CAPÍTULO 4: DESILUSÃO E DIVERGÊNCIAS
Por incrível que pareça, os Magic voltaram mais fortes em 1995-96. Com o mesmo núcleo, venceram 60 jogos, Shaq disputou o seu 4º All-Star Game na sua 4ª temporada, acompanhado por Penny, naquela que foi a sua 2ª aparição em 3 temporadas.
Orlando terminou como segundo colocado da Conferência Este. Nos playoffs, destruíram Detroit na primeira ronda e venceram os Hawks em 5 jogos. Nas finais da Conferência, iriam encontrara um inimigo familiar: MJ e os Bulls.
Após a dura derrota do ano passado contra Orlando, os Bulls recuperaram de forma convincente ao quebrarem o recorde de vitórias da NBA, 73-9. Jordan ganhou o prémio de MVP, e Chicago era outra vez o conjunto a ser abatido.
Mais uma vez, Shaq e Penny jogaram bem. O’Neal teve uma média de 27 pontos, 11 ressaltos e 4 assistências, enquanto Hardaway ajudou com 26 pontos, 4 ressaltos e 5 assistências. Mas, à semelhança da final perdida para Houston, Scott e Anderson tiveram dificuldades, com um aproveitamento de lançamento de 27% e 31% respetivamente.
Consequentemente, os Magic não se revelaram páreos para os Bulls de Michael Jordan, que venceram a série por 4-0 e, pouco depois, o seu quarto de seis títulos da NBA entre 1991 e 1998.
Com a temporada a terminar abruptamente, todos os olhos se voltaram para o verão e a free agency de Shaquille O’Neal. No final da época, o contrato de O’Neal com os Orlando Magic chegou ao fim e, assim, tornou-se um jogador livre. Como tal, o gigante poderia assinar com qualquer outra organização da liga, caso assim desejasse.
Todas as conversas entre Shaq e Orlando foram centradas em torno da renovaçãodo pivot. Contanto que os Magic oferecessem dinheiro suficiente, era óbvio que o “Big Diesel” ficasse em Orlando durante mais algum tempo.
Mas, em vez disso, Orlando ofereceu a Shaq um contrato de 4 anos e 54 milhões de dólares, menos do que Alonzo Mourning e Juwan Howard haviam acabado de receber, por exemplo. Quando O’Neal se mostrou insultado pela oferta, os Magic defenderam-se “criticando as capacidades de ressalto e a defesa de Shaq”, de acordo com Joel Corry, consultor que trabalhava com o agente de Shaq na época.
Outras questões que contribuíram para a saída de O’Neal dos Magic envolviam Penny Hardaway, com quem, dentro de campo, havia estabelecido uma boa relação. Na sua autobiografia, “Shaq Uncut”, O’Neal afirmou ter descoberto que Hardaway se considerava o líder da equipa e, por isso, não admitia que Shaq recebesse um salário superior ao seu, o que impediu os responsáveis da franquia de rever o seu contrato.
Para piorar ainda mais a situação, Shaq tinha tido alguns problemas com o treinador Brian Hill. O jornal local “Orlando Sentinel” publicou um questionário no qual perguntava aos seus leitores se a direção da organização deveria demitir Hill, caso isso ajudasse a manter O’Neal nos Magic. 82% dos votantes responderam “não”.
O questionário ainda perguntava: “Shaq vale 115 milhões de dólares?”, em referência ao valor do contrato oferecido pela franquia para que o pivot permanecesse. 91.3% das respostas, novamente, eram “não”.
Face às divergências cada vez mais acentuadas, o desfecho parecia inevitável. A 18 julho de 1996, O’Neal assinou um contrato de sete anos com os Los Angeles Lakers, avaliado em 120 milhões de dólares. Um dos atletas mais imponentes de toda a liga juntava-se assim à organização mais conceituada da modalidade.
“Em retrospetiva, foi talvez a maior contratação de um jogador livre de todos os tempos. Em qualquer desporto. Nunca a decisão de um agente livre destruiu de forma tão definitiva uma potencial dinastia [Magic], ao mesmo tempo que fez renascer outra [Lakers], e nem isso basta para descrever o impacto deste negócio. No dia em que Shaq foi para Los Angeles, todo o panorama da NBA foi alterado de uma forma que é sentida até os tempos atuais”, afirmou Joel Corry anos depois.
Em Los Angeles, o “super-homem” da NBA encontraria uma promessa de 18 anos, prestes a despontar. O seu nome: Kobe Bryant. E o resto, como se diz, é história.
Foto de Capa: NBA