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cab serie a liga italianaA repetição de uma situação faz com que a encaremos de forma mais fria e racional à medida que ela nos vai reaparecendo. O nervoso miudinho de lidar com algo pela primeira vez desaparece, e a ansiedade de falhar vai desaparecendo à medida que a situação é sucessivamente superada com sucesso. Psicólogos e psiquiatras apelidarão este processo de dessensibilização, analistas de futebol de crescimento, relacionando-o com a evolução de um jogador, que encara jogos de elevada pressão de forma cada vez mais desinibida à medida que vai crescendo na carreira.

Atinge-se um certo ponto de maturidade, e a partir daí começa-se a lidar com dérbis, finais ou jogos entre equipas aflitas para não descer de divisão com maior naturalidade. O fervor e a pressão que as bancadas emanam e o peso que um título ou um emblema exerce sobre o jogador vão sendo, com o passar dos anos, transformados em exibições acima da média exibida em encontros anteriores pela importância que este representa.

Um Derby della Capitale (Roma), porém, vai muito além do vulgar jogo com “pressão” ou uma final de qualquer coisa. É, sim, um campeonato privado entre Roma e Lazio, que remonta a 8 de Dezembro de 1929. Um confronto de duas regiões inseridas numa das mais importantes capitais europeias (ou talvez a mais importante, se olharmos para a história da civilização), um duelo de ideologias, a definição de quem é melhor, um jogo que se prolonga muito além dos 90 minutos e chega mesmo a marcar uma época. O Derby Capitolino é um dos espectáculos mais bonitos do futebol mundial, um dos marcos do desporto-rei, mas também um dos que mais pressão exercem sobre os seus protagonistas.

Homens de barba rija passaram por ele e por tudo o que o envolve… e tremeram. Terão passado noites em claro antes de o disputar pela pressão que este acarreta. Nomes históricos como os de Alessandro Nesta, Paul Gascoigne, Michael Laudrup, Pavel Nedved, Verón, Vieri, Hernán Crespo, Marcelo Salas, Roberto Mancini, Di Canio, Aldair, De Rossi, Falcao (o brasileiro), Conti, Cafu, Delvecchio, Fabio Capello, Rudi Voller, Walter Samuel, Emerson, Francesco Totti ou Gabriel Batistuta passaram por isso e guardam dessas noites mal dormidas e dos duelos que se sucederam a seguir histórias que contarão a atletas/aprendizes, filhos, netos e bisnetos.

Alguns deles tiveram o privilégio de conseguir encarar estes encontros “apenas” com o “nervoso miudinho” (que a dessensibilização não conseguiu retirar) inerente a estes duelos, mas apenas um poderá alegar-se verdadeiramente dessensibilizado para a ansiedade do Derby Capitolino: Francesco Totti.

"Selfie" histórica Fonte: Facebook da AS Roma
“Selfie” histórica
Fonte: Facebook da AS Roma

A noite do passado Sábado (dia anterior ao último Roma-Lazio) terá sido passada de forma tranquila, afinal, já está próximo de completar uma Serie A inteira (35 jogos, recorde) destes jogos. A saída para o passeio matinal de Domingo terá ocorrido de forma tranquila, e a viagem de autocarro até ao “Olímpico” foi passada quase como se fosse disputar outro jogo qualquer… e parecia estar a encará-lo como tal durante a primeira parte. Porém, quando teve de arregaçar as mangas e responder à pressão de um resultado negativo (a Roma perdia por 2-0 ao intervalo), voltou a ter a genica do miúdo que se estreou em 1994 com a camisola giallorossi e que em 1998 se estreou a marcar no dérbi, sentenciando uma das melhores edições deste duelo ao fixar o 3-3 final. Terá ficado frustrado com o resultado e, matreiro e conhecedor de todos os truques que existem, escondeu-se ao segundo poste e finalizou da melhor maneira um cruzamento de Strootman para reduzir a desvantagem. Não foi suficiente e, novamente escondido ao segundo poste, conseguiu, em esforço, numa execução notável que só a experiência e o talento de um predestinado podem proporcionar, igualar a partida e evitar que a Roma saísse do Derby Capitolino sem pontos.

Celebrou o 2-2 com os adeptos com a mesma alegria do Totti que igualara a três o primeiro dérbi de Roma de 1998/1999. Só que na altura não tinha um iPhone para tirar a “selfie” (ou auto-retrato, para os puristas da nossa língua) que comprovasse o sorriso genuíno e a expressão de deleite que só um jogador num encontro desta dimensão alcança.

No dia 11 de Janeiro de 2015, duas décadas depois (!!!) de se estrear com o emblema da Roma, Totti fixou-se como o melhor marcador de sempre do Derby della Capitale em jogos da Serie A (Dino da Costa detém o mesmo número de golos, mas dois deles conseguidos na Coppa Italia), marcando o 11º tento ao rival eterno, que lhe vincou o estatuto de lenda viva e activa do futebol mundial e o de figura maior de um dos encontros mais mediáticos do desporto-rei. O único com legitimidade para se autoproclamar Il Re di Roma*.

*O Rei de Roma

Foto de Capa: Facebook da AS Roma

Pedro Machado
Pedro Machado
Enquanto a França se sagrava campeã do mundo de futebol em casa, o pequeno Pedro já devorava as letras dos jornais desportivos nacionais, começando a nascer dentro dele duas paixões, o futebol e a escrita, que ainda não cessaram de crescer.                                                                                                                                                 O Pedro não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.

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