O ciclo de gestação tem no 9 um número ótimo para que nasça algo novo e completamente diferente. 9, o dorsal de um herói. No Jardim de Éder encontramos o nosso paraíso. Nasceu, futebolisticamente falando, um novo país.
Bom, este primeiro parágrafo já me causou calafrios e, antes que caia na tentação da emoção e fazer deste artigo uma epopeia de sentimentos, é melhor colher os factos e contar esta história, já contada, já sabida, já lembrada, mas, quando toca a falar-se dos dias mais felizes das nossas vidas, toda a vez que o contamos, a História faz-se ela própria nova.
Estreou-se pela seleção ‘A’ a 11 de setembro de 2012, diante do Azerbaijão. Daí até hoje, mais 32 jogos e 4 golos. O primeiro aconteceu três anos depois da estreia. 16 de junho de 2015. Golo frente à Itália. Vitória. 1-0. Derrotámos a seleção transalpina quase 40 anos depois. História feita logo num golo inicial, hein?
No caminho para o Europeu, foi utilizado em 5 dos 8 jogos, um deles a titular, caso da derrota com a Albânia que ditou o afastamento do selecionador Paulo Bento. 0 golos para o ponta de lança na fase de qualificação.
Na preparação já mais próxima do europeu, que é como quem diz nas semanas anteriores ao mês imenso, qual rota dos descobrimentos da bola, Éderzito António Macedo Lopes fez o gosto ao pé por duas vezes, um no Dragão, diante da Noruega, e o outro em mais um particular, frente à Estónia, no Estádio da Luz.
Nada quantitativamente impressionante para os adeptos que, em uníssono, formavam sucessivos coros de assobios ao mal-amado e sozinho Éderzito. Sim, com o diminutivo. Como assim é no registo civil.
Diminutivo que recorda um bebé nascido na Guiné-Bissau, que, ainda muito criança veio para Portugal, tão novo que não lhe permite agora vislumbrar qualquer memória digna de tal nome acerca de Bissau Natal. Trouxe a tez escura e a humildade de quem tinha pouco.
Chegou a Lisboa e com os pais sem capacidade financeira para o criar, foi para o Colégio Frei Gil, em Braga, e, pouco depois, para o Lar Girassol, em Coimbra. O Adémia foi o primeiro clube onde jogou, depois dos castigos da escola, dos vidros partidos pela paixão pelo elemento redondo que nos faz sonhar nos palcos grandes. Éderzito um dia seria Éderzão!