Quando um clube decide avançar para a contratação de Antonio Conte, sabe que está a apostar num conjunto de caraterísticas táticas, técnicas e mentais, com um perfil muito próprio e com uma identidade de jogo que está fortemente associada à personalidade do treinador Italiano. Quando as pessoas ouvem o nome de Antonio Conte, três coisas surgem imediatamente na nossa cabeça: a sua farta e gloriosa cabeleira, a sua forte exigência e a formação 3-5-2. Olhando para um artigo interessante sobre esta materia, podemos traçar alguns destaques importantes.
O antigo médio que jogou em apenas dois clubes na sua carreira (US Lecce e Juventus FC), já vai no seu oitavo projeto enquanto treinador. Começando em 2005 como adjunto no SSR Siena, passa para treinador principal do SS Arezzo, onde está duas épocas antes de fazer as malas para FC Bari, onde conseguiu uma subida à primeira divisão. Consegue dar o salto para a Atalanta BC antes de voltar a Siena. A partir de aqui a história e inovação tática de Conte passa a ser sobejamente conhecida e ganha outro tipo de notoriedade.
Em 2011 a Juventus FC vivia um período conturbado em consequência da descida de divisão provocada pelo escândalo de corrupção desportiva, apesar de se ter estabelecido novamente no primeiro escalão. Contudo, este regresso à principal liga de futebol Italiano estava longe de ser fácil, e os bianconeri procuravam ainda uma reafirmação no futebol transalpino. Depois da contratação falhada de Luigi Del Neri, o antigo capitão Antonio Conte foi o eleito para a difícil tarefa de reconstruir uma Juventus FC habituada a muitos troféus.
Depois de uns meses iniciais em que procurou implementar outros sistemas táticos, cedo Conte verificou que o plantel tinha lacunas em posições essenciais, o que o levaram, de forma natural, a caminhar para o seu conhecido 3-5-2 e que resultou num registo defensivo notável (apenas vinte golos sofridos logo na primeira época). Depois de três títulos consecutivos da Liga Italiana com a Juventus FC, e dois anos no comando da seleção italiana (sem títulos, mas seguramente com a Itália mais surpreendente dos últimos anos, que acaba por ser eliminada do Europeu de 2016 contra a Alemanha, apenas nas grandes penalidades), Conte chega a Inglaterra, onde faz uma época de estreia absolutamente inacreditável, com o seu 3-5-2 a levar os blues para uma tranquila conquista da Liga inglesa, com Diego Costa, Kante e Matic a assumirem um papel essencial na manobra da equipa.
O projeto acabou por correr menos bem na segunda temporada por conta do outro de lado menos positivo de Antonio Conte: o Italiano é conhecido por ser um “sargento implacável”, que se por um lado permite manter uma certa disciplina e união de grupo, por vezes leva a que o treinador prescinda de jogadores absolutamente essenciais, como aconteceu com Diego Costa e Matic, ou como viria a acontecer mais tarde com Icardi ou Radja Nainggolan.
Atualmente, Conte é treinador do FC Inter de Milão onde está a fazer ma época notável, voltando a colocar os nerazzurri na luta pelo título, coisa que não acontecia há já vários anos, foi até às meias finais da Copa de Itália e fez uma Champions League bastante interessante, onde não consegue passar a fase de grupos por muito pouco num “grupo da morte” com FC Barcelona e Borussia Dortmund.
O sistema de Conte baseia-se em algumas premissas essenciais: um trio de centrais forte e com capacidade de circulação e bola no pé, dois alas bastante ofensivos com grande capacidade para realizar cruzamentos para a área, meio campo coeso (quase sempre com três unidades na zona central) e uma dupla de avançados composta por um jogador mais físico e posicional e um jogador mais rápido e solto.
No momento da posse e da construção, um dos médios recua ligeiramente para ajudar os centrais, por forma a atrair o adversário e conseguirem lançar ataques na profundidade. Os alas têm de ser verdadeiros atletas, com velocidade e capacidade física para subir e descer ao longo de todo o flanco. Os médios escolhidos por Antonio Conte são normalmente uma combinação entre artistas e portentos físicos. Os centrais tem de ser altamente inteligentes, com capacidade para sair a jogar e tecnicamente dotados.
No caso concreto do FC Inter de Milão, os dados falam por si, já que ao fim de 26 jogos a equipa regista o quarto melhor ataque e a terceira melhor defesa do campeonato. Como acontece muitas vezes, o Inter é muito flexível na disposição dos seus jogadores, colocando nuances que permitem alterar ligeiramente o sistema de acordo com as caraterísticas do adversário e do jogo em questão.
Mas o grande trunfo do 3-5-2 é a polivalência e liberdade dada à dupla de avançados. Podendo utilizar jogadores com características distintas como Romelu Lukaku, Lautaro Martínez ou Alexis Sánchez, Conte tem ao dispor três atacantes de alta qualidade, o que lhe permite em certos momentos mudar o sistema para um 3-4-2-1 com o meio campo a subir um pouco as linhas e a zona de pressão.

Em certos momentos, os processos implementados são até bastante simples, tentando com regularidade uma jogada típica em que a bola é colocada no avançado mais possante e posicional e o mesmo recebe, segura e procura os apoios frontais ou a rotação para lançar na profundidade o outro avançado mais móvel ou um dos alas. É um tipo de jogada que é utilizada com frequência, tendo até em conta a capacidade física de Lukaku. A verdade é que no sistema do treinador Italiano não há nenhum jogador que não assuma relevância no momento de construção da equipa. Lukaku é importante nesta fase do jogo já que é capaz de manter a bola em posse e esperar o momento certo para o passe, permitindo que a equipa crie opções de ataque. Ao todo, 74,95% de seus passes são bem sucedidos, o que são números bastante satisfatórios. Já Lautaro Martinez procura sempre abrir espaço para avançar pela zona central, cabendo aos alas e muitas vezes aos médios centrais explorar o espaço enquanto Lukaku segura a bola.

Mas quando é preciso fazer golos, a flexibilidade do sistema de Conte permite subir os dois alas, fixar os dois avançados e colocar a equipa numa espécie de 3-3-4 com a “carne toda no assador”.
No momento defensivo, não podemos esquecer que se trata de um treinador Italiano, e como tal, a prioridade é sempre a consistência da equipa, razão pela qual não tem qualquer pudor em descer os seus alas, se o jogo a isso obrigar, criando uma linha de cinco a defender, com dois médios a realizar trabalho de contenção. O médio defensivo (neste caso Brozovic, mas o mesmo acontecia com De Rossi, Pirlo ou Kante) é fulcral não só no equilibro defensivo da equipa, mas igualmente no momento de construção, já que a sua mobilidade permite atrair os adversários, criando espaço para a entrada dos jogadores mais ofensivos. Os setores estão sempre muito próximos, para que cada jogador possa receber a bola e imediatamente ter em aberto várias possibilidades de passe.

No entanto, a especialidade do 3-5-2 de Antonio Conte é a forma rápida e inteligente como contra-ataca, conseguindo ser uma equipa que aguarda pacientemente pelo momento para causar dano no adversário, o que quase sempre consegue. Sem ser uma equipa muito goleadora, a verdade é que tanto em jogos “grandes” como nas partidas com equipas de menor renome, as equipas de Conte é sempre muito perigosa em todos os contra ataques, sendo impressionante ver como a equipa muitas vezes posicionada de forma recuada e privilegiando o momento defensivo, consegue, em poucos segundos e com poucos toques na bola, criar desequilíbrios no ataque, criando superioridade numérica em relação ao adversário, ou então explorando de forma eximia os erros defensivos contrários.

Como pontos mais negativos, destaco a dependência da boa forma física dos jogadores, que têm de apresentar uma disponibilidade física gigante para conseguirem dar resposta a todos os momentos de jogo de forma eficaz. Paralelamente, quando a equipa adversária consegue anular ou neutralizar as ações de Lukaku (ou quando o mesmo não está tão inspirado), a equipa perde soluções, torna-se mais previsível e mais fácil de anular. Algumas das perdas de pontos do Inter nesta temporada foram muito pela incapacidade de Lukaku executar a sua função nos termos descritos.

Conclusão: Conte além da forma apaixonada como vive o jogo, tem um paradigma muito próprio, que foi uma lufada de ar fresco e que permitiu revolucionar e modernizar o conhecido catenaccio. A contratação do Italinao tem sido sinónimo de títulos, competência e competitividade, e talvez por isso, o FC Inter de Milão fez uma forte aposta para conseguir regressar ao topo do futebol transalpino. Pessoalmente é dos treinadores que mais me encanta, não só pela paixão que coloca dentro e fora de campo, mas também pela capacidade que tem de ir “ao mercado” contratar jogadores à sua imagem, que encaixem na perfeição no sistema implementado. É um treinador com uma identidade própria, com um sistema e dinâmicas próprias, que o mesmo assume sem rodeios, e que quando é colocada em prática quase sempre resulta e leva as equipas ao sucesso. Peca por algum excesso de disciplina e de inflexibilidade na relação com os jogadores, o que por vezes cria incompatibilidade no seio do grupo.
Aguardo com expectativa para ver se será Conte a conseguir devolver os títulos ao FC Inter de Milão. Não tenho dúvidas, há semelhança do que aconteceu na Juventus FC, na seleção Italiana e no Chelsea FC, que é o homem certo para o cargo.