
Em Turim, a Juventus e o Como 1907 protagonizaram o derradeiro confronto da jornada inaugural do campeonato italiano. Um embate imensamente promissor entre Thiago Motta e Cesc Fàbregas, que representam a vanguarda de uma nova geração de treinadores. Ambos os técnicos possuem uma filosofia de jogo semelhante, sustentada pela posse de bola, pela adequada ocupação dos espaços e pela eficácia na transição defensiva.
Face à magnitude dos dois emblemas, é evidente que os seus objetivos coletivos possuem dimensões distintas, embora se aproximem no grau de dificuldade que implicam. Thiago Motta, à frente da Vecchia Signora, um clube tão resultadista, tem a tarefa de devolver à Juve a hegemonia do futebol italiano. Cesc Fàbregas, agora como técnico principal dos Lariani, possui a difícil responsabilidade de assegurar a manutenção na Serie A.
Os Bianconeri impuseram-se ao Como, vencendo por três bolas a zero e iniciando de forma perfeita a era Thiago Motta. Abaixo, destaco alguns detalhes técnico-táticos que explicaram em parte a vitória da Juventus frente ao Como.
Variabilidade na construção da Juventus
Apesar do curto período de Thiago Motta no comando técnico da Juventus, a sua influência já é nitidamente percetível. Na primeira fase de construção, a equipa revelou uma fluidez e variedade notáveis. O técnico ítalo-brasileiro atribui grande importância à ocupação inteligente dos espaços, evidenciando que um mesmo espaço pode ser ocupado por diferentes jogadores ao longo da partida.
Com isto, e conforme as exigências do jogo, a Vecchia Signora foi alternando entre uma linha de três ou quatro defesas, com diversas trocas posicionais. A dinâmica mais frequente no processo construtivo dos Bianconeri, especialmente no primeiro tempo, foi a utilização de uma linha de quatro defensores e um duplo pivô. O setor mais recuado era composto por Juan Cabal, Bremer, Gatti e alternadamente por Cambiaso ou Weah.

A presença de Thuram na dupla do meio-campo revelou-se uma constante ao longo da partida, tendo como parceiro, em algumas ocasiões, o turco Kenan Yildiz. Em momentos de maior aperto, Cambiaso fixou-se ao lado de Thuram para facilitar a saída de bola da Juve. O italiano é um jogador extremamente resistente à pressão, um fator crucial para combater a pressão intensa dos conjuntos adversários.
Locatelli assumiu, por vezes, um posicionamento interessante ao lado de Vlahovic, ameaçando constantemente o ataque à profundidade. A presença de vários jogadores em zonas avançadas não só impede que a equipa adversária sufoque o seu rival, como também pode criar espaço entre o setor médio e o defensivo, através da exploração da profundidade.
Uma nuance tática bastante ilustrativa do dinamismo na construção da equipa de Turim esteve exatamente relacionada com o posicionamento de Locatelli. Se em variados momentos se fixou ao lado do avançado sérvio, nos segundos 45 minutos passou a atuar como defesa-central, com a largura a ser conferida por Gatti.
O Como nunca conseguiu contrariar a Juventus, que demonstrou possuir recursos infinitos neste momento do jogo.
Processo defensivo dos Bianconeri
Thiago Motta baseia-se numa ideia de proatividade com e sem bola. Na sua tese, o ítalo-brasileiro faz referência a Joachim Low e à Alemanha que disputou o mundial de 2014 e o campeonato europeu de 2016. O treinador da Juve relembra o confronto entre Alemanha e Itália em 2016 de modo a destacar a postura da Mannschaft quando não possuía a bola.

A Squadra Azzurra recuperou apenas cinco bolas no seu meio-campo ofensivo, contrastando com as 22 que a Alemanha roubou no meio-campo defensivo italiano. A equipa alemã era extremamente agressiva e pressionava muito subida no terreno, sendo que esta dinâmica foi igualmente visível na estratégia do emblema de Turim. A Juve foi aniquilando o Como, pressionando ora em 4-4-2 ou em 3-4-3. A equipa revelou uma enorme coordenação e agressividade no momento de pressionar, forçando imensos erros por parte dos comandados de Fàbregas.
Yildiz e Cambiaso
A dupla Yildiz e Cambiaso protagonizou uma exibição estratosférica. Ambos desempenharão, sem dúvida, um papel preponderante na manobra da Vecchia Signora. O turco com uma grande liberdade posicional, exibindo uma habilidade tremenda no drible e em espaços curtos (assistiu para o primeiro do encontro). Por sua vez, o italiano foi extremamente interventivo na construção da Juventus, gerindo os ritmos de jogo inteligentemente e coroou a sua fantástica prestação com um golo magnífico.
Estreia impotente de Fàbregas
Embora não se aguardasse uma noite fácil para Fàbregas e os seus comandados, a exibição do conjunto da Lombardia foi caracterizada por uma manifesta e total incapacidade. Com erros na construção (Reina e Moreno com dificuldades), manifestou sérias dificuldades para agredir a linha defensiva dos Bianconeri e revelou-se sempre ineficaz a pressionar (4-2-4 facilmente combatido pelo dinamismo da Juve).
As alterações forçadas não ajudaram, com a saída de Baselli a retirar argumentos construtivos à turma de Fàbregas (fundamental na saída a três). Contudo, determinadas decisões levadas a cabo pelo treinador espanhol levantam pontos de interrogação. Alberto Moreno expressou um desconforto contínuo, atuando como lateral direito. Apresentou problemas a defender e raramente deu profundidade a atacar.

A tentativa de implementar uma pressão em zonas altas é uma premissa na filosofia de Fàbregas, mas o Como enfrentou desde cedo tremendas dificuldades em pressionar eficazmente (espaço entre setores). Em adição, o recém-promovido à Serie A revelou graves debilidades na transição defensiva, com baixos índices de agressividade no momento da perda da bola (dois dos golos da Juventus surgem em contra-ataque).
Com isto, o espanhol poderá eventualmente ajustar a sua pressão, utilizando um bloco médio-baixo, reduzindo a distância entre setores em confrontos com equipas que apresentem uma elevada variabilidade de opções na primeira fase de construção (Inter e Atalanta, por exemplo). Mantendo o princípio de pressão em terrenos adiantados, Fàbregas poderá tentar igualar o número de intervenientes no processo construtivo adversário. No entanto, isto implica uma excessiva disponibilidade física dos seus jogadores.