Portugal 2-1 Sérvia: Neste carrossel, meter a ficha certa voltou a ser decisivo

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As previsões apontavam para uma noite difícil para a seleção portuguesa no Estádio da Luz. Depois de ver a partida desta noite, fico com a sensação de que muito do sofrimento pelo qual a equipa das quinas passou deveu-se à péssima exibição com que Portugal brindou os 60 mil na Luz.

Mas vamos por partes: o Estádio da Luz estava com 60 mil na bancada a gritar bem alto pela seleção, com o desejo de ver a equipa comandada por Ilídio Vale dar um passo decisivo rumo ao Euro 2016. Com uma diferença de cinco pontos entre as duas equipas, uma vitória frente à Sérvia era quase a garantia de qualificação para o Europeu no país gaulês, e por isso aquilo que se esperava era ver uma seleção que, mesmo sem o seu líder no banco, comandasse e mostrasse autoridade no jogo frente aos sérvios. Do lado português, nenhuma surpresa no onze: Ilídio Vale e Fernando Santos optaram por um sistema no mínimo “discutível”, num 4-2-3-1, com Tiago e Moutinho a funcionar como duplo pivô defensivo, deixando Coentrão e Nani como médios alas, com Danny nas costas do falso ponta de lança Cristiano Ronaldo. Na equipa dos Balcãs, Radovan Curcic decidiu deixar o médio do CSKA de Moscovo Zoran Tosic no banco de suplentes, optando por dar a titularidade ao médio Radosav Petrovic.

O ritmo do início da partida acabaria por pautar aquilo que se passou durante os 90 minutos: apesar da necessidade imperial de vencer, até pelo atraso na classificação, a equipa da Sérvia rapidamente demonstrou que vinha à Luz para conseguir um bom resultado. Com Matic a funcionar como o primeiro homem na construção de jogo ofensivo, a equipa de Curcic teve sempre mais bola na partida. O problema é que, mesmo tendo a bola, a equipa da Sérvia raramente soube o que fazer com ela. Com um bloco defensivo coesivo, a seleção portuguesa poucas vezes se desposicionou, provocando não raras vezes o erro sérvio aquando da chegada ao último terço do terreno. Em contrapartida, os primeiros minutos de jogo mostraram claramente uma seleção portuguesa com “dedo de Fernando Santos”: com um bloco baixo – deixando em momento defensivo Cristiano Ronaldo como único jogador à frente da linha do meio campo – Portugal foi controlando aquilo que é mais importante num jogo: os espaços. Mesmo sem ter o “aparente” domínio da partida, a seleção portuguesa foi sempre controlando o jogo com um ritmo lento mas que lhe servia de perfeição. Aos 10 minutos, no primeiro assombro ofensivo português, Fábio Coentrão cruzou de forma perfeita para a cabeça de Ricardo Carvalho, que, solto de marcação na área, abriu o ativo e deixou em festa os adeptos lusos. Para o central do Mónaco, a infelicidade veio logo depois, pois Carvalho acabou por ter de sair lesionado, tendo entrado para o seu lugar o central José Fonte.

Em desvantagem no marcador, a equipa da Sérvia acabou por se mostrar mais pragmática. Mesmo que o perigo nunca tenha rondado de forma efetiva as redes de Rui Patrício, a equipa dos Balcãs foi, à medida que o tempo passava, cada vez mais se instalando no meio campo português. Entre os 15 e os 30 minutos, a seleção portuguesa mostrou-se passiva, tendo baixado demasiado a intensidade e a capacidade de pressão numa fase tão prematura do encontro. Por isso mesmo, era preciso um abanão no jogo para combater a monotonia em que ele se tornara praticamente até ao descanso. E digo praticamente porque, perto da meia hora, Cristiano Ronaldo decidiu disparar uma verdadeira bomba na direção de Vladimir Stojkovic, que respondeu com uma excelente intervenção. Até ao apito para o intervalo de Rocchi, apenas um remate de Tadic provocou alguma preocupação junto à baliza de Rui Patrício.

Na segunda parte, a Sérvia acabou por entrar melhor, com os médios Ljajic e Petrovic a subirem mais no terreno, pressionando de forma mais intensa os médios portugueses Tiago e João Moutinho. Esse crescimento acabou por se traduzir na primeira verdadeira ocasião de golo da equipa de Curcic, com o avançado Mitrovic a cabecear com perigo na zona central da área, num remate que acabou por passar por cima das redes lusitanas. O problema é que a seleção sérvia chegou mesmo ao empate, com Matic (no melhor momento do jogo) a fazer um golo pleno de oportunidade e de classe, de fazer levantar o Estádio da Luz. Na sequência de um pontapé de canto, o ex-médio do Benfica aproveitou a distração de Eliseu – que não deixou o médio em fora de jogo – para fazer um verdadeiro golaço, dando o empate à sua seleção.

Fábio Coentrão foi decisivo Fonte: Federação Portuguesa de Futebol
Fábio Coentrão foi decisivo
Fonte: Federação Portuguesa de Futebol

Portugal estava, por esta altura, completamente apático no terreno. O primeiro quarto da hora da seleção foi apenas a continuação daquilo que tínhamos visto no primeiro tempo: com um bloco baixo e pouca intensidade no seu jogo, aquilo que víamos era Portugal vazio de ideias, com Moutinho e Coentrão a serem os únicos a tentar inverter a situação. Danny era um “fantasma” em campo, enquanto Nani abusava do individualismo e Cristiano Ronaldo parecia perdido no meio dos centrais sérvios. Por esse marasmo do jogo português, facilmente se percebeu, depois do golo de Matic, que esta noite tinha tudo para correr mal à seleção nacional. Felizmente, tudo se inverteu pois, apenas dois minutos depois do golo dos sérvios, Moutinho decidiu dar uma arrancada das antigas, colocando Fábio Coentrão perante um desamparado Stojkovic, que apenas conseguiu ir buscar a bola ao fundo das suas redes.

É verdade que marcar um golo é sempre bom, seja aos dois ou aos 92, mas o que é facto é que numa altura em que Portugal parecia taticamente tão perdido em campo, o golo de Fábio Coentrão foi um verdadeiro catalisador para um último terço de jogo bem mais agradável da equipa das quinas. Mesmo com as transições ofensivas a falhar em toda a linha – até pela lentidão com que Portugal jogou – a equipa comandada por Ilídio Vale acabou por crescer com o golo marcado, obrigando a Sérvia a errar e finalmente colocando no relvado alguma da qualidade por demais evidente na seleção nacional. Sem grandes oportunidades de golo de Portugal e Sérvia, o jogo acabou por decorrer até ao seu final à imagem e semelhança daquilo que os 60 mil que estiveram na Luz viram durante todo o tempo: duas equipas mais preocupadas em não perder do que em ganhar, com um ritmo de jogo baixíssimo e sobretudo com um marasmo de ideias incompreensível quando existe tanto talento em ambos os lados.

Para os resultadistas, a vitória é verdadeiramente o mais importante que sai do jogo da Luz. Com mais três pontos no bolso, Portugal não só passa para a liderança do seu grupo de qualificação como praticamente carimba o passaporte para o Euro 2016. Para mim, que gosto de ver um jogo para além do seu resultado, permita-me que lhe deixe esta opinião: com três jogos oficiais disputados, esta seleção de Fernando Santos continua a não encher-me as medidas. Entre opções erradas e sistemas táticos discutíveis, creio que Portugal, com os jogadores que tem, tinha obrigação de fazer bem mais do que o que tem feito. E isto porque no “carrossel de sobe e desce” tático em que Portugal se move – com resultados positivos mas exibições tristonhas – desconfio de que haverá um momento em que a passividade da equipa vá ter consequências. É só um presságio. Agora, resta esperar pelos próximos capítulos.

A Figura:

Moutinho/Coentrão – Decidi optar por atribuir este prémio àqueles que considerei terem sido, de longe, os melhores em campo na Luz. O médio do Mónaco foi sempre o dínamo do jogo ofensivo português, e a assistência para o golo de Coentrão foi apenas a cereja em cima do bolo da exibição do médio ex-FC Porto. O lateral do Real Madrid foi o outro destaque, pela mobilidade e dinâmica que deu ao flanco esquerdo da seleção, culminando a sua exibição com o golo decisivo que deu a vitória a Portugal.

O Fora de jogo:

Eliseu – A exibição do lateral português foi sempre um sobressalto. Com nítidas dificuldades defensivas, o defesa benfiquista acabou por se mostrar apenas nos momentos ofensivos, sendo que mesmo aí raramente conseguiu criar desequilíbrios na defensiva contrária. Não parece talhado para ser lateral esquerdo, e creio que a solução não resultou.

Foto de capa: Federação Portuguesa de Futebol

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