Portugal 0-0 Grécia: o trauma… da atitude

cab seleçao nacional portugal

Fugir dos traumas é algo inútil. Mais tarde ou mais cedo, eles voltam para nos atormentar. Assim, é melhor aceitar a sua existência do que negar que algo que nos transtornou. Como aquele dia em que um cabeceamento letal que tapou a boca a 10 milhões de vozes eufóricas e prontas a celebrar a primeira conquista do seu país. Charisteas marcou, de forma indelével, a longa história futebolística do nosso país e a Grécia vencia o Europeu que supostamente seria nosso. Como portugueses, seria inútil recalcar essa memória. Pelo contrário, deve ser essa a nossa fonte de inspiração, o balde de tinta que iremos usar para escrever uma história ainda mais bonita, começando na imposição da derrota a quem nos fez chorar. Não por se tratar de uma vingança, mas sim para aprendermos a lidar com a imagem mais triste de toda a história dos encontros da nossa seleção.

Sem o auxílio de Cristiano Ronaldo mas cientes do que significava um duelo com os gregos, o onze português montado por Paulo Bento num 4x4x2 com algumas opções menos regulares (Eduardo, Ricardo Costa, André Almeida, William Carvalho, Varela e Éder foram as novidades) entrou em campo encarnando o espírito de quem estava disposto a lutar contra os demónios que os deuses gregos deixaram cá plantados há coisa de dez anos atrás, com Éder e Nani ao leme de um grupo aparentemente disposto a vestir a pele de caça-fantasmas, estando ambos nas três ocasiões de perigo (Éder, primeiro, Bruno Alves e Ricardo Costa depois) que a seleção conseguiu criar junto das redes gregas nos primeiros sete (!) minutos, todas através da exploração do jogo àereo grego.

A situação não piorou desde aí para os gregos (em máxima força, entrando com o onze inicial que muito provavelmente vai começar o Mundial), mas manteve-se a toada de domínio luso, beneficiando de algum desacerto adversário na bola longa (recurso mais utilizado pelos helénicos na tentativa de visar as redes nacionais) e da postura expectante adoptado pelos orientados por Fernando Santos, que iam cedendo perante uma frente de ataque bastante dinâmica e que beneficiou das incursões dos alas (Varela e Nani) para o centro. Também aa mobilidade dos dois pontas-de-lança (Éder e Hélder Postiga) ajudou a trazer o jogo para a zona ofensiva de Portugal.

Porém, a superioridade nacional não foi capitalizada em golos, e a partir da meia hora de jogo pareceu começar a notar-se algum cansaço na exploração da muralha grega. Não se baixaram os braços mas foi notório o maior distanciamento e entre os jogadores da frente e uma inspiração decrescente que se traduziu na falta de produtividade nacional até ao intervalo, tornando o último quarto-de-hora da primeira parte um autêntico festival de bocejos.

Nani foi o melhor jogador do lado português Fonte: ASF
Nani foi o melhor jogador do lado português
Fonte: ASF

No regresso dos balneários, Paulo Bento trocou de guarda-redes (entrou Beto)  e de ponta-de-lança (Postiga deu lugar a Hugo Almeida), mas foi noutra alteração tática que esteve alicerçada uma mudança de atitude dos jogadores portugueses face aos últimos quinze minutos da primeira parte– maior apoio dos laterais no processo ofensivo. André Almeida apoiou Varela quando solicitado e João Pereira fez com Nani uma dupla bastante perigosa no flanco direito, o que se traduziu num jogo mais “elétrico”, disputado ainda mais encostado à baliza grega. Contudo, não houve consequências de maior no resultado e, mais uma vez, pareceu ser de sol de pouca dura a vontade dos jogadores portugueses, voltando o jogo a cair num espetáculo enfadonho que ia sendo cada vez mais propício a bocejos…

… até aparecerem Gekas e Fetfatzidis. Os jogadores gregos que substituiram as referências Samaras e Mitroglu, dotaram o jogo de maior velocidade, explorando um aparente desgaste do meio-campo português (William Carvalho, por exemplo, queixou-se de cãibras), mesmo reforçado por Rúben Amorim (substituiu Éder, fazendo a seleção regressar ao habitual 4x3x3). Gekas deu maior virtuosismo ao ataque grego e Fetfatzidis, assente na garra e na crença, beneficiou da passividade de André Almeida para causar a situação de maior perigo para as redes portuguesas.

Os gregos galvanizaram-se e o jogo terminou partido, com tempo para mais duas situações de perigo para ambos os lados – Beto saiu em falso, e a bola quase sobrava para um jogador grego, não fosse a intervenção de Ricardo Costa, autor de um cruzamento-remate já nos descontos, que terminou na trave.

A ausência de Cristiano Ronaldo, João Moutinho ou Pepe não justifica uma exibição tão pálida da seleção nacional perante uma equipa grega que não é superior à espécie de Portugal B que Paulo Bento levou para o relvado do Jamor.

Seria de esperar mais garra, mais atitude, não só por se tratar de um jogo que muito dizia a todos os amantes da seleção portuguesa, entre eles Eusébio e Mário Coluna “a ver” o encontro (foram colocadas imagens gigantes dos dois colossos do futebol nacional ocupando bancadas opostas), mas também para se alterarem as probabilidades de utilização de cada um dos jogadores previsivelmente menos utilizados por Paulo Bento no Mundial 2014.

Uma de duas coisas é certa: ou ficou provada a pouca profundidade da equipa nacional ou é urgente a mudança de atitude nos nosso jogadores.

A Figura

Num jogo a “preto-e-branco”, sobressairia sempre que soubesse pintar. E Nani foi um deles. O extremo do Manchester United foi o jogador que mais desequilíbrios provocou no ataque nacional, destoando da inércia e da apatia dos seus companheiros.

Sempre que tocava na bola, sentia-se um certo frenesim vindo das bancadas e que não eram da exclusiva responsabilidade da popularidade do craque.

O Fora-de-Jogo

A falta de atitude portuguesa foi por demais evidente, tornando o jogo bastante amorfo (por ser a equipa que, previsivelmente, mandaria no jogo), ao ponto de o dotar de maior eficácia que um comprimido para dormir.

 

Pedro Machado
Pedro Machado
Enquanto a França se sagrava campeã do mundo de futebol em casa, o pequeno Pedro já devorava as letras dos jornais desportivos nacionais, começando a nascer dentro dele duas paixões, o futebol e a escrita, que ainda não cessaram de crescer.                                                                                                                                                 O Pedro não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.

Subscreve!

Artigos Populares

Jogador do Inter Milão assume desejo de jogar na Premier League: «Estou definitivamente interessado»

Denzel Dumfries revelou que tem interesse em jogar na Premier League. O lateral neerlandês tem contrato com o Inter Milão.

Andreas Schjelderup deixa grandes elogios para Fredrik Aursnes: «Ele é muito bom»

Andreas Schjelderup deixou muitos elogios para o compatriota, Fredrik Aursnes. O avançado admitiu que não conseguiu convencer o médio a voltar à seleção da Noruega.

Internacional Equatoriano pede saída do selecionador de Equador e deixa pedido: «Vamos atrás do José Mourinho»

O internacional equatoriano Jefferson Montero apelou à contratação de José Mourinho. O jogador de 36 anos pediu a demissão do selecionador, Sebastián Beccacece.

Já há árbitro definido para o Hungria x Portugal desta terça-feira

O Hungria x Portugal desta terça-feira vai ter arbitragem de Erik Lambrechts. O encontro é referente à segunda jornada de qualificação para o Mundial de 2026.

PUB

Mais Artigos Populares

Morreu Carlos Barbosa, antigo presidente do Paços de Ferreira

O Paços de Ferreira confirmou a morte de Carlos Barbosa. O antigo presidente dos castores liderou a equipa entre 2010 e 2014.

Nas mãos de Francesco Farioli mas com boas indicações: os 3 jogadores no último ano de contrato com o FC Porto

O FC Porto conta com três jogadores a cumprir o último ano de contrato: Pedro Lima, Jakub Kiwior e Luuk de Jong.

Lenda do Manchester United deixa conselho para Benjamin Sesko: «Precisa esperar o momento certo»

A lenda do Manchester United, Dwight Yorke, falou sobre a adaptação de Benjamin Sesko. O antigo avançado apelou à paciência e capacidade de esperar pelo momento certo.