10 conclusões que tiramos da Maratona de Londres

3. A carreira de Kenenisa Bekele na Maratona é uma montanha russa

Era apontado como o único atleta capaz de bater Kipchoge e falhou redondamente o seu objectivo de prova. Bekele, que se confessa obcecado pelo recorde mundial, não o contava bater nesta prova. Fez menção ao mesmo no futuro, mas a sua estratégia para esta prova era clara: vencer. Desde cedo que se demonstrou desconfortável com o forte ritmo imposto na frente da prova e acabou por ficar para trás. Viria a ser sexto e no final da prova o etíope viria a dizer que não era sua intenção ter corrido no grupo da frente, uma vez que sabia que eram passagens irrealistas e suicidas as pedidas. Mas correu. Muito por culpa do segundo grupo de elite nunca ter, de facto, existido. Tentou ir no tal grupo da frente e nunca se encontrou na prova. O atleta que ainda é o recordista mundial dos 5.000 e dos 10.000 metros em pista, tinha corrido oito Maratonas até este momento. Havia vencido duas (uma delas a 6 segundos do recorde mundial), tinha desistido em três e tinha terminado uma vez em segundo, uma vez em terceiro e uma outra vez no quarto lugar. Desta vez, foi sexto, em 2:08:53, naquela que foi a sua pior classificação em provas onde chegou ao final. Várias vozes afirmando que Bekele não impõe o mesmo esforço que outros maratonistas de elite no seu treino se têm levantado e fica a dúvida se esse será o factor que tem feito a diferença em relação a Kipchoge, depois de em pista Bekele ter atingido patamares que Kipchoge nunca conseguiu.

4. Shura Kitata está para ficar

Foi o “surpreendente” atleta no pódio, mas só deixará completamente espantado alguém que ande muito distraído. É certo que a concorrência em Londres era de peso, mas Shura Kitata não pode ser tratado como um desconhecido, como parece ter acontecido em algumas análises feitas a seguir ao evento. Já tinha corrido abaixo das 2h06 e em 2017 havia vencido em Roma e em Frankfurt que, mesmo não sendo Majors, são Maratonas de elevado prestígio. Tem ainda 21 anos e o segundo lugar alcançado aqui em Londres, em 2:04:49, deixa antever um futuro muito promissor. Treinado por Haji Adilo, sabemos que está em boas mãos e olhando para a média de idades de quem manda nas Majors na actualidade, não será de surpreender se virmos Kitata a agarrar o testemunho num futuro muito próximo.

5. Vivian Cheruiyot pode vencer a este nível em estrada

No ano passado, estreou-se em Maratonas aqui mesmo, em Londres, com um excelente 4º lugar e com bastantes áreas para melhoria identificadas. Mais tarde, venceu a Maratona de Frankfurt. Voltava este ano a Londres não como uma das duas principais favoritas, mas claramente como uma das atletas a ter debaixo de olho. Tendo-se estreado na Maratona apenas aos 33 anos, Vivian Cheruiyot sabe que não terá uma carreira demasiado longa pela frente em estrada e ela mostrou não ter tempo a perder. A atleta que, recorde-se, é a actual campeã olímpica nos 5.000 metros e que se estreou em Jogos Olímpicos há 18 anos atrás em Sidney (!), não só veio vencer a Londres como veio fazê-lo em grande estilo, tornando-se a quarta atleta mais rápida da história da Maratona, baixando o seu recorde pessoal em mais de 5 minutos (!) numa prova com condições climatéricas muito especiais e com os maiores nomes presentes.

As três atletas do pódio de Londres
Fonte: Virgin Money London Marathon

Cheruiyot foi aquilo que sempre nos habituou ao longo da sua carreira: bastante inteligente na forma como geriu as circunstâncias da prova. Sabia que o ritmo de recorde mundial não lhe convinha e nem sequer se preocupou em acompanhar o ritmo das atletas da frente, começando até no terceiro grupo. Acreditava que a sua hora chegaria e limitou-se a fazer a sua prova, tendo em mente a prova do ano passado onde quis acompanhar o grupo da frente e apenas o conseguiu fazer no primeiro terço da prova, pagando caro esse esforço inicial. Agora foi diferente. Pouco passava dos 35 km, quando Cheruiyot deu uma sapatada final na prova, ou melhor, percebeu que Keitany estava fora de combate e aproveitou para passar tranquilamente pela sua compatriota queniana, sem que esta conseguisse esboçar qualquer reacção. Quando comparados, os splits de Cheruiyot e Keitany (ao dividirmos a prova ao meio) ajudam a explicar muito do que se passou. Cheruiyot correu em 68:56/69:34. Keitany correu em 67:16/77:11, com um split positivo de quase 10 minutos.

6. Os campeões também caem. E isso inclui Mary Keitany.

Já a tínhamos visto cair anteriormente, mas não deixou de surpreender a forma como Mary Keitany – 3 vezes campeã aqui em Londres – não conseguiu cumprir o que tinha previsto para a sua prova e, principalmente, por não ter ajustado o seu plano. Tendo obtido o recorde mundial (2:17:01) em provas exclusivamente femininas no ano passado, ela sabia que atingindo o recorde mundial absoluto iria, de certa forma, dissipar dúvidas e provar no mesmo recinto que Paula Radcliffe o fez (em 2:15:25) que era capaz de correr mais rápido do que ela. Para tal, pediu e a organização acedeu ao pedido de ter lebres masculinas a controlar o ritmo alto da frente. O ritmo pedido às lebres era de 67.30 à passagem da metade da prova, o que era claramente ambicioso. Mas Mary Keitany cumpriu o plano na perfeição, ao passar até ligeiramente mais rápido e abaixo do parcial para recorde do mundo. Acontece que por essa altura as temperaturas em Londres já atingiam os 23º graus, com ausência de vento, o que tornava todo o objectivo de Mary Keitany ainda mais complicado ou até utópico. Keitany lutou até onde pôde para acompanhar o ritmo das lebres que a dada altura perceberam que ela não iria conseguir acompanhá-los e até se viu os mesmos a trocarem algumas impressões acerca do que acontecia. Numa fase inicial Tirunesh Dibaba (ETH) acompanhava Keitany, mas esta viria a ficar para trás e desistir da prova. Keitany mantinha-se na frente mas com claras dificuldades em acompanhar o ritmo e em controlar a respiração. A partir do momento em que sentiu Cheruiyot nas suas costas, percebeu o que ali vinha. A única reacção que esboçou foi já na meta tentando garantir uma quarta posição que viria a perder para a compatriota Gladys Cherono (KEN). No final da prova, esta era Mary Keitany ajudada para se manter em pé:

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Pedro Pires
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O Pedro é um amante de desporto em geral, passando muito do seu tempo observando desportos tão variados, como futebol, ténis, basquetebol ou desportos de combate. É no entanto no Atletismo que tem a sua paixão maior, muito devido ao facto de ser um desporto bastante simples na aparência, mas bastante complexo na busca pela perfeição, sendo que um milésimo de segundo ou um centimetro faz toda a diferença no final. É administador da página Planeta do Atletismo, que tem como principal objectivo dar a conhecer mais do Atletismo Mundial a todos os seus fãs de língua portuguesa e, principalmente, cativar mais adeptos para a modalidade.                                                                                                                                                 O Pedro escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.

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