Voilà! | Países Baixos 1-2 França

Respirava-se fundo na Johan Cruyjff Arena. Um misto entre o alívio, por o momento representar uma pausa das aventuras do AFC Ajax, penúltimo classificado da Eredivisie com uma vitória em seis jogos, e talvez por isso a muita festa no pré-jogo entre os Países Baixos e a França; e a aflição, exactamente por essa mesma festa parecer a coisa mais forçada, com todos os presentes a pressentirem as dificuldades – sabiam os neerlandeses ser essa a única forma de tentar ludibriar o imenso poderio que se adivinhava ao adversário.

Muito fogo de artíficio, à falta de futebol. A Holanda de Koeman, que em Março tinha saído de Saint-Denis com quatro às costas, estava obrigada a fazer peito à França de Mbappé e Griezmann: ambição extravagante, pressão imensa. Sobretudo com a Grécia a morder os calcanhares, com os mesmos nove pontos na tabela. À mesma hora, os helénicos jogavam na República da Irlanda.

Koeman, obrigado a inventar, tentou jogar pelo seguro sendo pragmático – sem o seu maestro, Frenkie de Jong, ou Depay, Gakpo, Koopmeiners, Berghuis ou De Ligt, apostou na musculatura: pediu a Arne Slot indicações e deu a titularidade a Geertruida, numa linha a três junto a Van Dijk e Aké (com o estreante Verbruggen, do Brighton, nas redes), e estreeou Hartmann, o talentoso lateral esquerdo. Na outra ala, o monstro Dumfries; na frente, Weghorst via Xavi Simons vagabundo nas suas imediações. Na intermediária, notava-se a tentativa do golpe de asa: De Roon, Veerman e Reinjders para apertar namarcação homem a homem ao motor francês, sobretudo tentando anular Antoine Griezmann. Mas a manta é curta, e quando se tenta tapar o peito, os pés ficam de fora.

Sobretudo porque havia Mbappé como protagonista a partir da esquerda e Kolo Muani como seu sidekick – o primeiro golo da França, ainda antes da meia-hora e a provar o controlo total dos acontecimentos, nasce duma inteligentíssima movimentação do segundo para abrir espaço à finalização da estrela do PSG. Clauss, descoberto na ala direita por Griezmann, cruzou com conta peso e medida. Sem Koundé, Deschamps optou pelas capacidades ofensivas do jogador do Marselha: tiro certeiro, porque Hartmann mostrou as naturais desatenções dum estreante de 21 anos a este nível.

Com este golo, Mbappé igualava… Michel Platini. 41 golos pela Selecção – formidável registo, e o céu é o limite, que o recorde é de Giroud, com 54. Henry é segundo, com 51. São absurdos deste género que tornam Kylian numa referência histórica. O segundo golo, no inicio da segunda parte e já depois da França ter permitido três pequenos atrevimentos dos Países Baixos no último quartel antes do intervalo, é o melhor exemplo do esplendor do seu imenso talento. Assume, chama para si a responsabilidade, pega na bola e mete-a na gaveta. Aos 52’ minutos, a França confirmava o apuramento. Sempre por cima das incidências, a disciplina tática como base de sustentação dum sistema perfeitamente oleado, com intérpretes que jogam já de olhos fechados.

Koeman nunca teve reacção. Não se pode dizer que tenha sequer tentado mudar alguma coisa, nem mesmo quando trocou De Roon por Wieffer ao intervalo. Com tanta gente no estaleiro, encheu a convocatória com sete estreantes e oito elementos nascidos após 2000 – como em Barcelona, parece ser ele o homem escolhido para operar a renovação. Ainda que escasseiem as boas ideias, ainda que falte a ousadia própria das Laranjas Mecânicas do passado – que seriam os ideais substitutos da evidente falta de talento consolidado. O golo anulado a Malen, aos 54’, por fora-de-jogo de Aké, poderia ter sido a poção motivacional necessária para pelo menos lutar por algo mais. Não existindo esse estímulo, o jogo arrastou-se, sonolento, até ao final. Nem mesmo o cómico desleixo de Maignan, que a oito minutos do fim impediu a França de confirmar a qualificação sem qualquer golo sofrido, abanou qualquer fundação do edificio Bleu. É a sensação que fica desta França: o perfeito funcionalismo de Le Corbusier, a simplicidade e a austeridade ao serviço do bem comum; Todos ao dispôr das necessidades da equipa, um imenso e intransponível bloco onde o racional se casa com o rectílineo. Não há lugar à ornamentação, excepção feita às obras de Mbappé. Resiste-se a qualquer intempérie e impõe-se em qualquer paisagem.

A Grécia acabaria por ganhar em Dublin por 0-2, somando 12 pontos. Depois da aflição e da resignação, o desespero: o segundo lugar decide-se em Atenas no dia 16.

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Adepto da discussão futebolística pós-refeição e da cultura de esplanada, de opinião que o futebol é a arte suprema.

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