10 conclusões que tiramos da Maratona de Londres

    7. A ambição deve ser calculada

    A frase serve na perfeição para definir o referido no ponto anterior, mas ainda serve melhor para resumir a prova de Tirunesh Dibaba. Dibaba tem muito pouco a provar na sua carreira. Em pista foi medalhada em 4 Jogos Olímpicos e 5 Mundiais. No ano passado, alcançou um segundo lugar na Maratona de Londres com um fantástico tempo de 2:17:56, por detrás de Keitany, tornando-se a terceira mais rápida de todos os tempos. Mais tarde, venceria em Chicago a primeira Major da sua carreira. Tudo parecia apontar para termos uma Dibaba em grande forma em Londres e assim pareceu numa fase inicial acompanhando o ritmo de Keitany e das lebres da frente. E esse pode ter sido o seu maior pecado.

    Dibaba e Keitany procurando acompanhar o elevado ritmo imposto pelas lebres
    Fonte: Virgin Money London Marathon

    É fascinante a possibilidade de um recorde mundial e é um dos maiores sonhos de qualquer atleta de elite, especialmente quando já de tudo um pouco se ganhou, como acontece com Dibaba. Mas deve-se escolher quais os melhores palcos para se travar as melhores batalhas. Correr em Londres, este ano, da forma como as duas favoritas correram era, no mínimo, arriscado e revelou-se mesmo uma missão impossível. Dibaba terá aprendido a lição, pois ao quilómetro 30 vimo-la a fazer algo pouco habitual. Parou quando ia na segunda posição, andou uns metros e retomou a corrida num ritmo lento. O desfecho era previsível. Pouco depois abandonou a prova.

    8. A Maratona continua a ser uma das provas mais imprevisíveis

    Pode parecer uma frase feita, mas continua a ser a mais pura das verdades. Embora todos os nomes do pódio tenham sido mencionados na nossa antevisão, a verdade é que se nos perguntassem as nossas previsões para o pódio, eu teria acertado apenas em 3 dos 6 atletas, sendo que em apenas dois faria a previsão certa em termos de lugares do pódio (Kipchoge e Mo Farah). Claro que o que aconteceu em Boston uma semana antes não é algo comum e não se irá repetir muitas vezes ao longo da nossa vida. Mas dentro dos atletas de elite, existe um conjunto relativamente alargado de atletas que podem sair com a vitória ou, pelo menos, com um dos lugares do pódio. A duração da prova, o percurso, as condições climatéricas, a preparação, a tática utilizada, os ajustes, os contratempos, tudo isto deve ser tido em conta em qualquer desporto, mas numa prova como a Maratona, os pormenores podem fazer toda a diferença. E se domingo vimos Bekele e Keitany fora do pódio, não deixaria ninguém de boca aberta se os víssemos no lugar mais alto do pódio em Berlim ou Chicago. Essa é a beleza do desporto em geral, do nosso desporto em particular e ainda mais de provas com estas características. Algum dos atletas em actividade irá bater o actual recorde mundial? Acredito que sim. Será Kipchoge? Acredito que sim. Mas quem o poderá afirmar com certeza? Afinal, quando Keitany comandava a prova em Londres e quando Dibaba começou a andar, as Odds na SkyBet davam 80 libras por cada libra apostada em Cheruiyot. Quem diria…

    9. O clima é o factor que faz a maior diferença na obtenção de marcas

    Este é um ponto polémico e não consensual. Afinal como vimos no ponto anterior existem vários factores que em conjunto podem explicar melhores ou piores resultados face ao esperado. Explicando: reconhecendo essas circunstâncias e particularidades de cada prova, parece cada vez mais claro que entre atletas de elite, treinados ao mais alto nível, com uma correcta preparação e com uma clara estratégia de prova, O factor que poderá fazer uma maior diferença na obtenção de marcas são as condições climatéricas. Não é o único e não queremos ser mal interpretados. Mas num dia com as condições ideais, acredito que estaríamos hoje a falar na queda de pelo menos um recorde mundial, senão mesmo, dos dois. Poderíamos falar do cataclismo que aconteceu em Chicago uma semana antes. Mas seria demasiado fácil pegar por aí. Sabemos que as vitórias de Desi Linden e Kawauchi nunca teriam acontecido noutras condições e que os mesmos, de certa forma, foram menos afectados pelas condições do que outros atletas. Não. Pegamos mesmo aqui em Londres e nos parciais de meia: 1:01 na prova masculina e 1:08:56 na prova feminina. Ambas as provas se desenrolavam abaixo de parciais de recorde mundial, tínhamos em ambas as provas atletas com a preparação ideal, atletas rápidos, que queriam cravar ainda mais o seu nome na história. As temperaturas (aliadas à ausência de brisa) trataram do assunto. Para se bater um recorde mundial não basta aos atletas serem perfeitos. É também necessário que tudo ao seu redor esteja perfeito. No dia em que isso acontecer, o recorde voltará a cair.

    10. As notícias da morte do Quénia foram exageradas. Muito.

    Muito falado nas redes sociais (em especial no Twitter) até por alguns especialistas da matéria tinha sido o declínio do Quénia nas Maratonas, especialmente depois do que aconteceu na Gold Coast nos Jogos da Commonwealth (0 atletas nos dois pódios) e na Maratona de Boston (apenas 1 atleta nos pódios). O Quénia terminou aqui com duas vitórias – Kipchoge no masculino e Cheruiyot no feminino – e mais uma medalha de Prata na prova feminina para Brigid Kosgei em novo recorde pessoal (ela que correu 3 Maratonas em 6 meses…). Nos Jogos da Commonwealth, a equipa queniana, claramente de segunda linha, foi ainda fustigada pelo calor intenso da Gold Coast, factores que ajudam a explicar o que aconteceu. Em Boston, Geoffrey Kirui e Edna Kiplagat eram favoritos e candidatos a defender os seus títulos, mas as condições adversas mudaram tudo o que se poderia esperar da prova, tornando-a totalmente imprevisível. Em Londres, tudo voltou ao normal. E se é verdade que existem novos actores a considerar no panorama da distância, a verdade é que no top 10 masculino, o Quénia colocou 5 homens e no top 10 feminino colocou 4 mulheres.

    O início da prova masculina
    Fonte: Virgin Money London Marathon

    Como jeito de conclusão, deixem-me referir que esta Maratona pode assim ser o ponto de viragem para muitos dos atletas presentes na mesma, dadas as marcas obtidas. Ainda assim, sendo a Maratona uma prova com enorme imprevisibilidade, como já referido, o que hoje é verdade pode mudar significativamente na próxima grande prova. Os limites humanos, esses, continuarão a ser postos à prova.

    Foto de Capa: IAAF

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    Pedro Pires
    Pedro Pireshttp://www.bolanarede.pt
    O Pedro é um amante de desporto em geral, passando muito do seu tempo observando desportos tão variados, como futebol, ténis, basquetebol ou desportos de combate. É no entanto no Atletismo que tem a sua paixão maior, muito devido ao facto de ser um desporto bastante simples na aparência, mas bastante complexo na busca pela perfeição, sendo que um milésimo de segundo ou um centimetro faz toda a diferença no final. É administador da página Planeta do Atletismo, que tem como principal objectivo dar a conhecer mais do Atletismo Mundial a todos os seus fãs de língua portuguesa e, principalmente, cativar mais adeptos para a modalidade.                                                                                                                                                 O Pedro escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.