
Restam oito equipas na Liga Europa e os confrontos são cada vez mais apaixonantes. Desde os duelos de titãs, às histórias da temporada e aos não menos importantes confrontos entre David e Golias, a Liga Europa tem presenteado todos os adeptos com jogos apaixonantes.
Na ressaca da primeira mão dos encontros dos quartos de final desta Liga Europa, é altura de nos debruçarmos sobre os craques que pisaram o relvado e que o pintaram com classe e inteligência. Esta lista reúne cinco jogadores com funções, posições e resultados distintos. O sinónimo? A qualidade do seu jogo.
Orkun Kökçü (Feyenoord)
Libertou-se das boas amarras do futebol alternativo e é já um nome presente na lista da maioria dos aficionados do futebol. Kökçü é o nome maior do Feyenoord que, com Arne Slot, subiu de rendimento e que caminha para voltar a sagrar-se campeão nos Países Baixos.
Depois da presença na final da Conference League na época transata, os neerlandeses estão também a ser destaque pela Europa. Partem em vantagem para a segunda mão depois da vitória sofrida contra a Roma, adversário na tal final da Conference.
A Roma até foi superior durante grande parte do jogo, mas foi incapaz de traduzir em golo as oportunidades criadas (Pellegrini falhou uma grande penalidade), viu Dybala e Abraham – dois dos principais destaques da temporada – saírem lesionados e Wieffer marcar um golaço.
No entanto, quem mais brilhou no meio-campo neerlandês foi o turco que se assume como protagonista e principal referência técnica do Feyenoord. É um médio total que tem ganhado cada vez mais valências no seu jogo. A capacidade de resistir e superar a pressão evolui de forma gritante nas últimas temporadas, tendo ganho características de médio transportador de bola, queimando linhas em posse e progredindo no terreno. A esta capacidade alia-se o passe, que sempre lhe foi reconhecido. Descobre linhas de passe e é capaz de definir no último terço onde se tem assumido como diferenciado. Não deverá faltar muito tempo para chegar às principais ligas nacionais, numa transferência que se deve realizar por valores avultados.
Victor Boniface (Union Saint-Gilloise)
A nova história de amor no mundo de futebol escreve-se a quatro, mas tem dois fatores em comum: a posição – ponta-de-lança – e a nacionalidade – nigeriana. A Europa caiu aos pés de Osimhen, Moffi, Orban e Boniface, destaque do Saint-Gilloise.
O último é a principal referência ofensiva da sensação da Liga Europa desta temporada. Deixou o Sporting de Braga para trás na fase de grupos e vai assustando os alemães no mata-mata. Já deixou para trás o Union Berlin – vitória categórica na Bélgica após empate na primeira mão – e pode repetir a história contra o Bayer Leverkusen de Xabi Alonso e Wirtz (regressou de lesão e caminha a passos largos para se tornar numa das referências da próxima década).
Os belgas sabem o que fazer dentro de campo e provocam dificuldades ao adversário. Conseguem defender-se com qualidade em bloco médio-baixo e ameaçam de forma constante em transição. Lazare Amani – já esteve em Portugal, no Estoril-Praia – e Teuma têm argumentos no meio-campo (é delicioso o pormenor do médio internacional pela pequena seleção de Malta no golo belga) e Boniface assumiu-se como referência ofensiva goleadora.
O nigeriano é mais um dos produtos do futebol nórdico e chegou esta temporada à Bélgica por apenas dois milhões de euros. Já justificou todos os cêntimos depositados na conta do Bodo/Glimt. É um fenómeno a jogar de costas para a baliza – fisicamente imponente consegue receber de costas, aguentar a pressão e segurar a bola – mas os seus atributos não se esgotam no físico. Desequilibra com facilidade no drible curto e tem veia goleadora à frente da baliza. Já tem 15 golos nesta temporada de afirmação nos principais palcos da Europa – e mais cedo ou mais tarde deverá dar o salto.
Marcel Sabitzer (Manchester United FC)
Contexto. Nenhuma palavra é mais importante para avaliar o rendimento – e o potencial, naturalmente – de um jogador do que esta. Infelizmente continua a ser esquecida, mas vão aparecendo constantemente jogadores que nos relembram da sua importância.
Marcel Sabitzer era peça secundária no Bayern de Munique. Tinha a titularidade tapada e não era peça importante no modelo de Nagelsmann – com quem já havia trabalhado antes. Chegou a Manchester e tem conquistado o seu espaço com naturalidade.
Não é pera doce o trabalho que os reds têm pela frente. A ganhar por 2-0 permitiram o empate ao Sevilha – o Sevilha adormecido em Espanha veste a capa de herói na Liga Europa, não desfazendo o hábito do passado recente – e partem para a segunda mão em igualdade. Varane e Lisandro Martínez saíram da partida lesionados, juntando-se a nomes como Shaw ou Rashford no departamento médico e Bruno Fernandes, amarelado, também falhará a partida em Sevilha.
O português foi um dos beneficiados com o aparecimento do austríaco. Sabitzer junta-se a Martial no ataque e permite ao português recuar no terreno, ver o jogo de frente e ganhar importância no passe. É magistral a assistência para Sabitzer no primeiro golo do Manchester United. O médio austríaco joga mais adiantado no terreno, aproveitando o trabalho de Martial – muito importante em apoio – para aparecer nos espaços criados pelo francês. Tem facilidade em chegar à área e os dois golos que marcou ao Sevilha não foram obra do acaso.
Hidemasa Morita (Sporting CP)

Não há um jogo do Sporting esta temporada em que os leões não tenham sido competitivos. Na Europa já quebrou maldições – Frankfurt, Tottenham, Arsenal – e a maldição italiana também esteve perto de ser quebrada, tamanha a superioridade sobre a Juventus.
A derrota explica-se pela diferença nas áreas. A Juventus marcou depois do erro de Adan numa. Na outra acumularam-se os desperdícios. Em todos os outros locais do campo o Sporting foi superior, especialmente na linha média onde brilhou Morita.
É pela conjugação custo-rendimento a contratação da época dos leões. Contra a Juventus foi o elemento mais recuado do meio-campo, fruto da ausência de Ugarte, e foi fundamental, quer pelo rendimento próprio, quer possibilitando a Pedro Gonçalves, companheiro no miolo, jogar mais avançado dentro de campo.
O nipónico é um dos jogadores mais inteligentes a atuar em solo nacional. Não é o jogador que mais se destaca se formos passando os olhos pelo ecrã, mas quando se busca ativamente o jogo é impossível não dar por Morita. Está presente em todos os detalhes do jogo. Controla os tempos e os ritmos de jogo, jogando curto ou longo, procurando um colega próximo ou recebendo orientado, superando a marcação. O pescoço não para, procurando ler o jogo, conseguindo antever o que vai acontecer. É muito forte em reconhecer espaços e identificar o melhor posicionamento, quer para receber, quer para impedir transições. Tem uma cultura tática de alto nível que lhe permite jogar constantemente em alta rotação, independentemente da função pedida por Rúben Amorim. Resumidamente, joga e faz jogar.