Precisou Portugal de… Tó Madeira?

Portugal teria de esperar por esse fenómeno concretizador pelo menos sete, oito anos. Entre a aparição dum super Tó Madeira na primeira versão do CM01/02 e o Cristiano Ronaldo mais predador de área, ali por 2007 (passa de 12 golos em 05/06 para 23 em 06/07 e 42 em 2007/08), Portugal teve que susbtituir os grandes da Geração de Ouro pela nova fornada liderada pelo craque madeirense sem nunca conseguir apoio dum nove de referência que concretizasse o bom futebol que Scolari conseguia muitas vezes comandar.

Pauleta e Nuno Gomes foram sempre as primeiras opções, Postiga surgia atrás, Hugo Almeida, João Tomás ou Romeu eram as alternativas nesse espaço temporal, de 2000 a 2007. O mito português de que somos incapaz de produzir bons ponta-de-lança talvez se prenda com a estatística dos ‘9’ em grandes competições – porque se olharmos aos registos totais, descortinamos que as médias de golos nunca foram preocupantes noutras fases competitivas. O único argumento válido sempre foi apenas um: que a eficácia demonstrada contra Liechensteins não se transportava para os Europeus ou Mundiais. E talvez aí Tó Madeira pudesse ajudar.

À Geração de Ouro, desde que conquistou o mundo em Riade ou Lisboa, sempre faltou o ‘9’ dos mesmos créditos dum  Figo, dum Rui Costa ou dum João Vieira Pinto. Esse finalizador só chegaria em 1996, quando Nuno Gomes, já com extenso historial nos escalões jovens, ascende finalmente para fazer colmatar essa vaga – típico caso de craque em geração errada. Sobe à primeira equipa do Boavista em 1994, em 1996-97 já fazia 19 golos (em dupla com Jimmy Floyd Hasselbaink, que fez 24!) e ganha lugar no Benfica. Na Luz, até sair para Itália em 2000, 75 golos em 125 jogos – era um ‘9’ moderno, completo, tão disciplinado no apoio frontal como imprevisível na descoberta do espaço na pequena área. Infelizmente, a mesma influência não conseguiu produzir na Selecção, sendo obrigado a dividir protagonismo com Sá Pinto, Domingos ou Pauleta, pela ideia nunca ultrapassada que a disposição predilecta do português é o 4-2-3-1.

Por uma razão ou outra, o primeiro golo internacional de Nuno vem só… no Euro 2000, no 3-2 à Inglaterra. Nesse  certame faz quatro no total, com direito a golo à França nas Meias e por isso será, até hoje, a maior demonstração de qualidade individual dum avançado desde… Eusébio em 66. Esse Nuno Gomes foi realmente estratosférico, a perfomance valeu-lhe contrato com a Fiorentina de Rui Costa e Fatih Terim – merecida mas que lhe mudaria o jeito para sempre, tornando-o num avançado muito mais perdulário: depois disso só por uma vez ameaçou chegar aos 20 golos num ano – em 2005-06, com Koeman na Luz – e especializou-se noutros movimentos, longe da baliza. Ficou menos ponta-de-lança e mais avançado. Obviamente, perderia fôlego para Pauleta na Selecção. No Euro 2004, apesar do golo decisivo frente à Espanha, não faria mais nenhum; No Mundial 2006, marca à Alemanha mas joga… 42 minutos; e no Euro 2008, titular mas já em fase descendente, faz mais um. Nuno só ficou a zeros no Mundial 2002, mas nunca mais voltou a ser superlativo como no Benelux. Enquanto lutava por chegar à dezena de golos no Benfica, Pauleta triturava recordes em França, já depois de ser campeão espanhol.

Apesar de se ter tornado figura de referência em Salamanca, Corunha – título em 99/00-, Bordéus – 91 golos em três épocas! – e em Paris, onde se tornou melhor marcador de sempre antes de chegarem os Zlatans e os Cavanis, Pedro Pauleta experienciava acessos de dupla personalidade ao vestir a camisa Nike da Selecção: de 19 golos em 25 jogos de qualificação para Mundiais para quatro golos em quatro grandes competições  – três deles feitos num único jogo, o 4-0 frente à Polónia em Jeonju. E não, não tem grande lógica argumentar com a valia do adversário. Pauleta marcou duas vezes aos Países Baixos, uma ao Brasil e à Inglaterra, se a carreira clubística não o chegasse para provar. O açoriano era um génio do ataque à baliza mas faltou-lhe essa consagração total, o tipo de actuação que se perdura no tempo e dá asas ao reconhecimento mais que merecido.

Que veio de outra forma, mais romântica, mais simbólica. De tanto fazer golo em qualificação, chegou a Outubro de 2005 com 40 golos pela Selecção em… 77 jogos. Quando entra no Estádio do Dragão para defrontar a Polónia, dia 12 desse mês, tinha que fazer dois para suplantar o King como máximo marcador histórico. Aos 22 minutos estava feito, com direito a dois golões. Aos 57 saía para a ovação em pé.

Pedro Pauleta faria um no Mundial 2006, logo no jogo inaugural e a garantir a vitória contra Angola (1-0). Mas fugiriam de si os grandes aplausos ou as grandes histórias dessa Selecção, apesar de figura de proa em termos mediáticos. Nuno Gomes fez o golo à Espanha em 2004, é de Postiga o golo do empate e a panenka à Inglaterra nos Quartos, é de Ricardo a passagem para a fase seguinte em 2004 ou 2006 contra os mesmos ingleses, é Maniche o protagonista noutro duplo-episódio, frente aos Países Baixos. O açoriano, caso singular do futebol português por ter chegado ao topo da pirâmide sem nunca ser filiado a um dos Três Grandes, subiu a pulso e conquistou a glória internacional, tendo-lhe sido o destino maldoso nesse pormenor, de ser letal em todos os contextos menos, talvez, no mais importante.

Foi por essa intermitência dos seus homens de área a razão pela qual falhou a Geração de Ouro a conquista dum grande troféu sénior? A impetuosidade do remate dum ‘9’ puro como Éder em Saint-Denis diz-nos que sim, mas a carreira feita quer por Nuno Gomes ou Pauleta leva-nos a adoptar a pose de Rodin e a enfrentar outros caminhos da lógica, se é que ela tem alguma preponderância neste assunto.

Indesmentível é que Tó Madeira teria sido uma excelente ajuda. Com 20 de remate, 15 de velocidade, 18 de técnica, 20 de influência, drible de 17 ou a aceleração de 14 pontos, teria encaixado na perfeição no último vértice do pentagrama ofensivo português. O verdadeiro, chamado António Lopes, agora com 44 anos e residente em Coimbra, o colaborador da SI (Sports Interactive) que por falta de tempo decidiu mandar o plantel do Gouveia cheio… de amigos e primos seus, dizia ao Público em 2014 que nem sequer jogava bem, apesar dos fãs do jogo lhe dizerem que «era o ídolo deles» e o convidarem para «umas peladinhas». «Joguei foi basquetebol durante sete ou oito anos», desabafando da mesma forma com que Herman José já dizia «Eu é mais bolos».

Portanto, precisou Portugal de Tó Madeira? Às vezes. Nem sempre.

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Adepto da discussão futebolística pós-refeição e da cultura de esplanada, de opinião que o futebol é a arte suprema.

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