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Depois do primeiro jogo de Portugal no Mundial de Sub-20, frente ao Senegal, escrevi que com esta equipa, os portugueses poderiam sonhar. Quis o azar que o sonho terminasse nos quartos de final, na lotaria das grandes penalidades, frente a um Brasil que em nada se mostrou superior à Seleção Nacional.
Hélio Sousa montou a equipa num esquema mais defensivo, ao apostar em Francisco Ramos e Estrela nos lugares de Guzzo e Gonçalo Guedes. Ainda assim, a equipa das quinas entrou com vontade de pegar no jogo e, nos primeiros 15 minutos, o ascendente era luso. André Silva e Gelson Martins desperdiçaram duas boas oportunidades, naquilo que seria um prenúncio do que iria suceder ao longo de toda a partida. Pouco depois, o Brasil conseguiu equilibrar o jogo, mas só através da velocidade dos seus extremos (Marcos Guilherme e Gabriel Jesus) se aproximou da grande-área controlada por André Moreira.
O intervalo chegou, com nota positiva para Rony Lopes – fez a melhor exibição neste Mundial -, Gelson Martins e Tomás Podstawski. O capitão demonstrou sempre grande leitura dos lances e clarividência no passe e definição do ritmo de jogo. Sinal mais para Portugal à entrada do segundo tempo. Mas foi o “encaixe” tático quase perfeito das duas equipas que marcou verdadeiramente uma primeira parte bem disputada.
O Brasil apostou num sistema mais móvel para a etapa complementar, ao retirar Jean Carlos (uma nulidade) e colocar Andreas Pereira como elemento mais avançado da equipa, trocando constantemente de posição com Boschilia. A ‘canarinha’ conseguiu ser mais objectiva na hora da transição ofensiva e só quando o selecionador português substituiu Estrela por Nuno Santos é que Portugal voltou a controlar as operações. Podstawski recuou e Rony Lopes voltou à sua posição de origem, deixando as alas entregues a Gelson e ao recém-entrado extremo do Benfica.
No entanto, o que se veria depois seria um rol de oportunidades desperdiçadas. André Silva e Gelson não conseguiram bater o guarda-redes Jean e Rony Lopes enviou mesmo a bola ao ferro da baliza, num remate cruzado após bela iniciativa individual do ponta-de-lança português. Com o cronómetro a bater no minuto 90, o nulo obrigava a meia hora suplementar.
O prolongamento ficou marcado pela fadiga das duas seleções. O Brasil havia completado 120 minutos frente ao Uruguai e os jogadores portugueses também acusaram cansaço. A falta de discernimento pode ter sido uma das razões que, aliada à falta de sorte, deu seguimento aos falhanços lusos. Rony Lopes e Gelson Martins, isolados, não foram capazes de acertar na baliza à guarda de Jean. Entretanto, Guzzo e Ivo Rodrigues entraram para os lugares de Francisco Ramos e do extremo leonino.
No fatídico desempate por grandes penalidades, o azar teimou em ficar do lado português. Depois do central brasileiro Lucão (bela exibição) falhar, Guzzo não conseguiu aproveitar ao atirar à figura de Jean, numa tentativa algo infantil de reproduzir o famoso “penalty à Panenka”. O golpe anímico foi demasiado forte e seguiram-se André Silva e Nuno Santos, que nem sequer acertaram com a baliza.
Portugal merecia a vitória. O volume de oportunidades criadas justificou em pleno a criação de uma vantagem que não se verificou. O Brasil teve a estrelinha do seu lado e agora tem caminho aberto para vencer a competição, visto que a Alemanha também caiu na marca dos onze metros contra o Mali. Mas há que sentir orgulho nos rapazes das quinas. Talento não falta nesta geração e o futuro pode ser encarado com optimismo. Estes caçadores de sonhos têm licença para continuar a sonhar.
A Figura:
Gelson Martins – O extremo destilou todo o talento e arte que tem nos pés. Além de ter sido uma seta constantemente apontada à baliza brasileira, foi incansável na procura das melhores soluções para chegar ao golo, que acabou por não surgir. E esteve sempre disponível para ajudar Rafa nas tarefas defensivas. Um jogador completo, com enorme sentido de responsabilidade.
O Fora-de-Jogo:
Raphael Guzzo – Alguns podem considerar injusta esta nomeação. A verdade é que, depois de ver o adversário desperdiçar uma grande penalidade, tomou a decisão infantil de bater o seu penalty em jeito, o que, além de ter deixado Portugal numa situação delicada, desferiu o golpe decisivo na motivação e confiança dos restantes colegas. É jovem, tem muito para aprender e, oxalá, um grande futuro pela frente; mas a este nível, não se pode falhar assim.
Foto de Capa: Facebook ‘Seleções de Portugal’