Tiki-taka: ruptura ou continuidade?

    O Barcelona chega ao fim desta época com apenas um troféu vencido, a Supertaça Espanhola, mas acima de tudo com um futebol que perdeu criatividade, entusiasmo, emoção e, imagine-se, posse de bola. Isto depois de uma década dourada em que venceu nada mais, nada menos do que 21 títulos: 6 campeonatos de Espanha, 2 Taças dos Rei, 6 Supertaças de Espanha, 3 Champions League, 2 Supertaças Europeias e 2 Campeonatos do Mundo de Clubes. Aquilo que a geração do tiki-taka, como é conhecida, alcançou é absolutamente fantástico. Não só pelos títulos, mas também, e sobretudo, pelo futebol que praticava.

    Após um ano em que nenhum título realmente importante entrou no museu do clube catalão, e com um futebol descaracterizado em relação ao passado, muito se tem falado sobre o erro que foi dar o comando do Barcelona a Tata Martino. A diferença mais evidente em relação ao futebol de Pep Guardiola e do malogrado Tito Vilanova é claramente a posse de bola. Com Pep, o Barcelona tinha uma necessidade constante de ter a bola, pressionando  e defendendo em bloco alto para a recuperar rapidamente, e basculando o jogo em velocidade abrindo espaços constantemente nas defesas contrárias. Por outro lado, Tata assenta o futebol do Barcelona em diagonais mais longas, procurando menos a posse e mais o contra-ataque e defendendo com um bloco mais baixo para tal efeito.

    Luis Enrique é a nova aposta do Barcelona Fonte: Mirror
    Luis Enrique é a nova aposta do Barcelona
    Fonte: Mirror

    Contudo, penso que o treinador argentino assentou o futebol catalão num estilo diferente, procurando mais adaptar-se à falta de soluções que Pep não tinha do que propriamente mudar radicalmente o estilo de jogo dos catalães. Na defesa, Abidal e Puyol não foram devidamente substituídos, deixando um défice importante na qualidade e rotatividade, já que o francês podia fazer duas posições, quer no centro, quer na esquerda.

    Xavi e Iniesta, que não caminham para novos, não têm a mesma disponibilidade física, e o meio-campo não tem as soluções que tinha Pep – Keita e Yaya Touré proporcionavam-lhe mais capacidade física e verticalidade ao jogo quando necessário, e aquele que podia render Xavi na sua crucial função, Thiago Alcântara, foi resgatado pelo próprio Guardiola. Aqui está a grande diferença no futebol praticado pelos catalães com um treinador e com outro. Na frente de ataque perdeu Villa, que, embora bastante inconsistente no último ano em que representou os catalães, aumentava a capacidade de posse e de jogo de costas para a baliza, ganhando Neymar, um jogador mais tecnicista e vertical.

    Leo Messi foi uma das desilusões da temporada culé
    Leo Messi foi uma das desilusões da temporada culé
    Fonte: Guardian

    O tiki-taka exige um meio-campo pressionante de alta rotação, recuperando rapidamente a bola, e Martino percebeu que era impossível dar continuidade a isso sem que a equipa se ressentisse a nível físico. Por outro lado, ao adaptar o futebol para um bloco mais baixo e com maior incidência na velocidade do contra-ataque permitiu que Alexis e Neymar pudessem desenvolver melhor o seu futebol mas perdeu objectivamente qualidade na área mais cirúrgica, o meio-campo, já que Xavi, Iniesta, Cesc e Busquets perdem muita influência sem a posse de bola.

    Para o próximo ano está confirmado Luis Enrique, que à semelhança de Pep tem um passado importante no clube, quer como jogador, quer como treinador do Barcelona B.
    As possíveis partidas de alguns jogadores, como Alexis, Pedro, Xavi, Iniesta, Cesc, Song e Dani Alves, associadas às já confirmadas saídas de Valdés, Pinto, Puyol, bem como o regresso de valores importantes como Rafinha e Deulofeu, demonstram que na Catalunha se está a desenhar uma renovação mais ou menos profunda. Contudo, a grande questão é: irá o clube culé cortar com a filosofia do tão vitorioso tiki-taka, ou por outro lado pretende renovar e readaptar o plantel para manter a ideia táctica?

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    Nelson Nunes
    Nelson Nuneshttp://www.bolanarede.pt
    Nasceu há 28 anos e é um apaixonado pelo "fenómeno futebol" nas suas várias vertentes. Cresceu com o Dragão tatuado no coração, respira Porto e vive-o intensamente. Reside em Espanha, acompanhando de perto o futebol de nuestros hermanos.                                                                                                                                                 O Nelson não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.