TRIBUNA VIP é um espaço do BnR dedicado à opinião de cronistas de referência para escreverem sobre os diversos temas da atualidade desportiva.
Tudo o que permitimos que aconteça no futebol, permitimos na sociedade. Muitos querem separar as duas coisas, mas o futebol é um exemplo barómetro para o que nos rodeia. E, por isso, é importante falar dos valores do futebol e mantê-los vivos, tal como aconteceu neste EURO 2020.
Por muito que se fale em Champions League, campeonatos nacionais ou Taças, os Europeus e Mundiais são as provas que saltam mais depressa à nossa vista quando lemos os livros de história do futebol. Pelé, Maradona, Cruyff, Beckenbauer, entre outros, tornaram-se lendas pelo que fizeram nestas provas. São momentos únicos que me levam para outra dimensão emocional. A forma como festejei os golos da Suíça frente à França ou como vibrei com o Espanha x Croácia são um excelente exemplo. Não vibro só com a nossa seleção e desfruto ao máximo todos os jogos.
🤩 It’s EURO 2020 final day! 🤩
🔮👇 Predict who will lift the 🏆 at Wembley Stadium…@bookingcom | #EUROfixtures | #EURO2020 pic.twitter.com/b3ZTBHlthh
— UEFA EURO 2020 (@EURO2020) July 11, 2021
Contudo, este Euro 2020 marcou-me bastante dentro e fora de campo. O regresso dos adeptos foi algo significativo e acredito que fez a diferença no estado de espírito dos jogadores. A situação dramática que todos vivemos com Christian Eriksen ficará para sempre na história desta competição. Mas o facto mais relevante deste Euro 2020 foram as lutas sociais contra o racismo e pela igualdade.
Alguns adeptos e jogadores foram um exemplo – como foram os casos da Bélgica e da Inglaterra, que continuam a relembrar-nos de que todas as vidas contam; ou o caso dos muitos alemães que não tiveram medo de mostrar a sua posição frente à equipa que representou a Hungria de Viktor Orbán. O futebol precisa de mais momentos como estes e não podemos ser neutros como a UEFA e o governo português nos querem tornar. A incerteza dos jogadores portugueses frente à Bélgica no momento de ajoelhar fez-me sentir alguma vergonha alheia, porque nestes momentos não há lugar a incertezas: ajoelhas-te como eles, aplaudes e ficas de pé como a Dinamarca fez, ou então recusas-te a participar nesse acto.
Um estádio de futebol tem de continuar a ser um lugar para dar voz a todos os movimentos sociais. Já basta a forma como controlam as vozes dos jogadores nestas lutas; não deixem que os adeptos também sejam calados. O futebol e o desporto serão sempre mais fortes consoante a sociedade em que vivem.
Artigo de opinião de Pedro Afonso,
jornalista ELEVEN
Artigo revisto por Andreia Custódio