, já sei que Mourinho matou dois coelhos com um só cajadada e consegui provocar na mesma frase toda a equipa do Barcelona e, também, Manuel Pellegrini, treinador dos citizens. É de facto notável como numa simples e curta frase o técnico português “atacou” frontalmente o clube Catalão e ainda desvalorizou uma eventual vitória do Manchester City sobre o Barcelona. Mourinho a ser Mourinho, portanto.
Mas, deixemos os jogos psicológicos de lado e vamos ao fundo da questão: Mourinho tem ou não razão sobre o que disse?!
Na minha opinião, sim, tem! E são vários os fatores que o explicam.
Neste momento, o Barcelona tem 60 pontos e divide o topo da tabela classificativa com ambos os rivais de Madrid. À exceção do ano do título ganho por José Mourinho no Real Madrid, em 2011/2012, é necessário recuar até à época de 2008/2009 para encontrar um total de pontos tão baixo à entrada para a 25ª jornada da Liga espanhola – na altura, tinham, igualmente, 60 pontos.

Fonte: Static6.com
Até no total de golos marcados e sofridos é possível verificar um ligeira quebra de rendimento: a equipa catalã tem atualmente 69 golos marcados e 17 sofridos. Ao retrocedermos novamente no tempo, apenas na temporada de 2009-2010 o Barcelona tinha um registo menor, com 59 golos marcados e 14 sofridos.
Continuando com as estatísticas, se analisarmos a fundo a equipa do Barcelona, verificamos que, no total dos 28 jogadores que compõem o plantel, a média de idades é de 25,72. É uma média bastante boa e perfeitamente admissível para um clube que aposta frequentemente em jovens da cantera. No entanto, alguns jogadores nucleares iniciam a fase descendente da carreira: Xavi (34 anos), Váldes (32 anos), Puyol (35 anos) e Daniel Alves (30 anos) são os casos mais evidentes de uma equipa em fim de ciclo.
Como os número muitas vezes não explicam tudo, em termos exibicionais é quase unânime que esta época o Barcelona tem estado abaixo das expetativas. Eu não sou tão linear na minha abordagem mas devo concordar com a ideia de que o futebol de “bola no pé” já não é o mesmo – ou se o é, é apenas a espaços.
O Barcelona salienta mais do que nunca algumas fragilidades defensivas. A equipa concede excessivamente espaços em transição e é frequente vermos as equipas adversárias a criar ocasiões de golo junto da baliza de Valdês – algo que não acontecia de forma tão regular no anos anteriores.
A idade avançada de Xavi e o mau momento que Iniesta atravessa não fornecem ao meio campo do Barcelona a capacidade de criar os processos ofensivos e, simultaneamente, ter robustez defensiva necessária para parar os contra ataques adversários. Na verdade, é o meio-campo –a grande virtude do mítico Barcelona de Pep Guardiola – que tem demonstrado uma estranha fraqueza.
No entanto, é injusto não sublinhar que este Barcelona continua a fazer excelentes exibições e a colecionar vitórias indiscutíveis – que o diga o Rayo Vallecano, que na última jornada saiu do Camp Nou com 6 golos no saco.
O que me parece óbvio e que, no fundo, foi aquilo que o técnico do Chelsea quis transmitir, é que este Barcelona é mais irregular e menos sólido que os anteriores.
Aquilo de que José Mourinho se esqueceu de dizer foi que até o pior Barça dos últimos anos é mais do que suficiente para se bater com todas as equipas de topo mundial – sem exceção.