O imbróglio tático na obra do “Engenheiro”

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    A Seleção Nacional terminou a época com duas vitórias nos dois jogos finais da estação desportiva. No jogo “a sério”, alcançou uma vitória suada na Arménia, por 3-2, numa partida que ficou marcada pela paupérrima exibição dos comandados de Fernando Santos, disfarçada pelo fator CR7. Na partida “a brincar”, foi a Itália que cedeu face à equipa das quinas, pela margem mínima. Uma Itália que não é mais do que uma sombra daquela que vimos no Mundial do Brasil. Se bem nos recordamos, essa squadra azzurra, apesar de ter apresentado um futebol agradável, não foi capaz de passar aos oitavos de final da prova, o que por si só já diz muito.

    Mas não é só a equipa italiana que está desencontrada. Em boa verdade, desde que Fernando Santos assumiu o comando técnico da Seleção, ainda não foi capaz de definir uma tipologia de jogo que sirva como base para o estilo que o “Engenheiro” procura implementar ou, quem sabe, introduzir. Apesar destas condicionantes, os resultados têm aparecido. E esse é, talvez, o maior problema que se criou em redor da “equipa de todos nós”. É bem sabido que o adepto português valoriza muito mais o resultado do que a qualidade exibicional. Para o propósito atual, as vitórias têm servido, mas julgo que todos sentem o mesmo: num nível competitivo mais exigente, como o da fase final de um Europeu, a sorte e o cinismo podem não chegar.

    Vejamos: quando substituiu Paulo Bento, Fernando Santos tentou fazer do tradicional 4-3-3 um 4-4-2 losango, onde Tiago e Moutinho desempenharam o papel de médios-interiores, com Danny a jogar nas costas de Ronaldo e Nani, os elementos mais adiantados. Na ausência de um avançado fixo, a equipa portuguesa perdeu a sua referência atacante e passou a depender dos raides dos dois jogadores mais virtuosos. Se a pressão exercida sobre a saída de bola do adversário aumentou (como se viu no jogo na Dinamarca), o jogo português perdeu profundidade nas alas. Por muito bons executantes que Ronaldo e Nani sejam, não podem estar em dois sítios ao mesmo tempo.

    Gorada a hipótese acima descrita, passou-se para um 4-2-3-1 mutante, que surgiu frente à Sérvia e, mais recentemente, na Arménia. Aqui reside a grande fonte de confusão tática da Seleção. Fábio Coentrão é extremo no momento ofensivo e, aquando da transição defensiva, “fecha” com os médios mais recuados, Tiago e Moutinho. Isto acaba por gerar alguma anarquia no miolo, porque quando Portugal encontra adversários rápidos a contra-atacar, muitas vezes deixa o “duplo-pivot” em inferioridade numérica, algo que aconteceu na Arménia, com Mkhitaryan a destroçar por completo o meio-campo luso. Ronaldo é vagabundo na frente de ataque, mas, quando vem buscar jogo atrás ou às alas, deixa (novamente) o ataque órfão de referências.

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    Danilo esteve bem e pode ser opção para futuros encontros
    Fonte: Facebook das Seleções de Portugal

    O facto mais curioso acaba por ser o seguinte: os melhores momentos da ‘era Fernando Santos’ surgiram quando a equipa assumiu o clássico 4-3-3. Frente à Argentina, nos instantes finais do jogo e, como se viu nos 90 minutos, frente à Itália. Com um alvo na área (Éder, em ambos os casos), a equipa portuguesa recupera o seu ADN. Um médio mais posicional, o tradicional trinco, que pode ser William ou Danilo (excelentes indicações) e dois interiores mais adiantados, Moutinho e Tiago. Ronaldo pode ser deslocado para o eixo do ataque, transformando Éder na segunda alternativa, como é natural; ainda assim, e para que não fique tão limitado nas suas ações, o capitão pode trocar de posição com os extremos, para que se crie a noção de rotatividade constante, que poderá confundir marcações e oferecer mais soluções aos restantes companheiros.

    Que fique bem claro: o 4-3-3 não resolve os problemas. Pode ser o ponto de partida, que esteve sempre lá, mas há inúmeros retoque a fazer na “obra” tática da Seleção. Há que tentar tirar o máximo de cada jogador e indicar-lhe qual é o seu papel exato no sistema e modelo de jogo. Para que tal aconteça, a prioridade é criar um onze base. Isso já depende de Fernando Santos, e convém que o selecionador não ignore as evidências. José Fonte é o central português em melhor forma, Coentrão tem que jogar a lateral e Vieirinha é, de momento, a solução mais viável para a direita defensiva. William Carvalho e Danilo Pereira são indispensáveis ao equilíbrio (pelo menos um deles), e Moutinho é o pêndulo. Tiago empresta mais solidez ao setor intermediário, mas não é um “criativo”. Bernardo Silva pode ser a chave para este lugar, em alturas que a espontaneidade de um “número 10” seja necessária. E, na frente, Nani, Ronaldo e Danny têm de ser as opções mais recorrentes, pela qualidade e experiência que acarretam.

    O jogo com a Itália tinha tudo para correr mal, pelas ausências e pelo cariz amigável, desprovido de pressão. Talvez por isso se tenha transformado numa agradável surpresa. Éder marcou o primeiro golo de quinas ao peito, matou-se mais um “borrego” e fiquei convencido de que pode existir solução para o problema qualitativo do processo de jogo português. Há um longo caminho pela frente, mas a ideia já surgiu. Só é preciso que alguém pegue nela.

    Foto de Capa: Facebook das Seleções de Portugal

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    Francisco Sebe
    Francisco Sebehttp://www.bolanarede.pt
    "Acordou" para o desporto-rei quando viu o FC Porto golear a Lazio, no dilúvio das Antas. Análises táticas e desportivismo são com ele, mas o amor pelo azul e branco minimiza tudo o resto.                                                                                                                                                 O Francisco não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.