Parece que foi ontem. Esse dia faz praticamente um ano. Tive a oportunidade de, ainda recém-chegado a esta casa muito nossa, poder escrever sobre o campeão brasileiro. E eis que essa segunda oportunidade chegou. Ela veio em forma de duplicado. E não, não estou a falar d’O Homem Duplicado – obra do ímpar José Saramago –, pese embora este título do Cruzeiro seja em muito semelhante ao anterior. No céu, mais uma vez, brilha uma constelação que resplandece os límpidos universos de Vera Cruz. Estas estrelas são cinco. Os títulos nacionais são quatro. A alegria é imortal.
No fim de um ciclo vitorioso como este, penso que não vale a pena nomear heróis. Gosto de pensar em salvadores coletivos. Uma ideia messiânica em que o próprio messias seja uno e indivisível e ao mesmo tempo pluri e que esteja em todos. Mas o que vale a pena (se a alma não for pequena) é destacar alguns pontos, estes mais objetivos. O Cruzeiro Esporte Clube soube manter a estrutura e as linhas vencedoras que já havia adquirido no campeonato de 2013. Marcelo de Oliveira provou ser um mestre no banco; Éverton Ribeiro o grande pensador; Fábio um líder; Dagoberto como o antigo rei dos Merovíngios; Marcelo Moreno completíssimo; … enfim. E claro, a torcida, que soube empurrar e manter a ansiedade do bi para dentro… e explodir na altura certa. A vitória com o Goiás por 2-1, num terreno quase impraticável devido às fortes chuvas estivais, foi mais uma demonstração de crença, num jogo que estava difícil de resolver.
O Cruzeiro está de parabéns. O futebol brasileiro também. Um campeonato bem disputado, sem querelas clubísticas ou polémicas de arbitragem de maior. Foi uma festa. No verdadeiro sentido da palavra. E deveria ser sempre assim. Os celestes tentam agora inverter, contra o rival de sempre, um resultado negativo de 2-0 na primeira mão da final da Copa do Brasil. Qualquer que seja o resultado, o título ficará – mais um – em Minas Gerais. É interessante ver o crescimento das equipas mineiras nos últimos anos.
Mas hoje, mais uma vez, o rei do Brasil brilha lá no alto, num manto cada vez mais azul. O sonho do bicampeonato realizou-se, enfim. As palavras serão sempre poucas para acompanhar mais um momento de glória alvi-celeste. Sobram então os factos, e esses são arrebatadores. O Cruzeiro Esporte Clube parece querer reinventar-se. Vai atrás dos seus próprios recordes. Tal como na música do grande cantor, mineiro de coração e cruzeirense Milton Nascimento: “será um caçador de mim.”
Foto de capa: Facebook do Cruzeiro