Taça Asiática: O perfume de Omar e a surpresa Luongo na primeira da Austrália

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A Austrália organizou e venceu pela primeira vez a Taça Asiática (competição que disputa apenas desde 2007, depois da mudança de Confederação), derrotando na final – que teve as duas melhores equipas – a Coreia do Sul. O triunfo por 2-1 surgiu apenas no prolongamento e acabou por premiar a maior eficácia dos socceroos, única equipa que conseguiu marcar à Coreia do Sul. Os sul-coreanos, que apresentaram um conjunto à imagem do seu treinador, o alemão Uli Stielike, fizeram uma prova em crescendo (na fase de grupos limitaram-se aos serviços mínimos, com um futebol muito pobre) e também mereciam o título mas, ao contrário do que acontece na maior parte das vezes, não foi a defesa que levou a melhor sobre o ataque.

Os australianos, que têm vindo a alterar a essência do seu futebol com Ange Postecoglou, são agora uma equipa que defende mal e que se desequilibra com facilidade mas com qualidade do meio campo para a frente. O oposto da Coreia, que se destacou essencialmente pela organização defensiva (bloco muito compacto e agressividade na pressão). Cahill ainda é Cahill, o regressado Robbie Kruse é um excelente jogador, Leckie, uma das revelações do Mundial, é um extremo bastante irreverente e Massimo Luongo, médio que terá sido o melhor jogador da prova (juntamente com Omar Abdulrahman e Ki Sung-Yueng), tem uma capacidade assinalável de aparecer em zonas de finalização. A saltar do banco houve Tomi Juric, jovem avançado decisivo na final e que pode ser o sucessor de Cahill.

O Japão foi uma desilusão, mas é certo que a eliminação nos quartos-de-final, aos pés dos Emirados Árabes Unidos, foi uma tremenda infelicidade, já que os nipónicos massacraram autenticamente o adversário. Ainda assim, o fracasso pode ter feito com que Javier Aguirre tenha os dias contados. Individualmente, Honda, apesar de ter estado bastante bem, transportou a pouca sorte do Milan para a selecção (acertou mais nos postes do que nas redes), e Kagawa continua a estar aquém do que seria de esperar de um jogador com a sua qualidade. Quem não defraudou as expectativas foi Nagatomo, incansável a fazer todo o corredor esquerdo.

Japão
O Japão, equipa mais forte individualmente, foi para casa nos quartos
Fonte: Facebook da AFC Asian Cup

O Irão, melhor selecção asiática do último Mundial, surgia na Austrália como um forte candidato ao título, mas acabou por cair frente ao Iraque, num jogo entre duas equipas com um coração enorme. A turma de Queiroz, apesar de ter feito uma fase de grupos imaculada, falhou na mudança de “chip”; quando foi preciso assumir o jogo, os iranianos tiveram muitas dificuldades. Mas nem tudo foi negativo, já que Sardar Azmoun, avançado do Rubin Kazan que falhou o Mundial, confirmou que tem mesmo potencial para ser a referência da selecção nos próximos anos.

A maior surpresa da prova foi claramente a China, que chegou à fase a eliminar depois de vários anos a cair na fase de grupos. O investimento que tem sido feito no campeonato nacional (e não só, já que o governo chinês tornou a prática do futebol obrigatória na disciplina de Educação Física) parece estar a dar frutos, notando-se clara evolução em relação à última edição da prova. Há bons princípios de jogo, vontade de ter a bola e de praticar um futebol apoiado, mesmo que ainda não exista capacidade individual para o fazer (e a partida com a Austrália, que ditou a eliminação, é um exemplo claro disso). Sun Ke, extremo com facilidade em criar desequilíbrios, mostrou talento, e Zhang Chengdong, que passou pelo Mafra e fez um hat-trick ao Sporting, foi muito regular a actuar como lateral direito.

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Os chineses foram a surpresa da prova
Fonte: Facebook da AFC Asian Cup

Se a China foi a maior surpresa, os Emirados terão sido a confirmação. O terceiro lugar é um excelente resultado e a equipa ainda é jovem, pelo que poderá continuar a afirmar-se como uma nação forte no continente nos próximos anos. O problema é a falta de apoio para os três craques da equipa: Ahmed Khalil, potente avançado, Ali Mabkhout, melhor marcador da prova, com 5 golos, e sobretudo Omar Abdulrahman, que, para não variar, espalhou classe em todos os jogos. É muito estranho (ou talvez não, já que recebe um ordenado principesco no Al-Ain) que o médio ofensivo ainda não tenha experimentado o futebol europeu, mesmo que se coloquem dúvidas em relação à sua capacidade de fazer a diferença num contexto onde há menos tempo e espaço para ter a bola no pé e decidir. Já fez testes no City mas não ficou porque não conseguiu obter licença de trabalho (pelo menos é isso que se diz) e até já afirmou ter recusado uma proposta do Benfica, mas ainda não se mudou para a Europa. Será desta?

O balanço final desta Taça Asiática não pode fugir ao maior problema do futebol do continente: o desequilíbrio gigante entre as selecções mais fortes e as mais fracas, que faz com que a fase de grupos – onde não houve um único empate – seja um autêntico passeio para as equipa com maior qualidade. O que não se percebe é a decisão da AFC de alargar o número de equipas para 24 já na próxima edição, algo que poderá permitir a entrada de nações do Sudeste Asiático, como a Indonésia ou as Filipinas, mas que não ajudará a aumentar o nível da prova. Há selecções do Médio Oriente bastante atrasadas (Omã, Kuwait, Bahrein e agora o Paquistão, que fez a sua estreia) e países como a Coreia do Norte ou a Arábia Saudita que estão completamente estagnados no que diz respeito ao futebol. E isto prejudica imenso a qualidade da Confederação Asiática, que continua a ter pouca expressão nos Mundiais. A contrariar a tendência surge o Uzbequistão, que já é presença assídua na fase a eliminar (falta o passo seguinte, que coloque a equipa na discussão pelo título), o Iraque, que tem um potencial futebolístico incrível (o médio Kazim foi um dos melhores da prova), apesar de as condições não serem favoráveis, e os Emirados, que também estão a colher os frutos da subida de nível do campeonato interno.

11 do torneio

GR: Mat Ryan (Austrália)

DD: Cha Du-Ri (Coreia do Sul)

DC – Kim Young-Gwon (Coreia do Sul)

DC – Trent Sainsbury (Austrália)

DE – Kim Jin-Su (Coreia do Sul)

MC – Ki Sung-Yueng (Coreia do Sul)

MC – Massimo Luongo (Austrália)

MO – Omar Abdulrahman (EAU)

ME – Ali Mabkhout (EAU)

MD – Heung Min-Son (Coreia do Sul)

PL – Tim Cahill (Austrália)

Melhor jogador/Revelação: Massimo Luongo (Austrália) – Depois desta demonstração de qualidade, o médio australiano não deve ficar muito mais tempo no Swindon, da League One. O jovem de 22 anos foi o motor da equipa e terminou o torneio com 2 golos e 4 assistências, números que demonstram a tremenda influência que teve na conquista do título. A actuar no duplo pivot, impressionou sobretudo pela facilidade com que chega à frente, seja a aparecer em zonas de finalização ou a criar desequilíbrios nos flancos. Para além disso, é um jogador intenso, forte na recuperação e inteligente na ocupação de espaços. Tem todas as condições para chegar a um dos principais campeonatos.

Melhor jogo: Irão-Iraque

Foto de Capa: Facebook da AFC Asian Cup

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Para o Tomás, o futebol é sem dúvida a coisa mais importante das menos importantes. Não se fica pelas "Big 5" europeias e tem muito interesse no futebol jovem.                                                                                                                                                 O Tomás não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.

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