📲 Segue o Bola na Rede nos canais oficiais:
- Advertisement -

A última noite europeia de seleções foi pródiga em episódios de uma novela que parece não ter fim, na qual os protagonistas futebol e política vivem infelizes para sempre.

Fosse vivo e teria Tolstói material para duplicar as 1225 páginas da sua obra-prima dividida em quatro livros.

Futebol e política, velhos conhecidos, teimam em não entender-se, numa tradição quase secular.

É preciso recuar até 1934 para encontrar a primeira demonstração da infeliz combinação entre ambos. Realizado em solo nacional, a Itália viria a sagrar-se campeã mundial pela primeira vez, após bater a já extinta seleção da Checoslováquia por 2-1. A seleção italiana seria utilizada como instrumento político do fascismo por Benito Mussolini, propagando os ideais fascistas impostos pelo ditador.

20 anos volvidos e novo apropriamento de uma seleção nacional como porta-estandarte de um regime: a Hungria, vice-campeã mundial (após ser batida pela Alemanha Ocidental por 3-2 numa final disputada em território suíço), era tida como símbolo da eficiência dos comunistas, controlados pela União Soviética.

Os Mágicos Magiares, descontentes com o rumo que a situação política levava, aproveitaram uma excursão do Budapest Honvéd FC à América do Sul – paga pelos próprios, pois a federação vetou a viagem – para se exilarem no Brasil. Desta infração resultaram pesados castigos aplicados pela FIFA aos jogadores húngaros, possibilitando que, um ano depois, Ferenc Puskás ingressasse no Real Madrid pela mão do presidente do clube espanhol na altura, Santiago Barnabéu.

Fonte: Federação Suiça

E por falar em Brasil, João Saldanha, jornalista de profissão que conduziu a seleção canarinha ao Campeonato do Mundo de 1970 no México, disse uma das mais célebres frases do futebol mundial.

Em plena ditadura militar no país, o general Emílio Garrastazu Médic tentou impedir Saldanha de convocar Dario, ao que o jornalista respondeu “o senhor escala seu ministério, eu escalo a seleção”. Demitido de imediato, viu de fora a conquista da terceira “Copa” pelo escrete, que derrotou a Itália na final por 4-1.

Afonsinho, Sócrates e até Pelé, pouco dados a este tipo de manifestações públicas, clamavam pela democracia.

Ainda pelo continente sul-americano, nota para a recusa de, em pleno relvado, Carlos Caszely apertar a mão a Augusto Pinochet, que viria a torturar a mãe do jogador nos porões do governo chileno. Naquele que ficou conhecido como o “Jogo da Vergonha”, a União Soviética recusou subir ao relvado, tendo o Chile garantido a qualificação para o Mundial de 74.

De lá para cá, várias medidas têm sido tomadas no sentido de evitar conflitos políticos entre clubes e seleções. As federações são agora punidas se houver interferências do governo local, foram proíbidas camisolas que contenham mensagens subliminares e até se evitam jogos em cidades onde existam rebeliões.

Impossível é cortar as asas aos jogadores. Foi em 2018 que Suíça e Sérvia se defrontaram em jogo a contar para a Fase de Grupos do Grupo E do Mundial de Futebol: quis o destino que os marcadores dos golos suíços fossem apontados por Xhaka e Shaqiri, descendentes de kosovares, que festejaram por imitar com as mãos a águia contida na bandeira albanesa, país com quem os sérvios estão impedidos de jogar.

A mudança do FK Shaktar de Donetsk para Lviv teria sido, porventura, a última grande machadada política no futebol europeu. Recorde-se que a cidade que servia de casa ao clube atualmente orientado por Luís Castro foi alvo de bombardeamentos decorrente da guerra civil na região, que culminou na anexação da Crimeia pela Rússia e nos movimentos separatistas de Donetsk e Lugansk.

Paris, Sófia e, porque não, Catalunha foram o “X” que marcou o local da intolerância, ignorância e preconceito; a última página escrita no manual intitulado “O que não deve ser o futebol”.

Foto de Capa: Federação Turca

Artigo revisto por Inês Vieira Brandão

Miguel Ferreira de Araújo
Miguel Ferreira de Araújohttp://www.bolanarede.pt
Um conjunto de felizes acasos, qual John Cusack, proporcionaram-lhe conciliar a Comunicação e o Jornalismo. Junte-se-lhes o Desporto e estão reunidas as condições para este licenciado em Estudos Portugueses e mestre em Ciências da Comunicação ser um profissional realizado.                                                                                                                                                 O Miguel escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.

Subscreve!

Artigos Populares

Onde ver o Santa Clara x Sporting dos oitavos de final da Taça de Portugal

O Santa Clara recebe o Sporting nos oitavos de final da Taça de Portugal. Dois clubes reencontram-se depois do jogo na Primeira Liga.

Vasco Sousa e a lesão grave sofrida no Moreirense x Benfica: «Vou mostrar, mais uma vez, que estou nesta vida para vencer»

Vasco Sousa voltou a fraturar o perónio direito. Médio, emprestado pelo FC Porto ao Moreirense, deixou mensagem nas redes sociais.

Sporting prepara novo ataque por Yeremay Hernández em janeiro e tem trunfo na manga

O Sporting prepara a abordagem ao mercado de janeiro e tem a contratação de Yeremay Hernández como uma das prioridades. Extremo mais recetivo a saída.

Francesco Farioli responde ao Bola na Rede: «As equipas adversárias têm adotado uma postura muito conservadora contra nós»

Francesco Farioli analisou a vitória do FC Porto frente ao Estrela da Amadora. O técnico respondeu à pergunta do Bola na Rede em conferência de imprensa.

PUB

Mais Artigos Populares

Ruben Amorim insatisfeito com o empate do Manchester United após roteiro épico: «Perdemos os dois pontos na primeira parte. Devíamos ter marcado pelo menos...

Ruben Amorim analisou o empate sofrido pelo Manchester United diante do Bournemouth. Técnico apontou aspetos a melhorar pelos red devils.

Bruno Fernandes desiludido com atitude do Manchester United no verão: «Senti um bocadinho ‘se fores, não é assim tão mau para nós’. Magoa-me um...

Bruno Fernandes recordou a proposta do Al Hilal que recebeu no verão. Médio confessou que só não saiu do Manchester United por culpa de Ruben Amorim.

Já é oficial: Fórmula 1 de regresso a Portugal e a Portimão em 2027 e 2028

O circuito mundial de Fórmula 1 está de volta a Portugal e a Portimão. Regresso já foi tornado oficial e vai acontecer em 2027 e 2028.