Pesadelo em Milão

    Os dois clubes de Milão estão actualmente a atravessar uma fase menos boa da sua existência. Ambos estão completamente afastados da luta pelo título e neste momento encaram a qualificação para a Liga Europa do próximo ano como uma vitória. Como chegámos a isto?

    O Inter comandado por José Mourinho ganhou o primeiro e único treble na história do futebol italiano em 2009/2010, conquistando a Serie A, a Taça de Itália e a Liga dos Campeões. Na época seguinte, Mourinho assumiu o comando técnico do Real Madrid e as rédeas deste Inter fabuloso que conseguiu manter a equipa intacta de um ano para o outro foram dadas a Rafael Benítez.

    Benítez, por despeito a Mourinho ou por burrice apenas, decidiu tentar construir um Inter à sua imagem em vez de aproveitar uma equipa feita e com rotinas que tinha acabado de atingir o título máximo do futebol europeu. Os efeitos foram imediatos e, apesar da conquista do Mundial de Clubes, da Supertaça Italiana e da Taça de Itália (esta por Leonardo e não por Benítez), o Inter perdeu o seu primeiro título em seis anos, curiosamente para o seu rival da cidade, o Milan, que não ganhava a Serie A desde a época 2002/2003.

    O dominio do Inter em Itália na era pós CalcioCaos acabava, então. Pior do que isso, no espaço de dois anos o clube deixou de ser um candidato sério à conquista do título e não se qualifica para a Liga dos Campeões desde a época 2010/2011. Benítez nem seis meses esteve à frente do clube, tendo sido substituido por Leonardo em Dezembro. Foi o brasileiro que veio a ganhar a Taça de Itália no final da época e foi ele que levou o Inter ao segundo lugar na tabela depois de um mau arranque com o espanhol no comando. Depois de Leonardo, o Inter ainda teve Gasperini, Ranieri, Stramaccioni – nenhum deles por mais de um ano – e tem agora Walter Mazzarri, treinador responsável pelo ressurgimento do Nápoles, à frente da equipa.

    Mazzarri, juntamente com o novo dono do Inter, o indonésio Erick Thohir, espera restaurar o estatuto do Inter tanto a nível interno como europeu, o que neste momento está complicado, pois o plantel não tem opções sérias para competir pela Serie A e muito menos para fazer boas figuras na Europa. Mas, com o dinheiro que Thohir disponibilizou para a próxima janela de transferências, o clube pode reforçar-se e voltar a ser competitivo em Itália e na Europa. Fala-se de Vidic, Evra, Sagna, Torres, Dzeko, entre muitos: tudo jogadores que representariam uma melhoria em relação ao plantel actual. Há alguma luz ao fim do túnel.

    Ao contrário do Inter, no futuro do Milan não há luz nenhuma. Pelo menos nenhuma que se veja de momento. O clube despediu Massimiliano Allegri, o arquitecto do título de 2010/2011, e decidiu oferecer o lugar a Clarence Seedorf, que na altura era ainda jogador do Botafogo. Isto tinha tudo para dar certo. O Milan é um habitué na Liga dos Campeões, competição que já ganhou por sete vezes, apenas sendo ultrapassado pelo Real Madrid, que leva nove, mas este ano ocupa o “modesto” décimo segundo lugar na Serie A a oito jornadas do fim, estando mais perto de descer de divisão do que do título. Desde o inicio do novo milénio, o Milan foi apenas campeão por duas vezes: em 2003/2004 com Ancelotti e em 2010/2011 com Allegri. São apenas dois títulos em catorze anos mas, apesar deste “insucesso” interno, o clube esteve sempre, ou quase sempre, na corrida pelo título e conquistou duas Ligas dos Campeões, em 2002/2003 e 2006/2007, ambas com Ancelotti.

    Os tempos de glória do AC Milan, actualmente, não passam de uma miragem Fonte: AP
    Os tempos de glória do AC Milan, actualmente, não passam de uma miragem
    Fonte: AP

    Com a saída de Ancelotti para o Chelsea em 2009/2010, o clube decidiu então apostar em Leonardo, que fazia parte da direcção do Milan. A experiência fracassou e o clube foi então buscar o treinador do ano em Itália em 2008/2009: Allegri, que tinha feito um trabalho fantástico à frente do Cagliari. Allegri assumiu o comando de uma equipa que tinha Thiago Silva, Pirlo, Pato ou Ibrahimovic e levou o Milan à conquista do scudetto logo no seu primeiro ano, tendo feito um trabalho fabuloso no ano e meio que se seguiu, conseguindo apurar um Milan “mediano” para a Liga dos Campeões e passando sempre a fase de grupos.

    Pois bem, o Milan passou anos e anos sem renovar o plantel, sem apostar no futuro, confiando em grandes jogadores como Maldini, Nesta, Gattuso, Pirlo, Rui Costa, Kaká, Seedorf, Inzaghi ou Shevchenko. Estes jogadores deram tudo o que tinham ano após ano até serem vendidos ou até se retirarem, mas o Milan não soube colmatar essas perdas. Não sei se a culpa é de Silvio Berlusconi, da sua filha Barbara ou de Galliani, mas um deles fez um buraco no barco do Milan e aquilo agora mete água por todos os lados: foram más decisões atrás de más decisões, desde deixar sair Andrea Pirlo a custo zero para a Juventus até à venda de Ibrahimovic e Thiago Silva ao PSG, depois de terem sido os jogadores mais importantes da equipa durante dois anos seguidos. Pior que deixá-los sair é não preencher o vazio deixado por esses jogadores, o que explica a viagem do Milan para a terra da mediocridade. E, pelos vistos, não compraram o bilhete de volta. Venderam os ovos a Allegri e só depois lhe pediram para fazer uma omelete; quando ele não conseguiu foram buscar Seedorf, um homem da casa sem experiência alguma como treinador, o que, repito, tem tudo para correr bem; como se isso não bastasse, o plantel continua velho, cheio de arruaceiros e preguiçosos. Ou o clube muda o seu rumo rapidamente ou arrisca-se a passar uns anos negros até conseguir voltar a fazer barulho em Itália.

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    João Folgado
    João Folgadohttp://www.bolanarede.pt
    O João defende que o Porto devia acabar e o Sporting nunca devia ter existido. Carrega, Benfica! Fora de brincadeiras, para além desta paixão cega pelo clube da Luz, venera Mourinho, despreza Villas-Boas e é fã dos Boston Celtics e dos New England Patriots.                                                                                                                                               O João não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.