A segunda vida de Victor Vázquez

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    O Barcelona é, indubitavelmente, um dos clubes que melhor aproveitamento faz da sua formação. Contudo, nem todos os talentos que saem de La Masia conseguem ter espaço na equipa principal. Muitos passam vários anos no conjunto secundário, à espera de oportunidades que nunca chegam, e muitos outros deixam a Catalunha, seja por opção própria ou porque o clube não quer renovar contrato. Foi isso que aconteceu com Victor Vázquez, médio espanhol que saiu a custo zero para o Club Brugge em busca de um novo rumo para a sua carreira. Aos 27 anos, está a cumprir a quarta temporada na Bélgica e é o patrão da equipa orientada por Preud’homme, que lidera o campeonato nacional. Apesar de já não ser propriamente um jovem, está no pleno das suas capacidades e tem provado que não é tarde para experimentar outro nível competitivo.

    Vázquez nunca conseguiu confirmar o estatuto de promessa que tinha em Barcelona. Nas camadas jovens do clube catalão, onde jogou com Messi, Piqué e Fàbregas, sempre foi uma estrela, mas a transição para o futebol sénior não correu da melhor forma, muito por culpa dos inúmeros problemas físicos que o afectaram. Acabou por ficar demasiado tempo na equipa B, o que, como é natural, atrasou a sua afirmação. Com 24 anos, foi obrigado a procurar um novo clube para continuar a carreira, decidindo-se pelo campeonato belga (Portugal foi uma hipótese, tendo sido várias vezes associado ao Sporting). Como se percebe pelo estatuto de indiscutível que Vázquez tem no Brugge, foi uma escolha feliz.

    Vázquez chegou a jogar pelo Barça na Champions Fonte: Facebook de Victor Vázquez
    Vázquez chegou a jogar pelo Barça na Champions
    Fonte: Facebook de Victor Vázquez

    Se o Brugge está no primeiro lugar do campeonato bem pode agradecer a Victor Vázquez. O espanhol fez uma exibição espectacular no clássico com o Anderlecht, enchendo o campo e marcando os dois golos que evitaram a derrota da sua equipa (ambos de bola parada, capítulo em que é forte). O ex-jogador do Barça actuou, como habitualmente, como elemento de ligação entre o meio campo e o sector ofensivo, mas mostrou também uma grande disponibilidade defensiva. Nos restantes encontros, Vázquez tem brilhado no capítulo das assistências, o que reflecte a grande visão de jogo e a excelente capacidade de decisão que possui. É um jogador bastante completo, extremamente inteligente e com uma qualidade técnica muito acima da média.

    Preud’homme, que assumiu o comando técnico do Club Brugge em Setembro de 2013, está a fazer um excelente trabalho no clube. O antigo guarda-redes do Benfica conseguiu atenuar a saída do craque Maxime Lestienne e montou uma equipa forte do ponto de vista colectivo, consistente defensivamente mas com um futebol extremamente atractivo. Mesmo sem ter os recursos do rival Anderlecht, o treinador belga tem à disposição um plantel interessante e com bastante margem de progressão. O talento começa na baliza, cujo dono é o guarda-redes australiano Matthew Ryan, que dificilmente arranjaria outro professor deste gabarito; continua no sector defensivo, com o central costa-riquenho Óscar Duarte, que está a dar continuidade às boas exibições que fez no último Mundial, e o lateral-esquerdo Laurens de Bock, que tem um estilo semelhante ao de Vertonghen; é visível no meio campo, onde, para além da qualidade de Vázquez, a experiência de Timmy Simmons ainda é fundamental; e termina no ataque, que tem elementos como Rafaelov, Izquierdo ou o brasileiro Felipe Gedoz, que tem sido uma das revelações da temporada (qualidade técnica notável). Contudo, a grande referência ofensiva da equipa tem sido, sem surpresa, o chileno Nicolás Castillo. O ponta-de-lança de 21 anos foi contratado à Universidad Católica por 3,5 milhões de euros e está a justificar plenamente o investimento, somando 8 golos no campeonato (sem ser indiscutível no 11). Era expectável que o jovem pudesse ter sucesso no futebol europeu, mas agora não restam quaisquer dúvidas. Castillo é um avançado muito completo (instinto, potência e facilidade de remate) e, se o processo de evolução decorrer com normalidade, tem tudo para chegar a grandes palcos e ser o tal jogador de área que falta à selecção sul-americana desde que Suazo abdicou.

    Não faltam exemplos de jogadores que, por terem estado ligados durante demasiado tempo a clubes onde não tiveram espaço para evoluir, prejudicaram as carreiras. O caso do médio do Brugge tem algumas semelhanças com o de Jonathan Soriano ou com o de Nolito (apesar de não terem sido formados no Barça, jogaram vários anos no clube catalão), que hoje são figuras no Salzburgo e no Celta de Vigo, respectivamente. Victor Vázquez teve uma afirmação tardia, é certo. Mas, recorrendo ao cliché, bem se pode dizer que mais vale tarde que nunca.

    Foto de Capa: Facebook de Victor Vázquez

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