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A bicicleta enquanto símbolo de emancipação: A história de Oceana Zarco

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“A bicicleta para mim, era tudo”, uma das frases mais icónicas de Oceana Zarco, a primeira mulher a tornar-se ciclista federada, em Portugal.

Oceana nasceu a 12 de abril 1911 em Setúbal, mais concretamente em Santa Maria da Graça e apesar de ter uma carreira curta, conseguiu tornar-se uma pioneira do ciclismo feminino português, ao tornar-se a primeira mulher ciclista federada. Proveniente de uma família de classe média, Oceana Zarco sempre foi apoiada pela família na perseguição dos seus sonhos velocipédicos ao invés de ser incentivada a dedicar-se à vida doméstica.

O amor pelas bicicletas foi fomentado por João Duarte, padrasto de Zarco, dono de uma loja e oficina de bicicletas, que ensinou Oceana a andar de bicicleta. Começou a desafiar normas logo a partir dos 7 anos, quando começou a ir para a escola de bicicleta, um comportamento simples, mas que não era comum nas raparigas portuguesas das primeiras décadas do século XX.

O seu treinador? Arthur John, que levou o Vitória de Setúbal à conquista do Campeonato de Lisboa de futebol, na época 23-24 e que também viria a treinar Benfica e Sporting. A parceria começou cedo a dar frutos com Oceana Zarco a alcançar vitórias ainda antes de se tornar federada e dar o salto para o profissionalismo.

Começou a participar em corridas aos 10 anos pelo Vitória Futebol Clube, instituição que nunca deixou de representar enquanto atleta. 4 anos depois, em 1925, Oceana Zarco tornava-se na primeira portuguesa  a ser uma ciclista federada. Tal como Alfonsina Strada, pioneira do ciclismo feminino em Itália, Oceana teve de competir no meio do pelotão masculino.  O visual de Oceana Zarco foi um dos aspetos mais icónicos da ciclista.

Numa época em que os próprios médicos desaconselhavam as mulheres a andar de bicicleta, sob a justificação de que podia “causar esterilidade feminina”, a bicicleta de Oceana Zarco em nada diferia das dos colegas de profissão. Rui Salas, antigo Vice-Presidente do Vitória de Setúbal, realçou numa sessão organizada pela Câmara Municipal setubalense, em 2016, que  “A Oceana treinou com homens, ouviu muitos piropos, ganhou quase todos os prémios e foi a primeira mulher que vestiu calções e camisola como os ciclistas”. Camisola de manga curta, calções, o principal aspeto distintivo do equipamento de Oceana Zarco eram as faixas verdes e brancas, bem como o símbolo do Vitória Futebol Clube.

Oceana estreou-se como profissional a 15 de novembro de 1925, na 2ª edição da Volta a Lisboa, prova que iria conquistar no ano seguinte. Também levantou os braços na Cidade Invicta, ao vencer a 1ª edição da Volta ao Porto e fechou a carreira com chave de ouro ao ganhar em casa, na I Volta a Setúbal (1929) que, segundo o livro “Setúbal no Centro do Mundo” percorreu o seguinte circuito:

Salão Recreio do Povo — Praias do Sado — Estação de Palmela — Baixa de Palmela — Rio de Figueira — Salão Recreio do Povo

Para além de Oceana Zarco, a 1ª edição da Volta a Setúbal contou com mais três mulheres no pelotão. Oceana acabou por se ver forçada a abandonar o ciclismo nesse ano. Não é claro se o fim da carreira foi motivado por questões de saúde ou por restrições financeiras, com várias fontes a apontar para cada situação, mas o que é certo é que Oceana passaria a trabalhar como enfermeira, profissão que exerceu durante 30 anos.

Foi uma personalidade reconhecida ao longo da sua vida, nomeadamente com uma homenagem em 1991 pelo Movimento Democrático de Mulheres (MDM) devido ao papel exercido pela ex-ciclista na emancipação feminina. Em 2005, Oceana Zarco recebeu uma homenagem conjunta da Câmara Municipal de Setúbal, da Associação de Ciclismo do Distrito de Setúbal, pela Federação Portuguesa de Ciclismo e pelo Vitória de Setúbal, em honra dos seus feitos desportivo e impacto social. Em 2016, Regina Marques, elemento da direção nacional do MDM, afirmou, em relação a Oceana Zarco, que “a bicicleta era um símbolo de emancipação porque proporcionou liberdade de movimento e de deslocação”. Oceana Zarco faleceu na mesma freguesia que a viu nascer, a 11 de janeiro de 2008. Tinha 96 anos. A Câmara de Setúbal voltou a homenagear a ciclista um ano depois, ao colocar uma placa na sepultura da antiga ciclista, onde se pode ler “Homenagem de todos os setubalenses à Glória do Ciclismo Feminino Português, orgulho do Desporto Setubalense”. Em 2013, nascia a Rua Oceana Zarco, em Santa Maria da Graça.

Filipe Pereira
Filipe Pereira
Licenciado em Ciências da Comunicação na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, o Filipe é apaixonado por política e desporto. Completamente cativado por ciclismo e wrestling, não perde a hipótese de acompanhar outras modalidades e de conhecer as histórias menos convencionais. Escreve com acordo ortográfico.

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