«Nunca antes na história deste desporto, um defesa central reuniu todas estas características, e é exatamente por isso que o Virgil van Dijk é o defesa central mais completo da história».
O primeiro aspeto a sublinhar sobre um tema destes, que envolve rankings fictícios e subjetividade, é que não há consenso nos critérios a utilizar para identificar o melhor jogador de uma certa posição. Por isso, tudo o que se seguirá vem com um toque pessoal de alguém que é novo o suficiente para não se lembrar dos grandes defesas do século XX.
Contudo, desde que vejo futebol, já me deparei com Sergio Ramos, Nemanja Vidić, Rio Ferdinand, John Terry, Giorgio Chiellini, entre muitos outros que têm redefinido a imagem do defesa central. Mas se vi todos estes centrais, que são celebrados não só pela qualidade inerente, mas também pela longevidade de anos no topo do futebol mundial a ganhar títulos nacionais e internacionais, porque é que o melhor defesa central da história haveria de ser alguém que chegou à elite da modalidade, pela porta do Liverpool, com apenas 26 anos e poucos títulos conquistados, e mesmo em Merseyside, já falhou praticamente uma época por lesão e se apresentou numa outra (2022/23) abaixo do nível esperado?
Primeiro, defendo a opinião que os títulos não são o argumento mais importante para este tipo de discussão, porque estão livres de contexto e dependem de vários fatores exteriores (colegas de equipa, treinadores, adversários, etc.). Portanto, o mais prudente parece ser isolar o jogador e analisar as suas características.
Virgil van Dijk mede 193cm, pesa 92kg e joga predominantemente com o pé direito. Fisicamente, é um dos jogadores mais dominantes do mundo a disputar duelos e, embora a lesão no joelho lhe tenha tirado alguma da sua aceleração e velocidade, continua a conseguir acompanhar adversários mais rápidos pela maneira como defende o espaço, mostrando a sua inteligência tática. Lê o jogo melhor que qualquer outro defesa, visível no timing de marcação-desarme e em como defende situações de igualdade ou inferioridade numérica.
À cabeça vem o lance em que defronta (sozinho) Moussa Sissoko e Son Heung-min, em que em vez de se focar no homem da bola, o francês, dividiu atenções, impedindo o passe para o coreano (homem mais perigoso a finalizar) e orientando Sissoko para um remate com o seu pé menos favorito, o esquerdo. O lance foi um sucesso defensivo, com a bola a acabar na Anfield Road Stand. Ofensivamente, é uma ameaça na bola parada, conduz bem a bola (embora não o faça muito, preferindo adotar uma postura mais cautelosa no campo) e tem uma grande abrangência de passe.
Nos tempos de Trent Alexander-Arnold como lateral aberto e profundo, era comum receber um passe longo e preciso de van Dijk que o colocasse na melhor posição possível de cruzar, passar ou rematar, algo que já se vai vendo com Conor Bradley.
Concluindo, estamos a falar de um jogador exímio a defender o jogador e o espaço, dominante no jogo aéreo, agressivo e assertivo nos duelos e desarmes, calculista na marcação e preciso no drible e passe (curto e longo). Ah, falta salientar uma característica muito importante que tem ajudado muito o Liverpool e a seleção neerlandesa.
Para além de excelente no plano físico, técnico e tático, van Dijk mostra ser um líder nato, com o melhor exemplo possível a ser a mais recente final da Taça da Liga inglesa, em que acabou em campo com um conjunto de colegas maioritariamente composto por jovens e liderou a equipa pela ação, compostura, pedagogia e encorajamento. Escusado será dizer que foi ele quem marcou o golo da vitória já no final do prolongamento.
Nunca antes na história deste desporto, um defesa central reuniu todas estas características, e é exatamente por isso que o Virgil van Dijk é o defesa central mais completo da história deste desporto. Deixo ao vosso critério se é o melhor. Já sabem a minha opinião…
