Primeiro que tudo, é preciso lá chegar. Se é verdade que a seleção está muito perto de carimbar o seu bilhete para a América do Norte, também é evidente que a qualificação não tem tido o brilho que se poderia esperar ao ler a lista de convocados. Com um lote de jogadores que inclui vários dos melhores do mundo, Portugal deveria demonstrar uma superioridade evidente frente a adversários como Irlanda e Arménia, e mesmo contra a Hungria, formação ligeiramente mais forte.
Tal como quando estava ao serviço da Bélgica, Roberto Martinez continua a ter dificuldades para retirar o melhor de um plantel de luxo. Várias decisões discutíveis relacionadas com uma má leitura do que se passa em campo têm dificultado encontros que podiam ser resolvidos muito mais cedo. Portugal tem jogado de forma “excessivamente paciente”, com pouco rasgo e “poucas” oportunidades, tendo em conta a domínio da posse de bola que é frequentemente avassalador.

Ao mesmo tempo, e mesmo contra seleções mais frágeis, fica uma constante sensação de desassossego na defesa. Qualquer bola perdida durante a construção ofensiva parece poder resultar numa séria ameaça à baliza de Diogo Costa e mesmo nas bolas paradas há uma certa falta de compostura. Várias exibições têm sido pautadas por uma falta de energia gritante protagonizada pelos titulares habituais. É surpreendente como, dispondo de tantas opções de qualidade, Martinez lança um 11 titular idêntico exibições muito fracas.
A conquista da Liga das Nações em junho mostra, no entanto, que Portugal consegue apresentar-se em bom nível nos momentos decisivos. O estilo de jogo pragmático e a força mental demonstrada na final four (que permitiu virar o resultado nos dois encontros) são argumentos que Portugal deve manter para as próximas grandes competições.
Respondendo ao título deste artigo, apontar a seleção portuguesa como favorito para a conquista do Mundial é no mínimo ousado. Se falarmos num conjunto de oito seleções favoritas, a inclusão de Portugal já se torna mais facilmente justificável. Ainda assim, não apostaria as minhas poupanças sequer na passagem aos 16-avos de final (isto não colocando em causa o apuramento para a fase final). Quase três anos sob a orientação de Martinez não serviram para aproximar a equipa das quinas do estatuto de candidato ao título.
As convocatórias têm sido repetitivas, espelhando claramente a ideia do selecionador: manter um núcleo que se conhece bem e com rotinas bem estabelecidas. Há vários nomes em destaque e à espera de uma chamada e os jogos de preparação a realizar já em 2026 poderão servir para isso mesmo. Mora, Quenda, Mateus Fernandes, Martim Fernandes e Gustavo Sá são alguns dos internacionais sub-21 com credenciais que podem facilmente ser opção. Outros jogadores que se têm destacado na Primeira Liga também seriam ótimas alternativas para refrescar o papel, como é o caso de Leonardo Lelo, Luís Esteves, Tomás Araújo ou mesmo Dinis Pinto.

Não é só Portugal que escorrega e são várias as seleções “grandes” que recentemente perderam pontos nesta qualificação, em exibições menos conseguidas: a França cedeu um empate em Reiquiavique, o Brasil sofreu um desaire em La Paz (com a “desculpa” da atitude a moderar a surpresa), a Argentina foi surpreendida pelo Equador e a Alemanha derrotada em Bratislava. São resultados que relembram que não há equipas que ganhem sempre, apesar de nesta qualificação ainda existirem cinco seleções com esse estatuto: Espanha, Noruega, Inglaterra, Marrocos e Nova Zelândia (as últimas duas já com o calendário concluído).
As casas de apostas colocam Portugal consistentemente fora do top-5 na lista de candidatos ao título mundial. As duas potências sul-americanas Brasil e Argentina juntam-se a Inglaterra, Espanha e França nas listas mais reduzidas de favoritos. Alemanha e Portugal são normalmente colocados na sexta e sétima posição nessa corrida, com outras potências europeias como Países Baixos e Itália a surgirem logo atrás.
A expansão do Mundial para 48 participantes vai fazer com que a fase a eliminar tenha tantas equipas como todo o torneio anterior. Ficar pela fase de grupos seria uma completa desilusão para Portugal, principalmente tendo em conta que os grupos serão, em teoria, mais acessíveis. A partir da fase a eliminar, o favoritismo será construído passo a passo e levantará o caneco quem for mais consistente. Há trabalho pela frente nos próximos oito meses para atingir essa consistência e assumir a candidatura àquele que seria o maior feito da história do futebol português.