Dos golos de Pancev até aos dias de hoje dista praticamente um quarto de século e muito, ou mesmo tudo, mudou entretanto. O fim da Jugoslávia veio reconfigurar o mapa político e geográfico da região dos Balcãs, com novos países independentes a surgirem do desmembramento da antiga potência do futebol do leste da Europa e não deixa, por isso, de ser curioso que, ao fim de tanto tempo, alguns desses países tenham em cima de mesa a possibilidade de voltarem a realizar uma liga conjunta a ter início no Outono de 2018. Quem o confirmou foi o director da Liga Macedónia, Vasko Dojcinovski, na passada semana, que acrescentou também que a ideia havia sido bem recebida pela UEFA. Dojcinovski terá dado a conhecer ao organismo máximo do futebol europeu que a nova competição envolveria clubes da Sérvia, Croácia, Eslovénia, Bósnia e Macedónia, deixando de fora, pelo menos para já, o Montenegro e o Kosovo.
Embora os moldes da competição possam não estar ainda definidos a cem por cento, vislumbra-se no horizonte aquilo que poderá ser um “Campeonato Jugoslavo” da era moderna, com seis grupos de quatro equipas, que posteriormente fariam jogos a eliminar entre eles até apurar o vencedor final. Estes moldes acarretam problemas e algumas dúvidas, nomeadamente qual seria o prémio a atribuir ao vencedor e ao finalista vencido. Em entrevista a um jornal croata, Dojcinovski mostrou-se ambicioso ao afirmar que iriam tentar convencer a UEFA a colocar o vencedor na Liga dos Campeões e o finalista vencido na Liga Europa.
Se tal virá ou não a acontecer é ainda uma incógnita, mas mais importante do que isso é a questão da segurança, uma vez que velhas e novas rivalidades iriam ser reacendidas com o confronto de emblemas históricos da antiga Jugoslávia. Numa época em que fervilha o Nacionalismo bacoco e xenófobo em todos aqueles países, a segurança não pode deixar de ser tema de conversa, mas Dojcinovski mostrou-se optimista em relação a isso e assegurou que tudo está a ser planeado com cautela.
Aos 51 anos de idade, Darko Pancev não voltará seguramente a jogar, mas por muito “estranho” que possa parecer, este novo formato de competição poderá reacender as “fornalhas” das grandes escolas de futebol da velha Jugoslávia. Equipas como o FK Vardar, de onde era oriundo Darko Pancev, o FK Vojvodina e o OFK Beograd, entre outros, que já tanto deram ao futebol, sem que nada ou quase nada lhes fosse dado em troca, veriam assim abrir-se, eventualmente, uma nova janela de oportunidade, para recuperar o seu lugar na história.
Numa época de separações a todos os níveis, esta ideia de colocar de novo frente a frente velhos rivais passaria, quem sabe, aos mais jovens uma ténue mensagem de união e daria, com certeza, voz àqueles que há já muito tempo a deixaram de ter.
Foto de capa: CopaFootball