Copa América’2015 – Brasil 1-1 Paraguai (3-4, g.p): Quo vadis, Brasil?

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    Depois de Chile, Perú e Argentina, havia ainda uma vaga nas meias-finais da Copa América’2015. Para ocupá-la, Brasil ou Paraguai. Em Concépcion, ainda antes de tudo ficar decidido nas grandes penalidades, assistiu-se a um jogo de muito maior empenho e abnegação do que a um espectáculo de técnica ou magia. Isto porque este Brasil está tão longe de encantar que nem parece aquele país que nos habituamos a ver sambar com uma bola; e também porque este Paraguai, apesar da imensa alma e crença que coloca em cada disputa de bola, está distante de ser uma equipa que apresente grande qualidade no seu jogo.

    O escrete voltou a alinhar no seu esquema habitual – 4-2-3-1 com Robinho a fazer de Neymar; de todo o modo, muita mobilidade, com os 4 homens da frente sempre irrequietos, e com a dupla Elias-Fernandinho a guardar as costas. Do lado paraguaio, o 4-4-2 clássico foi o esquema táctico-base da equipa de Rámon Díaz, com duas formigas de trabalho no miolo do terreno (Cáceres e Aranda), com as alas a surgirem como espaços de imprevisibilidade, por Benítez e Derlis, e na frente Valdes e Roque Santa Cruz a jogarem de perfil, ainda que o primeiro tenha e ofereça muito mais mobilidade ao jogo do Paraguai.

    O jogo arrancou com dois momentos dignos de registo: logo ao primeiro minuto, enorme remate de longa distância por Coutinho para defesa brilhante de Justo Villar; do outro lado, Benítez entrou a todo o gás – fantástico na mudança de velocidade, foi um calafrio constante para Daniel Alves. Sem ter feito muito por isso, o Brasil haveria de chegar ao golo à passagem do quarto de hora. Fruto de uma  bela jogada colectiva (utilização perfeita dos três corredores), com um excelente último passe de Daniel Alves, Robinho só teve de encostar e, com isso, fazendo esquecer que era até o ‘Para’ que estava por cima do jogo, com mais bola e criando relativo perigo.

    Como é hábito no Brasil de Dunga, o ‘escrete’ recuou e foi tentando especular com o jogo. Demonstrando imensas dificuldades em construir jogadas desde trás, a gestão do jogo raramente foi efectuada com uma posse de bola pausada, serena e/ou em zonas subidas. Os pequenos flashes de perigo que o Brasil ia, aqui e ali, criando resultavam sobretudo de recuperações de bola em terrenos mais avançados – aí sim, são capazes de imprimir velocidade e criar desequilíbrios, ainda que haja um assinalável défice de qualidade na definição das jogadas. Por sua vez, o jogo do Paraguai não é propriamente elaborado – nem voltou a sê-lo nesta partida. Vive sobretudo daquilo que é a criatividade dos seus alas (mais Benítez na 1ª parte, mais Derlis na 2ª) ou então procura o passe directo em busca dos dois avançados, apelando à combatividade no jogo aéreo. Destaque: perante um adversário pouco inteligente e capaz, a grande alma paraguaia foi sempre conseguindo compensar os défices de qualidade técnica. Porém, o jogo em si não era o mais entusiasmante: muitos passes errados e poucas oportunidades (tão-só 5 remates em toda a 1ª metade), sendo de assinalar apenas um remate rasteiro de Santa Cruz ao lado da baliza de Jefferson.

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    Jefferson impediu o Paraguai de chegar à vitória no tempo regulamentar
    Fonte: ca2015.com

    A 2ª parte trouxe um jogo mais aberto e mais próximo de ambas as balizas. Mais partido, portanto. De todo o modo, foi sempre o Paraguai que esteve mais próximo do empate do que o Brasil de chegar ao segundo tento. Num curto período de tempo, em dois cantos cobrados por Derlis, Nelson Valdez e Paulo da Silva estiveram perto de assinar o 1-1. Por esta altura, era o Paraguai quem assumia definitivamente as despesas da partida, colocando mais gente no processo ofensivo, mas denotando óbvias limitações em alguns momentos do jogo – a título de exemplo, o Paraguai privilegia o futebol pelos corredores laterais mas tem um baixo índice de aproveitamento dos cruzamentos que efectua para a área. Do lado canarinho, em dez minutos, Dunga fez sair Willian e Firmino, entrando Douglas Costas (deu outra vivacidade ao jogo do Brasil) e Tardelli (perfeita nulidade), vendo logo de seguida Thiago Silva cometer um penalty tão ridículo quanto estúpido (não há outras palavras), dando oportunidade a Derlis de colocar alguma justiça no marcado – aquilo pelo qual o ‘Para’ sempre tentou, ainda que frequentemente não pela melhor via. 1-1 aos 70′. 

    O jogo abriu ainda mais, porque agora também o Brasil precisava de chegar à baliza paraguaia – e isso é algo aparentemente tão complicado para os pupilos de Dunga. De facto, o Brasil, em determinados momentos, parece quase duas equipas numa só. Os quatro homens da frente pouco participam no processo defensivo, da mesma forma que os dois médios centrais brasileiros (naquilo que lhes é pedido estiveram em bom plano) raramente se chegam à frente, sendo que o processo ofensivo pede sempre mais a colaboração das duas locomotivas laterais (Daniel Alves e Filipe Luís fizeram imensas piscinas nesta partida). Enquanto o Brasil tentava e não conseguia, Ramon Díaz foi refrescando a equipa, com destaque para a saída de Benítez (um perigo à solta enquanto as pilhas duraram) e para a entrada de Bobadilla, possante avançado que veio dar outro tipo de possibilidades ofensivas à equipa paraguaia. Apesar de algumas chegadas a ambas as áreas com perigo qb, nunca pareceu que o golo do desempate estivesse para chegar – quem mais próximo esteve de o lograr foi Derlis na conclusão de um belo contra-ataque aos 79′. O jogo arrastou-se, assim, para o final sem grande chama. No fundo, sem grande Brasil.

    Em caso de empate no final dos 90′, a Copa América não contempla prolongamento, pelo que o jogo seguiu de imediato para o lote de 5 castigos máximos. Nesse quadrante, por entre penalties marcados com grande violência ou com enorme categoria (Bobadilla e Miranda, por exemplo), os vilões haveriam de ser Everton Ribeiro (entrou para o lugar de Robinho) e Douglas Costa, já depois de também Roque Santa Cruz ter colocado uma das bolas em órbita do Sistema Solar. Tudo somado, depois de ter rematado quase o dobro do seu adversário no total dos 90 minutos (10-6), o Paraguai concretizou quatro grandes penalidades contra três do Brasil, garantindo a presença na meia-final da próxima terça-feira. Depois de abater o escrete, os paraguaios voltarão a defrontar a Argentina, equipa a quem arrancaram um empate (2-2) na fase de grupos. Por sua vez, a cada grande competição, o Brasil vai passeando uma camisola que já foi tremendamente grande em tempos idos mas que hoje, por entre infantilidades negligentes e erros grosseiros, é apenas uma sombra de si mesma.

    A Figura
    Edgar Benítez/Derlis González – Nenhum dos dois fez um jogo estrondoso mas foi esta dupla, no geral, que permitiu sempre aos paraguaios acalentar o sonho da passagem. Benítez esteve intratável na 1ª parte, colocando a cabeça em água a Daniel Alves; por sua vez, Derlis apareceu em grande nível nos segundos quarenta e cinco minutos, sendo capaz de esticar o jogo da equipa em profundidade ou trazendo a bola para zonas mais interiores. Ainda mais: foi o jogador do Basileia que marcou as duas grandes penalidades decisivas, primeiro aos 71′, depois no derradeiro lance do jogo.

    O Fora-de-Jogo
    Thiago Silva – Havia outros candidatos, como Roberto Firmino ou o próprio Dunga. Porém, há erros individuais que destroem toda a ideia de um colectivo – por mais que essa ideia até seja fraca. Hoje foi isso que sucedeu. A exibição do Brasil estava a ser frouxa mas foi o central do PSG quem tornou o jogo ainda mais complicado com uma abordagem completamente estapafúrdia a uma bola dentro da sua área que não parecia, sequer, digna de criar perigo – o árbitro só podia assinalar penalty.

    Foto de capa: ca2015.com

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