Kosovo: O futebol é maior do que tudo

    Com o desenrolar da fase de apuramento para o Euro 2020, apercebi-me dos resultados de uma seleção que praticamente não tem pergaminhos nem neste, nem em qualquer outro desporto, falo da seleção do Kosovo.

    Kosovo, um país que recentemente se tornou independente, consegue ser um dos destaques desta qualificação para o Euro 2020 estando na luta inusitada para o apuramento.

    Uma seleção que nasceu graças ao esforço de um dos seus, Fadil Vokrri, falecido em 2018, que foi um dos grandes impulsionadores da “luta” que permitiu que a seleção Kosovar pudesse competir ao mais alto nível nas competições internacionais.

    Vokrri sempre defendeu que não misturava futebol com política, e o seu trabalho está agora a começar a receber os dividendos.

    Depois de terem subido de divisão na Liga das Nações, e de terem ganho uma vaga para disputar esta qualificação, a seleção kosovar tem deixado perplexo o mundo do futebol com uma campanha de qualificação bastante impressionante tendo em conta que os kosovares foram admitidos pela FIFA apenas em 2016. Antes disso, o país teve que jogar alguns amigáveis de forma clandestina, isto porque nem FIFA, nem UEFA, os reconheciam como um país.

    Adeptos homenageiam aquele que consideram o pai desta selação, Fadil Vokrri
    Fonte Federação Kosovo

    Antes de encarar jogos oficiais, o Kosovo organizou-se e recrutou muitos jogadores com origens no país, e montaram uma equipa muito jovem.

    Guiados pelo treinador suíço Bernard Challandes, o Kosovo conta com uma equipa com uma média de idades de 25 anos, sendo Samir Ujkani o jogador mais velho com 31 anos.

    Apelidados de “filhos de Vokrri”, e mesmo não contando com jogadores sonantes, a equipa tem um elevado nível de qualidade para os seus padrões. Tem vários jogadores nas melhores ligas europeias, e sendo jovens e com margem de progressão poderemos ter jogadores a chegar a patamares mais elevados de qualidade, sendo até que alguns deles chegaram a jogar nas seleções mais jovens de outros países de grande poderio, como a Alemanha, por exemplo.

    O grande destaque desta equipa é Valon Berisha que optou por deixar a seleção da Noruega, e em boa altura o fez, e que é uma das grandes referências desta seleção.

    Nos seus quadros podiam estar dois jogadores de renome, Xherdan Shaqiri e Granit Xhaka mas as instâncias da guerra não permitiram que estes, e outros jogadores, pudessem representar o país onde nasceram.

    A figura maior da seleção kosovar: Valon Berisha
    Fonte: UEFA

    No campo, a sua história começa a contar-se com a participação na qualificação para o Mundial 2018 onde apenas conquistou um ponto na fase de qualificação e logo no seu primeiro jogo oficial com a Finlândia, um jogo que deixou a nação dos balcãs em autêntico delírio.

    Os restantes jogos, mesmo acumulando derrotas, foram vividos de forma única, pois pela primeira vez, na sua curta história, o Kosovo conseguia entrar nas grandes disputas internacionais.

    A seguir veio a Liga das Nações, e o Kosovo ficou inserido num grupo juntamente com Azerbaijão, Malta e Ilhas Faroé, seleções com o ranking mais fraco da Europa, mas mostrou que os seus voos são outros, e no total dos seis jogos, somou quatro vitórias e dois empates, logrando assim subir de divisão e entrar na fase de apuramento para o Euro 2020.

    Aqui, inseridos num grupo que conta com a poderosa seleção de Inglaterra e a República Checa, os principais favoritos à qualificação, os kosovares lograram vencer em casa os checos, naquela que terá sido até ao momento uma das melhores vitórias na sua curta carreira.

    Antes do jogo contra a Inglaterra, o Kosovo contava com quinze jogos sem perder, um marco fantástico que lhe valeu não só, a subida de divisão na Liga das Nações mas também a disputa da qualificação para o Euro 2020. No jogo com os ingleses, e apesar da derrota, a seleção do Kosovo deixou uma excelente imagem, ficando na retina o esforço que fizeram para recuperar de tão grande desvantagem, no final saíram derrotados por 5-3 mas ganharam o respeito do mundo do futebol.

    Com dois jogos por disputar e a apenas um ponto do segundo lugar e a quatro do primeiro, o Kosovo terá o grande teste já na próxima jornada quando se deslocar à República Checa. Uma vitória aqui lança a equipa para a segunda posição e na última jornada receberá pela primeira vez no seu país a Inglaterra, e todas as almas kosovares vão estar com os seus para ajudar no apuramento. Engraçado que caso o Kosovo se classifique no segundo lugar, poderá apanhar Portugal nos playoffs.

    Quinze jogos sem perder, foi o pecúlio desta seleção antes de defrontar a Inglaterra
    Fonte: Federação Kosovo

    Não podemos esquecer que o Kosovo é um país que sofreu com as mazelas da guerra e ainda encara algumas consequências do conflito pela sua independência, limitando as condições estruturais do seu futebol. Vai ser um crescimento lento, mas as raízes desse crescimento são fortes, pois Fadil Vokrri encarregou-se disso.

    Se há desporto que pode fazer um povo esquecer, por momentos, as desventuras da guerra, o futebol é sem dúvida esse desporto. Basta ver quando a FIFA aceitou a adesão do Kosovo, para ver todo um povo na rua a festejar, e esquecer por momentos por tudo o que passou.

    Parafraseando Fadil Vokrri “o futebol é maior do que tudo” e vendo este caso do Kosovo, é capaz de ter razão.

    Fonte: Federação Kosovo

    Artigo revisto por Diogo Teixeira

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    Tiago Silva Ferreira
    Tiago Silva Ferreirahttp://www.bolanarede.pt
    O Tiago é uma pessoa que adora desporto, em especial futebol. Tendo praticado andebol e basquetebol, viu que o seu grande talento era a Playstation e por aí ficou! Adora o ciclismo.                                                                                                                                                 O Tiago não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.