A pérola escondida do rio Geba

    Quem acompanha regularmente o futebol mundial sabe que todos os dias nos deparamos com novos feitos nas mais variadas categorias. Batem-se recordes de golos e assistências, de jogos nas competições europeias, de partidas sem sofrer golos, de quilómetros percorridos, de percentagem de passes certeiros, de camisolas vestidas, etc. Apesar dos números intermináveis que há para tentar bater, aquele que suscita maior entusiasmo nos adeptos é o da idade.

    Aos poucos, tem-se conseguido mudar a mentalidade dos vários agentes desportivos em relação a este aspeto. A ideia de que um jogador de 17 anos é demasiado imaturo ou a de que um de 40 já não tem pernas para os mais novos tem vindo a desaparecer. Avaliam-se, sim, os atletas pelas suas capacidades técnicas, físicas e psicológicas, juntamente com o contexto em que se inserem.

    A necessidade e vontade dos treinadores devem passar sempre por pôr os melhores a jogar. Só assim é possível praticar um bom futebol, que leva posteriormente a títulos. Daí que nunca se deva estranhar e torcer o nariz quando vemos miúdos a serem lançados às feras, porque há cada vez uma maior preparação nesse sentido. O caso mais recente é o de Ansu Fati.

    Com 16 anos, nove meses e 26 dias, Fati tornou-se no mais jovem a vestir a camisola blaugrana desde 1941. 78 anos depois de Vicenç Martínez ter atuado pelo Barcelona com 16 anos, nove meses e 20 dias, um guineense viu o seu nome correr os quatro cantos do mundo.

    O abraço de Messi a Fati após a estreia do jovem frente ao Real Bétis
    Fonte: FC Barcelona

    Anssumane (mais conhecido por Ansu) nasceu em Bissau a 31 de outubro de 2002. Aos seis anos, quando o irmão mais velho, Braima, assinou contrato pelo Sevilla FC, a família Fati mudou-se para Espanha e por lá ficou. Antes de partir para a Andaluzia, Ansu ainda esteve temporariamente no Louletano, mas nunca chegou a ser inscrito pelo clube algarvio.

    Em 2012, depois de quatro anos em Sevilha, a jovem estrela de Guiné mudou-se para Barcelona, onde pôde crescer numa das melhores escolas de futebol do mundo: La Masia. Tornou-se num extremo veloz, que pode jogar em ambos os flancos, e que tem sempre a baliza na mira. O faro para o golo é porventura a caraterística principal de Fati, que, por vezes, acaba por abusar desta apetência.

    No passado dia 25 de agosto, a hora do menino africano chegou. Face às ausências de Messi, Suárez e Dembélé por lesão, Ernesto Valverde decidiu convocar Ansu para o desafio frente ao Real Bétis. Mesmo antes de se estrear pelo Barcelona B, já merecia a atenção dos responsáveis pela equipa principal.

    Aos 78 minutos do encontro, quando os catalães venciam por 5-1, o camisola ‘31’ foi chamado a jogo em Camp Nou. No final dos 90 minutos, já nos bastidores do estádio, Messi foi abraçar o novo companheiro de equipa, em claro sinal de apoio aos mais jovens.

    Após uma semana de notícias a seu respeito, o extremo guineense despertou o interesse da seleção espanhola, que gostaria de contar com Ansu Fati já em outubro, para o mundial sub-17. Apesar da dupla-nacionalidade, o desejo de jogar pelo país de origem ou até por Portugal – devido ao pai – poderá falar mais alto.

    É o início de mais uma história promissora do futebol mundial, que começou nas margens do rio Geba, na Guiné-Bissau, e que agora se desenrola nos grandes palcos europeus. Não nos esqueçamos do nome de Ansu Fati, porque certamente ele não se vai esquecer de marcar muitos golos.

    Foto de Capa: FC Barcelona

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