A estreia do novo formato do Mundial de Clubes 2025 está a ser uma experiência marcante no panorama do futebol de alta competição. Antes de mais, deve-se chamar a atenção para a data e tempo em que é feito.
Numa altura em que se puxa para cima temas como a saúde mental e gestão do próprio cansaço, é de lamentar que uma competição desta envergadura tenha sido expandida para incluir mais jogos e provocando mais desgaste físico nos protagonistas do espetáculo dentro das quatro linhas. Uma situação que não tende a favorecer o espetáculo, bem pelo contrário.
Mas já iniciado o Mundial, foquemo-nos no positivo a retirar e a observar. Para além da novidade que representa, este Mundial de Clubes 2025 evidenciou alguma disparidade entre a qualidade das equipas participantes e a forma como se apresentam. Durante a fase de grupos, esta realidade tem posto em causa aquilo que parecia ser a inevitabilidade do domínio europeu.
É certo que os clubes europeus se mantêm, à partida, a ser os principais candidatos a ir mais longe e a vencer a competição, mas têm sido os emblemas sul-americanos a dar um pouco mais de brilho e alma à competição.
Basta olharmos para os triunfos do Botafogo sobre o campeão europeu PSG (1-0) e do Flamengo sobre o Chelsea (3-1), tal como as interessantes igualdades entre Palmeiras e FC Porto (0-0), Boca Juniors e Benfica (2-2), Fluminense e Borussia Dortmund (0-0) e o próprio empate entre Monterrey e Inter (1-1), para confirmarmos tal ideia.
As suas exibições vibrantes, algumas vitórias inesperadas e uma atitude combativa contrastam com a contenção e alguma irregularidade de vários gigantes europeus. No entanto, a dúvida persiste: será essa alma suficiente para compensar a inferioridade técnica e tática face aos clubes da Europa?

Os bávaros foram de uma goleada esmagadora (10-0 com exibição soberba de Musiala) a uma derrota dececionante frente aos encarnados (0-1) que custou a liderança do grupo, passando por um triunfo apertado frente ao Boca Juniors (2-1).
Já os parisienses foram de uma goleada pesada infringida ao Atlético de Madrid (uma das grandes deceções do torneio) a uma vitória clara sobre a equipa mais acessível do seu grupo (2-0 ao Seattle Sounders), mas uma derrota amarga com o Botafogo deixou no ar a hipótese de levar a uma queda anímica no grupo de Luis Enrique.
Apesar de continuarem claramente a serem candidatos a vencer o Mundial de clubes, Bayern e PSG não são já as equipas que mantêm a invencibilidade e não evidenciam um crescimento consistente de rendimento, como o são os “blancos” e os “citizens”.
O Real Madrid e o Manchester City têm vindo a crescer de forma evidente e surgem agora como os mais fortes concorrentes à conquista do troféu.

No caso do Real Madrid, apesar de Xabi Alonso ainda estar a consolidar o seu modelo de jogo, nota-se uma organização crescente. Frente ao Pachuca, a equipa demonstrou entrosamento e eficácia ofensiva, e já no encontro com o Al-Hilal foi possível observar uma maior consistência defensiva. Em ambos os jogos, os golos sofridos surgiram apenas em lances de bola parada, o que evidencia uma defesa mais sólida em jogo corrido.
Todas estas características se mantiveram no triunfo sobre o Salzburgo. Destacaram-se até agora Gonzalo García, Fede Valverde, Vini Júnior e Jude Bellingham.
Por sua vez, o Manchester City parece revitalizado. Com um registo 100% vitorioso nesta edição, a equipa de Guardiola volta a exibir traços do seu estilo dominante habitual, agora com novos protagonistas que dão continuidade à reformulação iniciada na segunda metade da época passada.
Resta saber se será possível manter esta regularidade, mas os sinais são promissores: o “velho” City pode estar de volta, com caras novas. Pelo grande triunfo sobre a Juventus, tudo indica que sim e o futebol agradece. Impressionantes as prestações de Doku, Foden, Gundogan, Haaland, Savinho e Rodri (a falta que faz é impressionante).

Entre os restantes clubes europeus nos oitavos, Juventus, Inter, Dortmund, Chelsea e Benfica, embora todos diferentes, partilham o estatuto de não favoritos e que têm de dar algo mais para superarem os emblemas que estão por cima nesta altura.
Uns têm oscilado entre momentos de competitividade e exibições aquém do esperado, nomeadamente os “Blues”, a “Vecchia Signora” e os “Die Schwarzgelben”. Em particular, Chelsea tem desapontado, estando claramente abaixo do seu potencial.
A Juve tem uma equipa fortíssima e muito capaz, mas a goleada sofrida com a equipa de Guardiola foi demasiado pesada para um conjunto com as suas ambições. O Borussia Dortmund, conta com um empate a zero no seu jogo mais “difícil” e com vitórias (uma delas apertada) com as equipas mais acessíveis do seu grupo.
Todos passam claramente a impressão de que ainda não estão no seu melhor para lutar pelo troféu. O Inter aparenta ser o mais regular em termos de resultados e de desempenho, ou seja, mais resultados e menos nota artística.

Já o Benfica está a ser algo cada vez mais agradável de se ver. Os encarnados apresentam cada vez mais sinais animadores dentro do campo, com melhor qualidade de jogo e capacidade de rendimento. O equipa de Lage é claramente um dos emblemas em crescendo no Mundial. Contudo, continua emocionalmente instável.
O episódio entre Kokçu e Bruno Lage é revelador dessa fragilidade. Mas creio que se tal for ultrapassado, como já aparenta ter sido, só se podem esperar aspetos positivos das águias. Uma quase derrota transformada em empate, seguida de uma goleada abissal e um triunfo sobre um colosso, mostra aquilo que um conjunto onde brilharam até agora mais Pavlidis, Di María, Kokçu, Otamendi e Barreiro pode fazer.

Do outro lado do Atlântico, os clubes sul-americanos, nomeadamente Botafogo e Flamengo (Palmeiras e Fluminense um pouco menos) mostram-se numa forma interessantíssima e com uma entrega que tem surpreendido.
Mesmo que estejam, em termos de plantel, alguns níveis abaixo dos principais emblemas europeus, continuam a alimentar a esperança de ver talvez um representante da América Latina entre os quatro primeiros. E, no futebol, o improvável acontece: a história está cheia de episódios em que “David” venceu “Golias”.
As grandes desilusões na América
Relativamente às deceções, o FC Porto e o Atlético de Madrid são os mais flagrantes. Os dragões foram a mais profunda. A equipa de Martín Anselmi revelou falta de identidade, escassa qualidade técnica e uma preocupante ausência de alma e paixão.
Já se percebia no final da época passada, e este Mundial apenas confirmou: André Villas-Boas enfrenta dois grandes problemas — treinador e plantel. A ausência de liderança e talento é visível quando o único jogador em destaque é um jovem de 18 anos.

Poucos têm o ADN ou o nível exigido para vestir de azul e branco. Muitos parecem já com a cabeça fora do Dragão.
Já o Atlético, revela que dantes tinha um pássaro na mão e atualmente tem dois a voar.
Se antigamente, o conjunto de Diego “Cholo” Simeone se caracterizava por ser uma equipa de combate e pragmática rumo ao objetivo final de vencer, atualmente a defesa perde em termos de consistência e o ataque não revela melhores números com vista a transformar os “colchoneros” como uma equipa mais virada para a qualidade de futebol jogado. O técnico argentino tem jogadores bem melhores para aquilo que se tem produzido em termos de resultados, essa deve ser a preocupação em vez de dizer que outros “têm 80 milhões” para um jogador de determinada posição.

Em contraponto, existiram equipas que caíram de pé em termos de rendimento que provavelmente mereciam um pouco mais. Aqui saúdam-se River Plate, Salzburgo e Sundowns.
O que esperar dos oitavos do Mundial de Clubes?
Olhando para os oitavos, é de caras que está em aberto o cenário das surpresas. Desde logo, existirão três jogos de tripla: Palmeiras-Botafogo, Benfica-Chelsea e Real Madrid-Juventus. Vendo caso a caso, poderá existir um ligeiro favorito, mas a incerteza manter-se-á.
O Botafogo tem vantagem pelo passado recente entre os dois clubes, mas o Palmeiras pode perfeitamente mostrar bem melhor do que o que mostrou na fase de grupos.

O duelo entre as águias e os leões de Londres será um confronto entre a qualidade de rendimento em crescendo contra qualidade de plantel. O Chelsea vencerá se mostrar consistência até ao fim e fizer valer a sua maior qualidade de plantel, caso contrário, o Benfica tem uma bela ocasião para vencer pela primeira vez e mais uma vez uma equipa, a seguir ao feito frente aos bávaros.
Os duelos entre as equipas mais tituladas internamente de Espanha e Itália são sempre hinos ao futebol. O Real Madrid é ligeiramente mais favorito, pois embora ainda não esteja com o seu jogo no ponto, tem mais qualidade, histórico e mostra um crescendo que tem mais argumentos do que a Juve.
A equipa de Turim terá de se redimir da goleada sofrida frente ao Manchester City se quiser continuar em jogo e mostrar o que mostrou de melhor nos seus dois primeiros jogos no Mundial de Clubes.

Nos restantes cinco jogos, embora haja cinco claros favoritos (Inter, City, PSG, Bayern e Dortmund), existem também cinco pretendentes que podem causar surpresa (Fluminense, Al-Hilal, Inter Miami, Flamengo e Monterrey).
A forma das equipas do continente americano, especialmente do Sul, vai manifestar-se aqui novamente e poderá haver pelo menos uma surpresa. Não só pela adaptação ao clima como pela alma e qualidade que demonstraram ter consigo, os rivais Fla e Flu são mais favoritos a vender caro o desafio a Bayern e Inter do que os restantes.
Nos outros jogos, dificilmente Man.City, PSG e Borussia Dortmund perdem respetivamente para Al-Hilal, Inter Miami e Monterrey, apesar de os sauditas e as estrelas de Miami terem os seus argumentos.
Quem são os grandes favoritos à conquista do Mundial?

Analisando o panorama geral, tudo aponta para um top quatro final maioritariamente composto por clubes europeus, com uma possível vaga para um representante da América do Sul. Real Madrid e Manchester City destacam-se como os maiores favoritos à vitória.
Bayern e PSG, embora ainda fortes, perderam algum fôlego após o fim das invencibilidades. Juventus, Inter, Chelsea, Benfica e Dortmund acompanham de perto, mas de forma mais discreta. Os clubes sul-americanos continuam a entusiasmar, e é provável que um deles se intrometa entre os semifinalistas.
Apesar das críticas e das lacunas ainda evidentes, esta primeira edição do Mundial de Clubes com o novo formato está a oferecer conteúdo suficiente para se tornar memorável, como praticamente todas as primeiras edições de um formato.