José Mourinho na AS Roma: O potencial dos “Giallorossi”

    Fábio Capello, há dias, desejou-lhe boa sorte, dizendo que AS Roma é clube “muito difícil de treinar”, e Marcelo Lippi comentou que o técnico terá “muitas dificuldades em colocar os Giallorossi na liga milionária”. José Mourinho surpreendeu o mundo do futebol ao assumir, rapidamente depois do seu despedimento do Tottenham Hotspur, o comando dos romanos.

    Para alguns, uma demonstração de que está numa fase descendente da sua carreira, ao ficar ao leme de um clube que não tem almejado títulos. Para outros, uma demonstração de inteligência, ao voltar a um campeonato onde se sente confortável, com a possibilidade de trabalhar ao lado de Tiago Pinto e formar um plantel à sua medida, capaz de assegurar a presença na Liga dos Campeões ou, quiçá, intrometer-se entre na luta pelo Scudetto. Eu encontro-me nesta segunda opção.

     

    DESAFIO ALICIANTE PARA RECUPERAR A AURA “SPECIAL”

    José Mourinho pode ser muitas coisas, mas sempre foi conhecido por ter uma grande confiança nas suas capacidades enquanto treinador, forte na componente tática e, sobretudo, influente no fator psicológico dos seus jogadores. Era aqui que brilhava. Sim, falo no passado, porque desde a sua experiência no Manchester United FC – mais até que no Chelsea FC – a percepção é que terá perdido essa capacidade que o distinguia dos demais, razão com a qual discordo.

    Trabalhando nesta área e estando ligado ao meio, olho para José Mourinho como um extraordinário comunicador e motivador. Penso mesmo que da escola de treinadores portugueses, a este nível, só vejo mesmo Ruben Amorim a surgir (ainda que com estilos de comunicar o que se pretende diferentes) como um sucessor digno nesta pasta. Nota-se que ainda é um treinador “com fome” de troféus, um técnico que pretende voltar à ribalta através de projetos desportivos interessantes em contextos que lhe são algo familiares. Com a ressalva de que o futebol italiano mudou, já não é o mesmo que era quando Mourinho “limpou” tudo ao serviço do FC Internazionale Milano.

    Será que terá sucesso na Roma?

    Se assim é, o que mudou? Para mim, o que mudou foi a mentalidade dos jogadores de futebol. Cada vez são mais centrados em si próprios e menos no colectivo, cada vez são mais protegidos por empresários que não olham a meios para atingir os fins e, sobretudo, cada vez são mais “flores de estufa”, que não se podem criticar: o resultado é o amuo, que destrói a harmonia dos balneários. Veja-se o caso do conjunto de “meninos mimados” que existe no Manchester United FC, com Pogba à cabeça. Se o treinador deles tiver uma personalidade forte e tentar impor as suas regras, não vai lá durar muito tempo. Aliás, essa é a razão do sucesso de Ole Gunnar Solskjaer: não tem essa aura. Bem, do “sucesso”, entre muitas aspas. Mas adiante, há mais clubes com esse problema.

    No Tottenham Hotspur FC, o grupo não era como esse do Manchester United FC, parece-me que houve um grande choque na diferença de estilos e faltava garra à equipa, mas Mourinho, não estando isento de culpas – longe disso –, até podia ter vencido o primeiro troféu aos “Spurs” nos últimos largos anos, só que foi despedido a cinco dias da final.

    Aqui na AS Roma, apesar de encontrar um contexto difícil e exigente por parte dos adeptos, como já referi, pode marcar pela diferença em relação aos ex-treinadores precisamente com essa personalidade forte. Não me parece um balneário difícil, parece-me sim um conjunto de jogadores com algumas limitações e que tem ali um par de líderes fulcrais para a harmonia de grupo, de quem Mourinho não deve abdicar e em quem deverá centrar essa garra e solidez tática.

     

    PROJETO LUSO E REFORÇO DO PLANTEL

    Penso que aqui restam poucas dúvidas: vai haver uma limpeza de balneário e José Mourinho vai tentar rodear-se de jogadores com características que aprecia, tendo como aliado num mercado que promete ser muito interessante o ex-SL Benfica, Tiago Pinto. Não tenho dúvidas de que irá reforçar todas as posições.

    Os tais líderes de que falava serão, inevitavelmente, Pellegrini, Florenzi (que regressa de onde nunca deveria ter saído) e, caso não saia e esteja totalmente comprometido com o projeto, Edin Dzeko. Penso que os romanos vão fazer um esforço para não deixar sair estas três pedras fundamentais. Kluivert tem tudo para voltar e mostrar o que vale ao português e o mesmo vale para Olsen, visto que considero a baliza uma das posições mais frágeis da AS Roma.

    A defesa, a segunda posição mais enfraquecida deste clube, também deverá ser alvo de vários retoques. Alguns dos memes que fizeram depois do anúncio do setubalense, incidiam sobretudo em Mkhitaryan e Smalling, seus ex-jogadores no Manchester United FC que não foram nunca do seu agrado e que agora o voltavam a encontrar. Embora ache que o contexto aqui é totalmente diferente, penso que o arménio terá algumas dificuldades em afirmar-se, mas Smalling evoluiu muito no futebol italiano. Parece-me hoje mais maduro, com capacidade de liderança e menos propenso a lesões. Aos 31 anos não é nenhum velho e a sua experiência pode valer muito a esta equipa.

    Ainda assim penso que nenhum dos outros centrais tem dimensão de “Champions”, que é o que se pretende, e só vislumbro algum potencial em Kumbulla, que não é (ainda) oficialmente dos romanos. Muito se fala em Nuno Tavares para a lateral esquerda, mas honestamente não acredito nos rumores. Enquanto benfiquista ficava contente, porque era muitíssimo bem vendido, mas não creio que faça falta, com Spinazzola e o jovem promissor (esse sim) Calafiori.

    Não me chocava que Mourinho fosse contratar Dier para central, sendo um jogador em quem confia, que consegue fazer várias posições e que, à partida, teria tudo para se entender bem com Smalling. Não será o único. Florenzi, como disse, deve regressar assumir lugar preponderante, com um dos 4 (!) laterais direitos como substituto.

    No meio-campo penso que é onde tem mais matéria-prima para gerir. Villar poderá assumir-se como pedra-chave, juntamente com Zaniolo, assim que ultrapassar o seu calvário de lesões. Cristante também é muito bom jogador, há o titularíssimo Pellegrini (que faz várias posições) e ainda Veretout. Se não fosse buscar ninguém, não me chocava, mas acredito que possa chegar um jovem para ir crescendo e jogando paulatinamente ou um veterano (por exemplo, Matic) para dominar o meio-campo com mestria.

    Por fim, o ataque da Roma. Aqui creio que também vão mudar muitas coisas. Kluivert regressa e deve ser opção, juntamente com Borja Mayoral, Pedro, Dzeko, o “faraó” El Shaarawy e Carles Perez. Poderá vir mais um avançado móvel (que poderá ser Zaniolo, tal é a polivalência e talento) e tanto um médio esquerdo, como um médio direito. Carlos Vinicius poderá ser o escolhido e, avanço eu – não tenho informação privilegiada, gostava de ver Berardi e Felipe Anderson (apesar da rivalidade) nas mãos do português.

    As possibilidades são imensas, mas é certo que vamos ter um campeonato italiano ainda mais competitivo e fantástico para passarmos o fim-de-semana a ver futebol em casa! Ainda agora acabou, mas já recomeçava…

     

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    Carlos Ribeiro
    Carlos Ribeirohttp://www.bolanarede.pt
    Com licenciatura e mestrado em Jornalismo, Comunicação e Cultura, o Carlos é natural de um distrito que, já há muitos anos, não tem clubes de futebol ao mais alto nível: Portalegre. Porém, essa particularidade não o impede de ser um “viciado” na modalidade, que no âmbito nacional, quer no âmbito internacional. Adepto incondicional do Sport Lisboa e Benfica desde que se lembra de gostar do “desporto-rei”.                                                                                                                                                 O Carlos escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.