A goleada de Portugal frente à Arménia, que garantiu a presença no Mundial do próximo ano, levantou de novo um tema que já se arrasta há alguns anos na seleção, mais precisamente desde que Cristiano Ronaldo começou a sentir o peso da idade.
É uma discussão comum hoje em dia em conversas de café. “Portugal joga melhor com Ronaldo”, diz um. “Não, Não. Sem Ronaldo é que é”, diz o outro. As opiniões dividem-se, e dificilmente se chega a um consenso. Mas esta é uma questão pertinente que merece ser debatida. No fundo é tentar perceber os prós e os contras da presença do avançado do Al-Nassr no onze de Roberto Martínez.
E há um aspeto que desde logo salta logo à vista. Sem ele, a seleção joga de uma forma mais fluida e objetiva. Quando está em campo, a tendência dos seus companheiros é jogar em torno do capitão. A sua presença na grande área é quase como um chamamento para os seus colegas lhe passarem a bola e ele tratar do resto. E verdade seja dita, às vezes trata e bem. É bom não esquecer que Ronaldo já foi decisivo nesta qualificação para o Campeonato do Mundo. O seu peso e a sua experiência nunca poderão ser ignorados.
Mas embora o objetivo do futebol seja marcar golos, e nisso ele é imbatível, existem questões táticas e físicas que Ronaldo já não pode dar o seu contributo a 100%. Como fazer pressão alta aos defesas contrários, por exemplo. Se quisermos optar por um jogador com essa valência, Gonçalo Ramos será o jogador mais indicado. O avançado de 24 anos tem características que Ronaldo já não tem e pode dar outras coisas à formação lusa, como velocidade, a agressividade na recuperação de bola.


O raio de ação de Ronaldo dentro das quatro linhas começa a ficar cada vez mais limitado à zona de finalização. Há muito que deixou de ser o jogador explosivo que era, mesmo com um físico impressionante aos 40 anos. A sua utilização a tempo inteiro começa a ser questionável, e não é por acaso que nas cinco partidas que disputou na qualificação para o mundial, apenas por uma vez completou os 90 minutos.
Sou da opinião que Ronaldo poderia ser uma mais-valia em certos jogos a partir do banco, e entrar em ação para aproveitar o desgaste dos adversários. Com a sua experiência e o seu poder de finalização ainda em pleno, poderia ser um suplente de luxo a ser lançado para resolver um desafio complicado.
Existe também a questão sobre quem marca os livres na seleção. Com o astro madeirense em campo, muito dificilmente haverá outro jogador a fazê-lo. Mesmo Bruno Fernandes, um exímio executante, tem dificuldade em tentar a sua sorte. Deveria haver uma melhor compreensão de Ronaldo nesse aspeto, pois existem boas alternativas para bater livres, e no encontro com a Arménia isso ficou bem patente. Mas isso é também um problema do treinador, que deveria impor-se mais nessa escolha. Por mais importância que CR7 tenha, o grupo tem que estar sempre em primeiro lugar.


Dizer-se que Cristiano Ronaldo já não cabe nesta equipa pode soar a crueldade, mas os números dizem que o conjunto de Roberto Martínez marca o dobro sem ele em campo. Nos seis encontros sob o comando do técnico espanhol em que o avançado não foi titular, a seleção marcou 29 golos. Dizer-se também que a turma das quinas joga melhor sem o seu melhor marcador de sempre, é um bocado relativo.
Há jogos com Ronaldo em que Portugal jogou bem, outros nem por isso. Ninguém duvida do valor do nosso capitão, do seu passado e de tudo aquilo que representa para o nosso país. Mas tudo tem o seu tempo, e já é hora de dar lugar aos mais novos na frente de ataque. Eles também querem mostrar serviço, pois trabalharam muito para estar na seleção, e merecem ter o reconhecimento desse esforço.
Cristiano Ronaldo tem ainda muito para dar a Portugal, seja dentro de campo ou fora dele. A sua experiência e o seu espírito de liderança serão sempre os seus maiores trunfos neste momento.

