Nuno Espírito Santo chegou a Nottingham com o mesmo traço que sempre marcou a sua carreira: exigência, intensidade e identidade. O treinador português embarcou num clube que, depois de décadas afastado da elite, procurava mais do que apenas sobreviver na Premier League. Encontrou uma equipa insegura, emocionalmente frágil e taticamente indefinida.
Quando assumiu o comando em dezembro de 2023, o Forest lutava para não cair novamente no Championship. Nuno trouxe consigo um modelo de jogo equilibrado, sólido defensivamente e com transições rápidas, devolvendo ao plantel confiança e organização. O resultado foi imediato: o clube estabilizou, terminou a época com margem confortável e, na temporada seguinte, atingiu o que poucos acreditariam possível, uma presença europeia, a primeira em quase três décadas.


Contudo, o sucesso dentro de campo não foi acompanhado pela harmonia fora dele. As divergências com o presidente Evangelos Marinakis, sobretudo na política de contratações, tornaram-se públicas. Nuno sempre defendeu que o clube precisava de planeamento e critério; a administração, por sua vez, procurava resultados imediatos. O casamento terminou em setembro deste ano, com o Forest numa posição tranquila na tabela, mas num ambiente desgastado.
A sucessão ficou entregue a Ange Postecoglou, o técnico australiano que, apesar da conquista da Liga Europa, não deixara boas impressões no Tottenham. O discurso do treinador entusiasmou os adeptos. Prometeu futebol ofensivo, pressão alta e posse dominante, mas o campo contou uma história bem diferente. O plantel, construído à imagem de Nuno, nunca se adaptou à filosofia de Postecoglou. As saídas rápidas deram lugar a uma circulação lenta, a defesa perdeu equilíbrio e o meio-campo tornou-se vulnerável.


Em apenas oito jogos, o Forest não somou qualquer vitória e mostrou sinais de desorganização tática raros desde a chegada de Nuno. A tentativa de mudar a identidade de um grupo ainda em consolidação acabou por expor as fragilidades estruturais do clube. O resultado foi inevitável, Postecoglou saiu menos de dois meses depois, deixando o Forest num limbo, sem o rigor do passado recente, mas também sem a clareza de um novo rumo.
Após a sua saída, Sean Dyche foi o escolhido para liderar os Tricky Trees. Nomeado treinador a 21 de outubro de 2025, precisou apenas de dois dias para garantir uma vitória importante frente ao FC Porto, numa partida a contar para a Liga Europa. Um sinal de que, talvez, o Forest ainda possa reencontrar o seu caminho.


Hoje, o clube vive entre dois mundos. Ainda tem a base que Nuno construiu. Um grupo unido e uma mentalidade mais madura, mas sente as dores do crescimento, muito por culpa da instabilidade perpetuada pelo seu presidente.
No fundo, Marinakis representa a dualidade do Nottingham Forest atual: a ambição de crescer e a impaciência que ameaça esse crescimento. Sem um alinhamento claro entre direção e equipa técnica, o legado de Nuno corre o risco de ficar a meio caminho entre um sonho europeu e uma oportunidade desperdiçada.

