José, esquece lá isso e dá cá um abraço!

Sou um apaixonado pelo futebol inglês, confesso fã de José Mourinho, mas este regresso do treinador português a Inglaterra para orientar o Manchester United tem sido constantemente apunhalado. Falar do que a imprensa britânica tem dito acerca do treinador português, e nós ‘tugas’ somos obrigados a citar, já é demais. “Triste?” e “ultrapassado?” são alguns dos comentários mais depreciativos que se podem fazer a um protagonista ativo do desporto que tanto nos apaixona. Culpar o treinador ou o jogador sempre foi mais fácil.

Juntando estes dois adjetivos, venho talvez mais com coração (Mou, ‘tás’ aqui oh) do que com a cabeça tentar trazer alguma lógica para explicar o que está a passar em Old Trafford. Há um ponto de relação, a meu ver, notório. José Mourinho pode estar triste pelas condições de trabalho que lhe têm sido postas no Man. United e isso reflete-se (E MUITO) em campo. A culpa não é de José Mourinho e claro que pode haver razões para ficar triste. Nunca ficou triste enquanto trabalhava? É igual.

Ainda assim, muitos futebolistas continuam a glorificar os métodos do português, quer no treino quer em campo, e não é de um momento para o outro que se considerem essas práticas no futebol como ultrapassadas. A mente e as ideias evoluem. Para este ofício, Mourinho é muito novo, tem 55 anos, mas a porta de saída é-lhe constantemente mostrada, mais do que nunca.

Dito isto, o leitor poderá argumentar: Pogba, Alexis Sanchéz, Lukaku, Martial e muitos outros estão ao dispor de José Mourinho. Certo, um plantel recheado de grandes nomes. Mas estarão todos eles a reafirmar a qualidade demonstrada em outros clubes que lhes levou a serem transferido por uma quantidade louca de dinheiro? Para a maioria destas ‘vedetas’ a resposta é não (!) e sabemos bem que o Manchester United nunca foi feito desta fibra. Jogadores como Cristiano Ronaldo, Wayne Rooney, Ryan Giggs ou Carlos Tévez. Tinham o ‘dedo’ de Sir Alex Ferguson e sabemos disso tão bem quando falamos de CR7. Já é público que os primeiros que referi não foram necessariamente solicitados pelo treinador português à direção do United.

José Mourinho continua debaixo de fogo em Inglaterra. Vivem-se tempos complicados em Old Trafford
Fonte: Manchester United FC

Por que razão José Mourinho não tem esse à vontade na construção de um plantel em Old Trafford? Teve isso no FC Porto, no Chelsea (mesmo quando tinha sido injetado pelos camiões do petróleo russo de Abramovich) e no Inter de Milão? Há poucas escolhas que tiveram a marca Mourinho até ao momento no Manchester United mas que resultaram a olhos vistos, e por razões que já referi sobre o que se passa em campo, a espaços. Contratar Eric Bailly, Zlatan Ibrahimovic, Ander Herrera, Nemanja Matic, repescar Antonio Valencia para lateral direito e lançar Jesse Lingard foram alguns das apostas que pareciam dar certo, apesar de o avançado sueco não ter sido uma contratação propriamente barata. Em contraste, Mourinho parece ter exigido Lindelof e não está a resultar, mas quem é o treinador que nunca falhou? É nestes casos que o trabalho desta figura entra em prática: rentabilizar as qualidades um jogador que não está a progredir como esperado.

Como em qualquer negócio, se queremos ter os serviços daquela pessoa, há que dar todo o tipo de alicerces possíveis para que haja sucesso, certo? O futebol mudou muito rapidamente na perspetiva financeira nos últimos anos, sim, e simultaneamente há outra coisa que visivelmente preocupa o Manchester United: a competição feroz. A poucos quilómetros está Pep Guardiola e o poderoso City. Em Londres, o Chelsea procura voltar a vencer, hábito que começou a ter com Mourinho, continuou com Conte e quer retomar com Sarri. O Tottenham mostra mais consistência, rigor e disciplina como ninguém ao comando de Pochetino. O Liverpool ganhou um novo fôlego que parece não ter fim com a força de Klopp. O Manchester United teve um grande ciclo de vitórias com Sir Alex que durou muito, muito tempo e a direção provavelmente viu nos últimos anos que a solução seria comprar desalmadamente pois há também uma necessidade lógica de manter a marca mundial que o clube se tornou. A pressão subsiste.

Primeiro a derrota frente ao Brighton e agora três golos sem resposta frente ao Tottenham
Fonte: Manchester United FC

Voltando a José Mourinho e nunca esquecer que estamos provavelmente perante o melhor treinador português de sempre, a memória é (muito) curta em Old Trafford. Tanto quiseram um United de volta à Liga dos Campeões depois dos desaires de David Moyes e Louis van Gaal, Mourinho deu isso no ano estreia com a conquista de um troféu nunca conquistado pelo United, a Liga Europa, mais a Taça de Inglaterra e a Taça da Liga para aumentar ainda mais o palmarés. Ficou em sexto lugar no campeonato e no ano seguinte pediu-se consistência. Terminou em segundo lugar na passada edição da Premier League (classificação que já parecia uma miragem tendo em conta os últimos anos), garantindo sem riscos a Liga dos Campeões. Agora, a época não arrancou bem, mas que tal dar tempo e espaço para o homem que raramente falhou no final de contas? Não me venham outra vez com a teoria da terceira época que deixa de funcionar.

Agora que somou a segunda derrota consecutiva em três jornadas da Premier League, no primeiro jogo grande da época diante do Tottenham (0-3, pesado), a onda de críticas a José Mourinho vai avolumar. As respostas que ele dá a muitos jornalistas tornam-se virais pela ironia e agressividade, mas ele, tal como todos nós, temos de argumentar. O que pode ser o melhor nesta altura? Devia sair da mesma forma que entrou. Arrumar a ‘trouxa’, abandonar o Manchester United, parar durante algum tempo e perspetivar um novo destino, para voltar mais forte. Quem perdeu a esperança ou desvaloriza José Mourinho é desrespeitar o crescimento e notoriedade que o futebol português teve nos últimos quase 20 anos.

Não estou a pensar por ele, nem nunca faremos isso por alguém, mas isto é dito por um jovem seguidor que o tanto admira e não perdeu nem um pouco desse fascínio. Sabemos que talvez volte a Portugal para ser selecionador nacional, mas isso ainda é muito cedo para quem tem dado muito pelo futebol do velho continente. Sugiro-lhe um lugar com estabilidade e ambicioso nas doses certas, quem sabe novamente em Itália? Um abraço, José!

 

Foto de Capa: Manchester United FC

Artigo revisto por: Jorge Neves

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Francisco Correia
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Desde os galácticos do Real Madrid, do grandioso Barcelona de Rijkaard e Guardiola, e ainda a conquista da Liga dos Campeões do Porto de Mourinho em 2004, o Francisco tem o talento de meter bola em tudo o que é conversa, apesar de saber que há muitas mais coisas que importam. As ligas inglesa e alemã são as suas predilectas, mas a sua paixão pelo futebol português ainda é desmedida a par com a rádio. Tem também um Mestrado em Jornalismo na Escola Superior de Comunicação Social, em Lisboa.                                                                                                                                                 O Francisco não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.

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