Uma noite quase de sonho em Atenas
Corria o ano de 1987 quando o FC Lokomotive Leipzig, da extinta República Democrática Alemã, encontrava no colossal Estádio Olímpico de Atenas o poderoso AFC Ajax, treinado pelo mestre Johan Cruyff na final da Taça dos Vencedores das Taças. Com cerca de 35000 adeptos nas bancadas do imponente estádio grego, as duas equipas subiam aos relvados determinadas em fazer história, com os holandeses a quererem voltar à senda vitoriosa do início da década de 1970 e com o emblema da Saxónia a querer escrever o nome na história do futebol do velho continente, quando contava nas suas fileiras com alguns dos melhores jogadores de sempre da antiga RDA.
Marco Van Basten capitaneava uma equipa do AFC Ajax carregada de estrelas, da qual faziam parte Frank Rijkaard, Aron Winter, John van’t Schip, Stanley Menzo, Rob Witschge e um Denis Bergkamp que tinha completado 18 anos apenas três dias antes da final. Do outro lado, René Müller, talvez o melhor guarda-redes de sempre da RDA, liderava uma equipa que passava algo despercebida do lado ocidental do muro de Berlim, mas da qual faziam parte jogadores com grande talento, como eram os casos de Hans Richter, Heiko Scholz, Frank Baum, Mathias Lindner e Uwe Zötzsche, entre outros, quase todos eles internacionais pelo seu país.
Foi um jogo bastante dividido, com algum ascendente para os comandados por Johan Cruyff, que acabariam por vencer por 1-0 graças a uma cabeçada com conta, peso e medida do incomparável Marco Van Basten. Do outro lado, porém, estava uma equipa lutadora e tacticamente bem organizada por Hans-Ulrich Thomale, que vendeu bastante cara a derrota, queixando-se ainda pelo caminho de duas grandes penalidades não assinaladas a seu favor.
No fim de contas, o AFC Ajax levou o troféu para Amesterdão e deixou um enorme amargo de boca no conjunto da ex-RDA, que, apesar da derrota, plantou na retina de todos a espetacular vitória na meia-final perante o FC Girondins de Bordeaux de Jean Tigana, que sucumbiu nas grandes penalidades no jogo da segunda mão em Leipzig, onde o experiente guarda-redes do combinado da Alemanha Oriental René Müller apontou com mestria o golo da vitória ao bater soberbamente a última grande penalidade, após ter defendido o penálti marcado pelo ex-internacional jugoslavo Zoran Vujovic, o irmão gémeo de Zlatko, que na altura também alinhava pela formação francesa.