Um FC Barcelona à moda antiga?

Começando este artigo de forma direta e indo direto ao que pergunto no título, a resposta é não. E é não porque creio ser impossível e utópico imaginar uma equipa tão forte e tão completa como a que tivemos oportunidade de assistir nos anos mais vistosos de Pep Guardiola ao serviço do FC Barcelona. Mas não só por isso. Hoje o futebol é totalmente diferente do que era há 10 anos e mais que uma mudança de jogadores, existiu uma mudança significativa no paradigma futebolístico.

Todos nos lembramos – com saudade há que o admitir – do mítico Barcelona de Guardiola. Perdura na nossa efémera memória, lembranças de um tiki taka que deixava qualquer fã deste desporto colado ao ecrã ou sem reação num estádio, como se do mais belo filme de cinema se tratasse. 

Com a europa a seus pés e com um estilo de jogo ímpar dos demais, o Barcelona, treinado por Guardiola era poesia em formato futebolístico. E, hoje, é ainda considerado por muitos fãs, não só a melhor equipa do século XXI como também uma das melhores de todos os tempos. 

Porém, com a saída de Guardiola, vimos a equipa catalã ir perdendo, aos poucos a sua essência, esquecendo-se da sua própria identidade. E, mesmo no ano do trio MSN (Messi, Neymar e Suárez) notávamos esta decadência que, ano após ano, se deteriorava ainda mais. 

Mergulhado numa crise financeira e desportiva, entre humilhações europeias e longos períodos sem vislumbrar a conquista de um título, parecia que o Barcelona iria demorar vários anos a voltar à sua melhor forma. 

A verdade é que num curto espaço de tempo, tudo mudou. Xavi retornou (desta vez como treinador) e parece ter conseguido recuperar o Barcelona de nível europeu. Porém, todos recordamos aquando da sua contratação, a dualidade de opiniões que existiram: de um lado muita contestação por não ter provas dadas e ser um treinador inexperiente – um termo que não só é redundante como é dotado de uma significância relativa. Do outro a esperança de uma pessoa que não só vivia como respirava a cultura culé. 

Criou-se uma harmonia que há muito não se via e o ADN blaugrana parece ter sido renovado. O treinador e ex-capitão do Barcelona conseguiu juntar às contrações feitas – como Lewandowski ou Koundé -, pérolas da academia – Gavi, Pedri e Balde – e recuperou a motivação de jogadores que já lá estavam – como o caso de Dembélé.

Todo este novo contexto elevou o Barcelona para um patamar diferente, colocando a equipa catalã na rota dos títulos e na liderança de um campeonato que há muito tempo foge. Para se ter noção do que Xavi tem conseguido, no dia 12 de outubro de 2022, o Barcelona assumiu a liderança da liga, algo que já não acontecia há mais de dois anos. Mais recentemente, conquistou a Supertaça perante o eterno rival, Real Madrid.

Se olharmos para o contexto do jogo em si, a proposta de Xavi Hernandéz, não só é distinta da apresentada outrora por Guardiola, como também da que era visível no clube antes da sua chegada. 

Se compararmos com o atual técnico do Manchester City, apesar da formação ser idêntica, este Barcelona é muito diferente. A começar pela verticalidade do jogo, em detrimento de um futebol mais pausado, mas também pelo papel desempenhados pelos próprios jogadores e as suas funções dentro de campo serem substancialmente distintas. 

Olhando para a defesa, Xavi utiliza muitas vezes um central de origem a lateral direito, mesmo para proteger essa verticalidade de jogadores como Dembélé. Assistimos também à afirmação de Araújo e à consistência de Christensen. Na esquerda, a ascensão de Balde traz ao Barcelona uma diversidade de dinâmicas muito interessante. Esta coesão defensiva criada pelo técnico catalão explica, em muito, o sucesso da sua equipa que até agora, no campeonato, tem apenas oito golos sofridos em 24 jogos. 

No meio-campo, Busquets continua a ser o baluarte do futebol do Barça de Xavi (tal com o era no de Guardiola), mas vemos jogadores como De Jong, Pedri e Gavi a assumirem cada vez mais protagonismo. Além de ter um controlo da posso de bola, estes jogadores acabam por oferecer uma variabilidade de opções no que à criação diz respeito, criando muitas vezes superioridade nesta zona do terreno. 

Por fim, na frente, a verticalidade de Dembélé e a qualidade de Lewandowski explicam o sucesso ofensivo da equipa. 

Porém e na minha opinião, mais que contratações, uma ideia de jogo definida ou os bons desempenhos até então, creio que o maior feito de Xavi foi ter construído e digo construído e não recuperado, uma cultura diferente das demais. 

O ADN que o catalão trouxe à equipa é o fator crucial para o sucesso da mesma. Uma equipa completa e única à sua maneira, nada comparável com outros Barcelonas, quer nos seus aspetos positivos, quer nos negativos. 

Acima de tudo, hoje, o Barcelona voltou a ser uma equipa. 

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Duarte Amaro
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Duas são as paixões que definem o Duarte: A Comunicação e o Desporto. Desde muito novo aprendeu a amar o desporto, muito por culpa dos intervenientes que o compõem. Cresceu a apreciar a mestria de Guardiola, a valentia de Rossi e a habilidade de Hamilton, poder escrever sobre estes é algo com que sempre sonhou.

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