Depois de uma primeira meia-época em que foi atirado às feras da Premier League para tentar a difícil tarefa de salvar o lanterna vermelha Hull City da despromoção, Marco Silva teve, esta época, a oportunidade de assumir o comando técnico de uma equipa da Premier logo desde o início da época, talhando um plantel à sua medida. Mercado não lhe faltava depois de quase conseguir salvar o Hull da despromoção e, apesar do interesse de Southampton e Crystal Palace, acabou por optar pelo Watford.
Tendo a quase total liberdade na construção do plantel, o técnico português não hesitou em reforçar o poder de fogo do seu ataque, tendo recrutado Andre Gray ao Burnley por mais de 20 milhões de euros e Richarlison ao Fluminense por mais de 12. Também o setor intermédio recebeu reforços de peso, como os jovens talentosos Will Hughes (nove milhões, ex- Derby County) e Nathaniel Chalobah (seis milhões, vindo do Chelsea) ou ainda o mais experiente e de créditos firmados Tom Cleverley (9,3 milhões, vindo do Everton). A defesa foi o setor menos reforçado, destacando-se apenas as Kiko Femenia e Marvin Zeegelaar.
Depois de uma pré-temporada onde conseguiu incutir nos seus jogadores os seus princípios de jogo, o início de época do Watford de Marco Silva foi espetacular, o melhor da história do clube. Melhor seria quase impossível, uma vez que à oitava jornada era quarto classificado com 15 pontos, encontrando-se à frente de Chelsea, Arsenal e Liverpool. Ainda por cima já tinha defrontado três dos seis candidatos ao título! A partir daqui, augurava-se muito dos Hornets, que não corresponderam minimamente às expectativas criadas em seu redor, isto porque nos catorze jogos realizados desde essa oitava jornada, apenas conseguiu três vitórias e um empate, averbando onze derrotas (algumas delas com adversários diretos, como Stoke, Brigthon, Huddersfield e Swansea).
Uma das possíveis explicações é a pressão mediática depositada no clube, depois de um arranque tão positivo, tendo a equipa sucumbido a nível psicológico. Mas a explicação mais plausível é o aproveitamento das fragilidades defensivas do Watford, por parte dos adversários dos Hornets. É que os Hornets têm a segunda pior defesa do campeonato! Olhemos para a defensiva da equipa: Gomes é titularíssimo na baliza, mas não dá a segurança necessária, sendo capaz do melhor e do pior; na lateral esquerda, Zeegelaar continua a apresentar as lacunas que apresentou por cá e Holebas, depois de um início fulgurante, perdeu gás e… o lugar no onze; no lado direito, Kiko vinha sendo regular, mas uma lesão atirou-o para fora da equipa, sendo que Jaanmat também pouco tem acrescentado; mas é na questão dos centrais que está a maior lacuna pois nem Kabasele, nem Wague nem mesmo Prodl apresentam nível de Premier League e Britos, que vinha sendo o mais regular, tem estado lesionado. Conclusão: 40 golos sofridos em 22 jogos, registo apenas “superado” pelo Stoke.
No entanto, o meio campo dos Hornets é bastante forte, com o possante Doucouré a realizar uma excelente época, o experiente Cleverley a ser um box-to-box fiável e com o talentoso Hughes a confirmar a aposta, embora tenha sofrido uma lesão comprometedora, tal como Chalobah que vinha rubricando exibições interessantes. Na frente de ataque, um nome sobressai dos demais: Richarlison. O jovem brasileiro nem precisou de se adaptar ao estilo de jogo europeu. Foi chegar, ver e brilhar. De tal forma que já leva cinco golos e outras tantas assistências, chamando a atenção dos tubarões europeus. O problema é que a restante frente de ataque não está na mesma forma: Carrillo e Okaka têm apenas um golo, Deeney dois e Gray três. Mesmo assim, o Watford é o segundo melhor ataque sem contar com os big-6, pelo que são mesmo os seus erros defensivos que funcionam como “tiros nos pés”.
Se olharmos exclusivamente para a posição na tabela classificativa, pode parecer que o Watford está num confortável décimo lugar. No entanto, está apenas com cinco pontos de vantagem para os lugares de descida…
Nem Marco Silva era o melhor treinador da Premier League quando estava em quarto lugar, nem é o pior agora. Tem de aproveitar esta janela de transferências para reforçar a sua defesa, nomeadamente o eixo central da defesa e a baliza. Ganhando a estabilidade defensiva, a equipa revitalizar-se-á e conseguirá fazer um campeonato mais tranquilo e, quiçá, surpreender outro dos tubarões.
Foto de capa: Watford FC
Artigo revisto por: Beatriz Silva